“Aroldo Schultz, presidente da Schultz Operadora, conversou com o DIÁRIO sobre o momento do turismo, a tecnologia no setor, as novas demandas e o destino Jalapão
POR ZAQUEU RODRIGUES (Colaboração Especial)
Nas últimas semanas você acompanhou a cobertura do DIÁRIO sobre o 5º Encontro Comercial Schultz. A edição deste ano reuniu 50 executivas e executivas de vendas Schultz e aconteceu no Jalapão (TO), destino que atrai cada vez mais turistas em busca das experiências em fervedouros, cachoeiras, dunas e cânions em uma viagem off-road pelo coração do cerrado brasileiro.
Nas matérias anteriores, apresentamos os temas abordados na programação de conteúdo, realizada na capital Palmas, e as perspectivas dos executivos após uma expedição por diferentes cidades e atrativos que compõem o Jalapão. Agora, nesta entrevista exclusiva ao DIÁRIO, o presidente do grupo Schultz, Aroldo Schultz, reflete sobre o atual momento do turismo, afirma que as crises são cíclicas, pontua a importância da tecnologia para o mercado de viagem e diz que a cultura de viagem está começando no Brasil.
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Fazer diferente
A crise é sempre muito difícil de superar, mas ela nos abre os olhos, nos ensina. Nós temos um ditado na Schultz que é assim – quando a água bate na bunda, você tem que levantar. Se não, vai se molhar. A gente precisa enfrentar a crise juntos, em equipe. Não adianta chorar, não adianta ficar reclamando. A crise nos mostra como estamos fazendo, como o mercado está fazendo, o que podemos melhorar.
A crise trouxe um represamento e agora estamos na bonança, vivendo muito bem. Mas isso é cíclico. Daqui a pouco muda.
Na crise da pandemia, o turismo parou 99%. Ninguém podia viajar. Com o passar do tempo as pessoas voltaram a fazer as reservas e hoje está bombando, está muito forte. Mas até com excesso. Além do problema do represamento e da vontade de as pessoas viajarem, muitas pessoas que ficaram doentes e perderam amigos, viram que a vida é muito curta e passaram a cuidar mais da saúde.
A crise é cíclica
E viajar é saúde. Faz bem para a mente, faz bem para o corpo. Esse turismo vem com muita força. E o fato de ter vindo com muita força acabou aumentando demais os preços. Inclusive, muitos parceiros começaram a achar que não precisam mais de seus parceiros. Eles esquecem que a crise é cíclica. E ela vai voltar. Ela vai voltar. Quem furou a cadeia vai sentir na próxima crise. Nós, por exemplo, não apoiaremos essas empresas. As agências não vão apoiar os operadores que furaram com elas. Não vamos apoiar companhias aéreas que fizeram sacanagem com outras empresas.
E a crise virá novamente. Qual será a próxima eu não sei. Mas pode escrever – virá uma nova crise logo logo. Se renovar, se preparar é o que podemos fazer.
Mapa do turismo
O mundo mudou geopoliticamente. Muita gente viajava para a China, Japão, Rússia. E hoje não podem viajar mais. Agora que abriu. Esse mercado está ainda recomeçando. Muitas pessoas centraram suas viagens mais para a Europa Ocidental. A Europa está explodindo. Está com setembro e outubro totalmente lotados, faltando mão de obra, hospedagem, faltando tudo. Vários países, como os da Europa, acabaram concentrando mais o turismo.
Hoje, 90% do turismo está concentrado na Europa Ocidental. Isso não é bom. Isso é ruim, pois o turista que está viajando para a Europa está voltando reclamando – reclamando dos hotéis, dos serviços, reclamando de preços… e isso também tira o prazer do turista novo, que está começando a viajar agora. Ele poderia estar fazendo uma viagem e tendo uma experiência muito melhor.
Viajar é saúde
Após a pandemia, o turista começou a prestar muito mais atenção em suas viagens não só como um luxo, e sim como um tratamento. As pessoas precisam viajar, as pessoas precisam se divertir, precisam aprender. Viajar é cultura, viajar é relacionamento, viajar é saúde. As pessoas repensaram as viagens. Viajar não é luxo. Uma viagem pode ser simples. Não precisa ser em um resort. Pode ser em algo melhor. O importante é viajar. Temos que viajar.
O agente de viagem
Após a pandemia, muita gente começou a prestar mais atenção nas viagens online e a valorizar o agente de viagem – o bom agente de viagem. Comprar online é fácil, mas quando dá problema, o turista não tem a quem recorrer. Nesse momento o turista lembra do agente de viagem. Os bons agentes de viagens resolvem problemas imensos. E os viajantes valorizam cada vez mais esse profissional. Ao contrário do que se pensava – de que os agentes de viagens iriam diminuir -, estão aumentando.
