O segundo texto de Thomas Bruno Oliveira é uma narrativa sobre a beleza árida do Cariri
Por Thomas Bruno Oliveira
Meu Mundo-Sertão tá lindo! Quente, vigoroso, encantador… ainda conserva um tantinho de verde entre seus galhos acatingados, oriundos das últimas chuvas que banharam estas terras. É um prazer sempre adentrar àquela geografia misteriosa povoada de serras e montanhas com seus abismos e penhascos d’onde se escuta o uivar da poeira dos tempos. Ah Cariri do meu agrado, do meu encanto, terra venturosa, desafiadora, cheia de sortilégios.
Segui em busca de seus caminhos na sexta-feira passada (10/08), na virada do sol pude acompanhá-lo, indo cada vez mais a oeste, contemplando o cabedal proporcionado pela mãe natureza. Saí de Campina Grande com avidez de me livrar da companhia de todos aqueles carros barulhentos, desejoso de me encontrar com a mãe natureza e para ter menos companhia não fui pela BR 230, descendo a boca do Cariri, ali enfrentaria trânsito até a Praça do Meio do Mundo. Troquei ver São José da Mata por um trânsito mais solitário, que pudesse proporcionar mais relaxamento e menos atenção ao volante. Rumei pela PB 138, recém pavimentada, passei pelo Instituto Nacional do Semiárido e pensei o quanto Campina é enxerida, mil e tantos municípios formam o semiárido e o INSA foi instalado logo aqui.
Desta Rodovia, admirava os contornos das Serras de Bodopitá, de Caturité e o morro Bodocongó, todos a esquerda. Pouco mais a frente, a oeste, se via a Serra de Carnoió, gigantesca, sedutora; será que é pelo fato de ser banhada pelo açude de Boqueirão, vê se pode? Na recente pavimentação e sinalização, o DER cometeu um equívoco e denominou o riacho Logradouro de riacho Ponta Fina. Pois bem, nenhum morador da região conhece esse nome, merece a reparação. Ele fica no km 10. Catolé de Boa Vista estava ali, bucólica, pouca movimentação; num sol daqueles, quem tinha juízo se abrigara. Pude apreciar um camaleão atravessando a estrada; devagar ia contemplando o ambiente, quando vi o réptil parei; seus olhos perdidos pareciam procurar um rumo, seu verde cintilava no escuro do asfalto, quanta beleza! O espantei para logo atravessar e não ser atropelado por algum desavisado, a mesma sorte não teve uma raposa que metros à frente foi atingida por um veículo e, com a boca cheia de sangue, já estava envolta de urubus espertos e famintos.
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Meu olhar percorria o horizonte, lembrei da Cruz do Gavião, informação que devo ao amigo Marco di Aurélio, e cheguei a BR 412 já nas fraldas de Boa Vista, a quem espiei da estrada. Cruzes e pequenas capelas na “beira-da-estrada” testemunhavam o lamento da partida de almas assim como demonstra um catolicismo rural, interiorano, caririzeiro, sertanejo, denominado pelo amigo Padre João Rietveld de catolicismo moreno, com suas próprias práticas, cruzes enfeitadas, muda homenagem.
Muralha do Meio do Mundo
A imponência de afloramentos rochosos na margem direita da rodovia atesta o título dado aquela formação: Muralha do Meio do Mundo. Acreditam alguns que ela surge depois da Praça de mesmo nome e segue aparecendo e se ocultando pelos sertões a dentro. Certo mesmo é que a região a partir da zona rural de São João do Cariri é repleta de formações rochosas que mais parecem muros, são de diversas alturas e em alguns deles encontramos vestígios ancestrais pintados com tinta que resiste aos milênios, testemunhos de populações extintas.
Na estrada começo a subir e ao longe vejo uma frondosa árvore no acostamento, é a craibeira do amigo Daniel Duarte, tão próxima da faixa direita da rodovia, só existe por conta desse engenheiro agrônomo que intercedeu junto ao DNIT a sua permanência. A craibeira é uma sentinela que espia a Serra do Jatobá – a Serra Branca – somente a partir dali aquele gigante branco se faz visível aos viajantes, seu destaque é tamanho na circunscrição daquela paisagem que emprestou seu nome ao município que nasceu em seus pés, Serra Branca. Mas o que fui fazer lá? Ah, isso é motivo para outra crônica, o que sei é que o andar pelo Cariri é gostoso demais…