Com a atenção em 360º, Antonietta Varlese, SVP de Sustentabilidade e Comunicação da Accor Américas na Divisão Premium, Midscale & Economy orquestra metas e avalia as perspectivas que visam alinhar o Brasil e os demais mercados da Região com o propósito global da rede. Nesta entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO TURISMO, a executiva fala de avanços e decifra o dia-a-dia nos hotéis da marca, a fim de cumprirem protocolos e adotarem boas práticas de ESG.
Por: Cecília Fazzini, com EDIÇÃO DO DIÁRIO
O pioneirismo da Accor na hotelaria responsável, conforme o que se extrai da fala de Antonietta Varlese, resulta de um conjunto de medidas e gestão pontual à frente de questões ambiental e social. Ela classifica três pilares estratégicos que norteiam a tomada de decisão para consolidar o conceito de ESG nos hotéis da marca: estadia, alimentação e realizações voltadas para a comunidade e áreas do entorno onde estão situados os empreendimentos.
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A evolução é acompanhada de perto, conforme a executiva, desde o start do departamento de sustentabilidade da Accor, em 1994, pela relevância que essa diretriz ganhou. De relatórios ambientais, no início dos controles ao destaque nos resultados hoje, a mudança nos demonstrativos. “Os dados não financeiros – de ESG – tem o mesmo peso que as informações financeiras”, explica Varlese. O panorama é ditado pela nova regulamentação da União Europeia – CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive), ao prever que empresas do bloco ou subsidiárias especifiquem o quanto suas ações ambientais, sociais e de governança influenciam em seus negócios.
O nível de detalhe, de acordo com ela, está explicitado em “informes sobre como se dá internamente a questão dos direitos humanos, como tratamos as pessoas e muito o aspecto ambiental, em conformidade com o Protocolo de Paris, de 2015, especificamente sobre o tema do aquecimento global, que inquieta a todos”.
“Os dados não financeiros – de ESG – tem o mesmo peso que as informações financeiras”, Antonietta Varlese, SVP de Sustentabilidade e Comunicação da Accor Américas na Divisão Premium, Midscale & Economy
Compromisso com a Ciência
Varlese reafirma o compromisso da Accor em se manter na vanguarda de basear seus dados de ESG na Ciência, nada do que se mensura, segundo assinala, é aleatório. Essa desejável transparência alcança a meta de redução na pegada de carbono de 46% até 2030, o que corresponde a 7 milhões de toneladas no âmbito global, sendo que as Américas respondem por 3% desse volume. E, até 2050, zerar totalmente as emissões.
Para aumentar a eficiência na gestão da sustentabilidade, a Accor conta com a tecnologia como aliada. Desde o início deste ano, o software GAIA 2.0, consolida as ações e mensura as emissões de gases de efeito estufa, além do consumo de energia, gás e água (informados nos extratos mensais), sinaliza desperdício de alimentos, resíduos, nível de utilização de artigos de plástico descartáveis nas dependências dos hotéis, além de inventariar outros itens. “E é uma ferramenta que vai evoluindo à medida em que a necessidade de dados aumenta”, relaciona Varlese. A captação de dados se tornou uma tarefa muito mais séria, para assegurar maior assertividade no que vai ser transmitido.
“A gestão ambiental conta com ajuda da tecnologia capaz de mensurar emissões de gases de efeito estufa, consumo de energia e desperdício de alimentos”, Antonietta Varlese – SVP de Sustentabilidade e Comunicação da Accor Américas na Divisão Premium, Midscale & Economy
Capacitação de colaboradores e bônus
A SVP de Sustentabilidade e Comunicação também cita a capacitação como via para difundir os conceitos. Colaboradores e gerentes de hotéis Accor participaram do programa global de treinamento School for Change, em 6 módulos. As metas de ESG dizem respeito, indistintamente, a todos os quadros da empresa, que selam a participação conjunta nos objetivos a serem atingidos. Varlese lembra que esse compromisso está atrelado à performance de cada funcionário, referendada no bônus individual a ser recebido por ele.
Grau de maturidade dos países
Se o uso intensivo de energia verde no Brasil tem uma característica e o México se vê às voltas com a impreterível dessalinização da água, isso prova que há especificidades nos países das Américas. Seja pelo maior uso de energias limpas e distintas realidades econômicas, ambientais, culturais e de mercado. Esse o panorama sob a responsabilidade da gestora, desde janeiro de 2023, nas divisões Premium, Midscale & Economy. Ela ressalta que as regras Accor são válidas para todas as regiões, porque a meta é global. A diferença está no grau de maturidade em ESG de cada país. O que vale dizer que a variação da pegada de carbono ocorre em função das características e desafios locais.
Normatização de consumo
Os critérios pedem um grau de imersão a ponto de saber, a propósito, como se dá a mudança na conta de energia, a reutilização e qual a solução para salvar essa energia e também o consumo de água. Os guidelines da área de Design & Technical Services da Accor sinalizam esses parâmetros no momento da construção ou reforma de hotéis pelos investidores.
