Parque Hopi Hari mescla diversão e magia, ao deixar no passado as dificuldades administrativas e financeiras e projeta o futuro, com a promessa de atrações inusitadas e radicais.
por Cecília Fazzini – (texto) e Paulo Atzingen (Entrevista)*
Nessa entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO TURISMO, Alexandre Rodrigues, presidente do Hopi Hari, conta dos novos projetos, do interesse de investidores estrangeiros e remodela o conceito de receber o público. Segundo ele, horror só na máster atração que acaba de entrar em cartaz no parque: ‘ Hora do Horror’, que contribui para animar a meta de crescimento de 30% na visitação este ano.
DIÁRIO – No papel de empreendedores que têm sempre à frente a previsibilidade, quais as estimativas de investimento para os próximos anos?
ALEXANDRE: Até por obrigação, conforme o plano de recuperação que aprovamos em fevereiro de 2022, realizar investimentos é algo compulsório. Diante desse imperativo, aportes de recursos já constam do nosso planejamento. Conseguimos reestruturar o empreendimento, além de um retrofit em todas as atrações, melhorando e ampliando as mesmas. A atração, a Torre, é um exemplo do aprimoramento que consta de nossos planos. Ainda não conseguimos avançar, o que é a nossa intenção, por conta do orçamento do fabricante e alguns complicadores na esfera desse fornecedor. E mais: esse orçamento tem que ser submetido ao Ministério Público, para aprovação e, só depois, evoluirmos tecnicamente com a atração. Este ano ainda vamos viabilizar o funcionamento de três pequenas atrações. Para 2024 está previsto um retrofit e novas melhorias, incluindo atrações já existentes, além do propósito de trazer uma atração de médio a grande porte para o parque.
DIÁRIO: É possível especificar qual será essa nova atração?
ALEXANDRE: As atrações existentes sim. A começar pelo Castelo de Lendas, a meta é fazer mudança geral lá, uma modernização mesmo. Na sequência, nossas atenções estarão voltadas para a Montezum – a montanha-russa de madeira, que está sendo alvo de melhorias, no entanto trata-se de trabalho de médio a longo prazo. Como estamos falando de projetos, envolvem exatamente médio e longo prazos. Essas atrações estão no nosso radar, incluindo, como já pontuado, a própria Torre. As atrações que são absolutamente novas, preferimos não descrever ainda, porque se encontram em fase de negociação com os fabricantes. O que se pode adiantar é que será uma atração de médio a grande porte e mais radical.
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Investimento internacional
DIÁRIO – Havia a previsão de uma recente reunião dessa diretoria com um investidor internacional. Há boas novas a serem anunciadas, poderia adiantar o teor dessas conversas?
ALEXANDRE: Na verdade, essas reuniões são frequentes. Isso vem ocorrendo depois que aprovamos o plano e o Hopi Hari voltou a aparecer no mercado. O Hopi Hari sempre foi um parque de repercussão, de muita visibilidade. Erros cometidos pelas administrações anteriores fizeram com que o empreendimento perdesse força. Mas agora, graças a Deus, o Hopi Hari voltou de novo a receber tratamento muito positivo por parte da mídia. Então, essas reuniões acabam sendo recorrentes. Só nesse ano foram cerca de sete reuniões com empresas americanas e também conversas com uma empresa chinesa, interessada em entrar no parque, de alguma forma. O interesse desses investidores vai desde a aquisição, com planos de inovar e diversificar as atrações do parque, e diversos outros projetos. Há, ainda, um plano de timeshare, por parte de um fundo americano, que visa implantar esse modelo de hospedagem no parque. São diversos os formatos de investimento, desde a construção de hotéis, adocação de modelo de timeshare, ampliação do parque, o que prova que hoje há expressiva visibilidade do empreendimento no mercado exterior.
Localização privilegiada e planos de migrar de atração para destino turístico
Mas agora, graças a Deus, o Hopi Hari voltou de novo a receber tratamento muito positivo por parte da mídia.
DIÁRIO – A proximidade com grandes metrópoles como São Paulo e Campinas é um tremendo diferencial. Como a sua gestão avalia esse tipo de vantagem?
