As Festas Populares – por Osvaldo Alvarenga

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Agora sim, santos e sardinhas. Depois de dois anos e um livro, as festas populares estão de volta. Em Lisboa, a melhor época, longos dias, noites de verão, os arraiais em tantos becos, em quantos largos, as ruas assim de gente, é quando a cidade cheira ao pescado.

A programação está completa. Estão de volta os Tronos de Santo António, as Marchas Populares, muita música, bailaricos, caldo verde, manjericos e, claro, as sardinhas. Os santos são a própria festa. E que eles nos protejam, porque a pandemia não passou; acabamos nós, em Portugal, de passar por mais um pico de contágio. O sexto. E, seja porque toda a gente está vacinada e revacinada, porque o vírus está menos sinistro, porque, hoje, nos hospitais, há tratamentos mais eficazes, porque ninguém aguentava mais um ano sem arraiais, desta vez, insubmissos, temos os Santos Populares. As festas de junho estão de volta. Vejo tudo enfeitado com bandeirolas coloridas, a cidade fervilha e o povo está feliz.

Se digo que o povo está feliz, é porque soube pela televisão. Ouvi os entrevistados no Jornal da Noite. Pareceram-me entusiasmados. Uma senhora exemplificou, e bem, que as Marchas Populares são, para ela, como os desfiles de carnaval para os brasileiros. Gostei da comparação. Mas, talvez, ela não saiba que, no Nordeste do Brasil, no interior da Bahia então, o Carnaval não é mais importante que o São João. A festa portuguesa, muito mais a do norte – já que aqui em Lisboa é Santo António o protagonista –, em passo de quadrilha, atravessou o Atlântico, aportou em Salvador, espraiou-se pelo interior, no país todo, e lá quis ficar. Noutros cantos do Brasil, na região Sudeste com certeza, nas grandes cidades, quase todas, coitados deles que lá estão (coitados de nós que vamos perdendo a tradição), as quadrilhas são para as crianças; se forem.

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Noite dessas, da Alfama à Lapa, depois da Lúdica Música, sápido show dos amigos de Juiz de Fora, Rosana, Isabella e Gutti – ora da Maia –, em digressão por Lisboa, na rua de São Tomé, nas Portas do Sol, na Bica, na Madragoa, no Largo da Igreja, em Santos-o-Velho, passamos por uns quantos arraiais. Das sardinhas, pela hora, já quase nada. Das grelhas, na altura, quase todas apagadas, e o óleo do peixe pingado nas cinzas não atiçava o fogo, sobejava o cheiro que, aquele sim, atiçava a minha fome. Tão tarde, tão resto, não provei nada. As primeiras sardinhas do ano comi hoje, em Alcântara, ao almoço, sempre surpreendente, sempre boas (mesmo se más são boas), sempre prenúncio de verão. Sempre sabem a Lisboa.

Com a estação, depois das andorinhas, chegam os amigos. Antes foi assim, até que a pandemia embargou. Este ano voltaram o Sérgio e a Carla, a Arlete e, quase a chegar, Sô Gilmar e Denyse. Vêm em junho para as festas. A data é especial. Eu tanto falei que vêm conhecer os Santos Populares. Espero, vamos sair por aí. Vamos, se calhar, correr riscos: nos apertar nos becos e, quem sabe, no Arraial p’ra Sempre, sentar ao lado da grelha, beber sangria, comer sardinha no pão e, depois, sucumbir à fartura. Vamos atear a conversa que há muito é escrita e, de longe, só por texto, mesmo com prosa frenética, o assunto nunca se põe em dia.

Dois anos sem festas, dois anos sem os Santos Populares. As sardinhas, ano após ano, sempre chegaram; senão nos arraiais, nos restaurantes, às vezes nalguma esplanada com a grelha à calçada onde deixei curar a minha nostalgia. Neste ano eu tenho tudo: os amigos e a cidade inteira para mim. Só não espere me ver nalgum bailarico a dançar música pimba. Risco assim tão grande, esse é que eu não corro.

***

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