Digital
O mundo está digital. A mídia digital precisa ter uma leitura fácil e acessível. Muitas mídias ainda fazem um site pensando que todo mundo consome conteúdo pelo computador. E não. É pelo celular, pelo tablet. 90%consome informação pelo celular. É uma adaptação. Logo todo mundo estará adaptado. Não tem muito caminho. É digital. Tem que ser digital.
O digital no turismo ainda está muito falho. Falta muito. Muitas agências não trabalham com tecnologia. Muitas tecnologias que temos no mercado de turismo são ultrapassadas. Quando temos uma tecnologia exponencial, a primeira coisa que vem na cabeça desses empresários é quebrar a rede de parceiros.
Eu não vejo a tecnologia para excluir os parceiros. Eu a vejo para agregar, como é o caso da Meu Anúncio Web, nova empresa que lançamos no mês passado. É uma empresa de marketing digital focada nas empresas Schultz e outras empresas também. É uma empresa focada em mídia digital.
Turismo doméstico
O brasileiro está começando aprender a viajar. A cultura de viagem está começando no Brasil. Temos que olhar para as riquezas do nosso país. Às vezes você vai pra Roma, África… Vá para o Jalapão, vá para a Amazônia, vá para Alter do Chão, vá para Camboriú… tem tanta coisa linda neste país.
O grande problema de o brasileiro viajar dentro do Brasil é o custo. Às vezes, uma viagem para o exterior é mais barata do que uma viagem dentro do Brasil. Tem hora que pesa no bolso do turista.
E nós temos algumas limitações. Não temos, por exemplo, a mesma qualidade de serviços que se encontra em alguns destinos da África. Aqui é difícil. Quando temos esse serviço, o preço é um absurdo.
Mas o Brasil tem muita coisa a ser vista. E os turistas começam a prestar mais atenção no Brasil. E também mais empresas começam a empreender e criar roteiros turísticos, como a 100 Limites Expedições, que se especializou em Jalapão.
O Jalapão é pra todos
Juntos, desenvolvemos os roteiros e desmistificamos essa história de o Jalapão ser exótico. O destino não tem nada de exótico. É um roteiro limpo. Turismo de natureza, andar descalço não é exótico. Exótico é você ir para a lua. Isso é exótico.
O Jalapão é destino para toda a família. Incentivamos que pessoas da melhor idade venham, que crianças venham. É um destino para todos os grupos. As pousadas não são de luxo, mas são pousadas limpas, com ar-condicionado, com comidinha caseira.
O Jalapão não é um destino para amadores. Tudo precisa ser muito bem planejado. O Jalapão foi feito para quebrar carros. A estrada tem muito buraco, muita areia. Então é preciso estar preparado, com veículos preparados. Nós temos veículos com adaptações que ninguém mais tem. Esses carros são preparados para o Jalapão. Não se pode arriscar e ir com qualquer profissional.
O Jalapão é um destino que agrega a rusticidade de uma viagem off-road, a flora, a fauna, a gastronomia local e momentos de paz e contemplação. Os celulares quase não funcionam – apenas nas pousadas, via satélite. Os fervedouros são uma dádiva que Deus colocou aqui. Eles só existem aqui.
Araras azuis
Viajar ao Jalapão fora de temporada é a melhor opção. Todo turista tem que saber que não se viaja no feriado. Viaja no feriado apenas quando não se tem opção. Então, vir aqui fora da alta de temporada é a melhor coisa que tem para poder ver as araras azuis, os pássaros. Há lugares que quase não conseguimos conversa por conta dos cantos dos pássaros. Tem um Jalapão para cada um. E o Jalapão precisa ser preservado, com um turismo sustentável que valoriza as comunidades locais.
Tratam o turismo como cabide de emprego
É uma vergonha como o turismo é tão destratado pelo ponto de vista político. Todo mês temos um ministro do turismo novo. Conforme o dia, troca-se o ministro. Quer fazer favor, troca o ministro. É triste. E eu falo isso de todos os governos. Tratam o turismo como cabide de emprego. Tinha que colocar um profissional do setor, um profissional capaz. Para ser ministro precisa ser capaz, não tem quer ser amigo. E tem que ter meta, e tem que ter objetivo, plano de atuação. O Brasil desrespeita muito o turismo.
O JALAPÃO EM IMAGENS
*O jornalista Zaqueu Rodrigues (DIÁRIO) viajou ao Jalapão convidado pela Schultz Operadora