ALEXANDRE: Total diferencial. Por não ser um destino, já que somos uma passagem, você tem aí, num raio de 100 Km, mais ou menos, 20 milhões de pessoas. Mas, estamos avançando e o objetivo não é atuar só nesse nicho. Nosso olhar se volta também para a necessidade de transformar o Hopi Hari em destino turístico, de forma a atrair um público mais distante, como o do Nordeste, e dos outros estados do País, que venha ao parque e conte com formas de permanecer aqui. E isso é fundamental, a construção de uma rede de hotelaria, de contratação de serviços, o que implica numa considerável ampliação de nossas atividades. Existe um fator que favorece essa projeção, porque hoje o empreendimento está dentro de um Distrito Turístico (Serra Azul). Um conjunto que une os municípios de Louveira, Itupeva, Jundiaí e Vinhedo, o que atualmente nos permite alcançar todo o potencial hoteleiro dessas quatro cidades. Já conversamos com as pessoas e vamos construir também aqui hotéis para atender esse público que vem de fora. E manter, claro, esses mais de 20 milhões de pessoas oriundas de localidades que se situam no raio de 100 Km do empreendimento.
Na encruzilhada da tecnologia adequada ao segmento
DIÁRIO – O mundo digital tomou conta e se tornou canal relevante er captar pessoas, principalmente no mercado de lazer. Como vocês trabalham e potencializam a tecnologia para angariar mais visitantes?
ALEXANDRE: Uma boa pergunta. Quando se faz esse questionamento, tem que ter em mente duas coisas: uma: “o que é empregar a tecnologia num parque de diversão aberto, parque temático como o Hopi Hari. Se instalar jogos eletrônicos, não vai atrair ninguém, porque esse recurso as crianças já têm em casa. Então, a missão é atrair as crianças para o universo de um parque aberto. Por exemplo, um atrativo próximo, em Vinhedo, o “Parque da Cidade: O mundo das crianças”, que proporciona experiência totalmente interessante e interativa, porque não oferece nenhuma atração mecânica. São árvores, troncos de árvores que caíram com o tempo, que eles mantêm lá e as crianças usam a criatividade para brincar, e isso é você propor algo que ativa a criatividade. Assim, quando temos diante de nós um parque temático como Hopi Hari, se a opção for avançar muito para o mundo dos jogos eletrônicos, vai perder esse público. Por outro lado, quando você pensa em simuladores, daí se torna uma experiência mais atraente, a partir e uma experiência tecnológica, mas com ação, com aventura. Esse formato de uso da tecnologia é bem-vindo e estamos buscando parceiros e atrações. Já adianto que esta é uma das possibilidades de investimento de longo prazo que nós vamos viabilizar, uma atração de grande porte que já está nos planos.
DIÁRIO – Falando um pouco de números. Conforme consta, no ano passado o Hopi Hari cresceu 25% em taxas de visitação, chegando à quase 1 milhão de frequentadores/ano. Como é que você avalia esse resultado, qual a sua perspectiva para 2023, agora no início do segundo semestre, já próximo ao final do exercício?
ALEXANDRE: A projeção inicial é de 30% de crescimento sobre 2022. Com todas as dificuldades, não conseguimos alcançar esse percentual ainda. Mas agora vamos apostar firme no maior evento do Hopi Hari, o maior da América Latina do gênero horror, que é a ‘Hora do Horror’. A ideia é explorar muito essa atração tentar expandir os números. A expectativa é bater a nossa projeção de aumento de 30%. Mas vai ficar na casa de 20% a 30%, com certeza.
DIÁRIO – E em números reais de público, o parque chega aos 900 mil visitantes este ano?
ALEXANDRE: Ultrapassa. A nossa meta era 1 milhão e 200 pessoas, vamos receber mais ou menos 1 milhão com facilidade.
O desafio e os gargalos da capacitação da mão de obra
DIÁRIO – Se fala muito da falta de preparo da mão de-obra nacional brasileira. Como é esse processo de contratação e recrutamento de pessoal no Hopi Hari?