“O diferencial no bloco das Américas é o grau de maturidade em ESG de cada país”, Antonietta Varlese, SVP de Sustentabilidade e Comunicação da Accor Américas na Divisão Premium, Midscale & Economy
Olhar para o grau de desperdício na alimentação é outra frente relevante da gestão de ESG na rede. Apesar de ainda elevadas, hoje cerca de 40% dos hotéis já calculam essas perdas. E aportes estão sendo feitos com retorno assegurado, compara Varlese. “Hoje um sistema de trituração elimina alimentos direto para a área de resíduos, reduzindo volume de lixo produzido”. E uma base de dados indica o que pode ser diminuído no abastecimento de gêneros, o que tem revertido em êxito na missão de minimizar prejuízos. Ainda há a oferta de comida excedente para algumas ONGs, mas esse não é o objetivo final e sim fazer com que a estrutura do hotel seja autossustentável. Depois do tema energia, a alimentação é o segundo item no compromisso Accor com a pegada de carbono.
O crivo e a aplicação de boas práticas no terreno do ESG, conforme a executiva, contam com a participação de certificadoras internacionais – Green Key e outras – que emitem a garantia de que todo o modelo operacional está em linha com os padrões globais. “A meta é uma estrutura limpa, sem resíduos”.
Homologar fornecedores
Mas como comprometer a cadeia de fornecimento com a gestão de ESG da rede? A Accor possui plataforma própria de compras, a Astore que presta serviços na intermediação também para outros hotéis. A partir dessa expertise, focada no segmento da hospitalidade, os fornecedores são auditados. “Além de produzir resultados não financeiros com as ações de sustentabilidade, é preciso atestar também com quem a empresa se relaciona. E os clientes, em sua seleção, são sensíveis à este item, em particular o hóspede corporativo, para quem esse critério é eletivo”, frisa Varlese.
Brasil bem situado, área social é destaque
“Uma excelente aceitação”. Essa é a forma que a executiva recebe o veredito de gerentes, parceiros e investidores em relação à forma como é conduzida a trajetória de ESG da Accor no Brasil. Ela considera que os hotéis no País que levam a marca são muito colaboradores no sentido de cumprirem as metas, além da grande vantagem de poder contar com boa matriz renovável, verde. A expectativa é prosseguir com a descarbonização dos hotéis com maior facilidade.
Mas a ‘menina dos olhos’ – quando o tema é o reconhecimento do que está sendo realizado no Brasil – são os programas sociais. Uma constatação que Varlese faz ao mesmo tempo em que assegura que diversidade, inclusão e equidade de gênero são conceitos vividos na prática. A acolhida em seu quadro funcional de pessoas da comunidade LGBT empresta relevância ao projeto de responsabilidade social. “Tanto as pesquisas internas que detectam aprovação da conduta corporativa, quanto a busca de emprego por profissionais, que elegem a Accor como local para trabalhar, justamente pelo ambiente plural com que se deparam”, acrescenta ela que é membro do Conselho da IGLTA – International LGBT Travel Association.
A equidade se soma ao prestígio da meta brasileira. Mais de 50% do quadro de gerentes é constituído por mulheres, que ainda são beneficiadas por projetos de valorização e priorização. O estímulo ao primeiro emprego, na rede Ibis, que é uma hotelaria mais enxuta também tem o viés social. A veia formativa da Academia Accor está relacionada ao mesmo mérito, incluindo treinamento bem- sucedido realizado com transgêneros. As iniciativas de inclusão racial e a admissão de refugiados nos hotéis prosseguem e tem resultado de forma satisfatória. Ainda no mesmo enredo está o programa “Acolhe” – realizado em parceria com o Instituto Avon – que, sob critérios, oferece hospedagem temporária nos hotéis a mulheres vulneráveis, vítimas de violência doméstica.
“Os hotéis estão prontos, retiramos todas as embalagens em plástico, constituímos cardápios à base de vegetais, e nos preparamos para esse momento”. Antonietta Varlese, SVP de Sustentabilidade e Comunicação da Accor Américas na Divisão Premium, Midscale & Economy
Preparar hotéis para a COP 25
A confirmação da cidade de Belém (PA) como sede da Conferência do Clima sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, a ser realizada de 10 a 21 de novembro de 2025, gera expectativa na hotelaria local. A Accor, conforme Varlese, se prepara para certificar – através da Green Key – os cerca de 8 hotéis na capital paraense. “Os hotéis estão prontos, retiramos todas as embalagens em plástico, constituímos cardápios à base de vegetais, e nos preparamos para esse momento”.
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*Entrevista realizada pelos jornalistas Cecília Fazzini e Paulo Atzingen durante a Equipotel, em São Paulo, sem a utilização de AI.