ALEXANDRE: Esse é um gargalo sobre o qual se tem conversado com os demais presidentes de parques. Nossa, o Baldacci (Alain Baldacci, presidente do Conselho Gestor do Distrito Serra Azul) também é meu vizinho, um grande parceiro. O próprio Beto Carrero, na pessoa do Alex do Beto Carrero, o Murilo, do Beach Park ou o Marcelo, do Parque da Mônica, uma boa troca de experiências. A mão de obra capacitada é um gargalo de forma geral. Porque a responsabilidade, a dedicação das pessoas é uma quando você está falando de uma remuneração maior, uma recompensa financeira onde você cobra das pessoas esse comprometimento. Quando você se refere a R$ 2.000, R$ 3.000, um salário bom do mercado hoje, contudo as pessoas conseguem navegar para outras funções de forma muito rápida a situação não é tão elementar para ser contornada. E o trabalho no final de semana, por exemplo, é complicado de ser administrado. Quando citamos um parque que atende por média/dia 5 mil pessoas, essas pessoas que compõem a estrutura de efetivo no parque tem que ter uma preparação psicológica muito boa. Nesse aspecto, temos um diferencial de outras empresas.
DIÁRIO – Qual é?
ALEXANDRE: Conto com suporte de terapeutas, hoje, profissionais dedicados exclusivamente para que o Recursos Humanos trabalhe com o pessoal. Além do conjunto de benefícios oferecidos, outro diferencial. Temos o Dia do Funcionário, ocasião em que o parque trata os líderes, chefes e funcionários em geral como visitante. Forma de fazer com que eles se sintam mais à vontade. Isso é a solução? Não, não é a solução. Infelizmente. Hoje o parque tem o GPTW (Great Place to Work), o selo de qualidade de empregador e de qualidade, que é atribuído às melhores empresas do mundo para se trabalhar, mediante uma auditoria externa que mede essa qualidade. Passamos por auditoria interna, durante alguns meses, e conseguimos pontuar o suficiente para receber esse selo. Portanto, estamos entre uma das melhores empresas para se trabalhar no mundo. Mas, mesmo assim, ainda tem muito para remar. O fato é de que não há fórmula mágica que faça sucesso, é um processo de médio a longo prazo. Você não consegue virar essa chave de uma hora para a outra. É difícil.
DIÁRIO – Esse quadro está relacionado à economia? Tem a ver com política?
ALEXANDRE: Exatamente. Os parques de diversões querem se afasta da questão política, porque é uma bandeira que não precisam carregar, porque aqui a gente procura dar diversão e não gerar conflito.
DIÁRIO – Esse tipo de empreendimento é outro nível nesse sentido?
ALEXANDRE: É, a gente tem que proporcionar magia para o visitante e não preocupação. Quando eles entram no nosso território, eu tenho que transformá-los, né? É preciso tornar a todos crianças novamente e apresentar o mundo mágico para eles, de nenhuma forma reforçar questões negativas da economia ou da política, porque isso já faz parte da rotina diária deles fora do parque.
DIÁRIO – Os parques nacionais, atualmente, se equiparam em segurança, tecnologia e inovação aos parques internacionais?
ALEXANDRE: Os parques internacionais estão muito à frente dos parques aqui. Eu acho que o parque mais próximo hoje, em termos de tecnologia, é o Beto Carrero. O Hopi Hari ficou muito tempo adormecido envolto em seus problemas. Estamos tentando recuperar agora, mas o Beto Carrero é um excelente parque. O Alexandre Murá, o meu xará, o Alex é fantástico, uma pessoa admirável. Um empreendedor que não deixou a peteca cair. Desde a fundação a cargo do seu pai e tudo mais, ele sempre estava lá, valorizando o parque e não deixou os investimentos de lado. Os demais parques têm ainda que correr bastante para alcançar a Disney, imagina, a Universal, que empregam uma tecnologia muito à frente.
Se você vai no parque hoje, seja o Beto Carrero, seja o Hopi Hari, você tem uma magia, muito, digamos assim, não é “nutella”. Aquela magia mais raiz, que as pessoas vêem e entendem
Se você vai no parque hoje, seja o Beto Carrero, seja o Hopi Hari, você tem uma magia, muito, digamos assim, não é “nutella”. Aquela magia mais raiz, que as pessoas vêem e entendem. E sem contar o custo de você viver essa magia. É muito mais barato visitar o Hopi Hari do que ir à Disney. Quanto à segurança, é uma coisa intrínseca ao próprio segmento. O parque hoje que não pensa e prioriza segurança, seja ela qual for, em suas atrações, nos visitantes, tá fora do mercado.
*Agradecimentos à assessoria de imprensa do Hopi Hari