Pouco mais de dois meses após a Anac pôr fim, em definitivo, às operações da Voepass, a aviação regional do país encolheu ainda mais e ficou concentrada, sobretudo, nos voos da Azul Conecta.
DA REDAÇÃO com informações da Folhapress
A situação delicada da aviação regional brasileira tornou-se ainda mais evidente com o colapso da Voepass — um movimento que intensificou a dominância da Azul Conecta no segmento. Em julho deste ano, a Azul Conecta transportou apenas 5.208 passageiros, número que representa uma queda de 34,6% em relação ao volume transportado pelas empresas hoje integradas à Voepass no mesmo período do ano anterior.
Concentração e retração na aviação regional
Entre janeiro e março, a Azul Conecta suspendeu operações em 14 cidades como Campos (RJ), Mossoró (RN), Três Lagoas (MS) e Ponta Grossa (PR), em um claro reflexo da forte reestruturação causada, em parte, pelo pedido de Chapter 11 — equivalente à recuperação judicial — feito pela empresa em maio. Além disso, vem ajustando mais de 50 rotas com margens até 17 pontos percentuais abaixo da média da companhia, reduzindo frequências ou eliminando trechos pouco rentáveis.
Abaeté aviação regional e o respiro do turismo na Bahia
Apesar do cenário desafiador, há sinais de esperança: a Abaeté Aviação anunciou um reforço de sua malha para a alta temporada (dezembro 2025 a fevereiro 2026), com 460 voos e 4.140 assentos — alta de 16% em comparação à temporada anterior. A empresa, focada exclusivamente em rotas regionais, destaca o turismo em expansão na Bahia e o aumento da conectividade internacional via Salvador como vetores desse crescimento rápido e eficiente. “Voos como o Paris–Salvador, da Air France, ajudam nesse resultado”, afirmou Héctor Hamada, CEO da Abaeté, ressaltando que operam só duas rotas, mas com forte resposta à demanda.
No entanto, em julho, a Abaeté transportou apenas 556 passageiros — 43% a mais que em 2024, mas ainda representando somente 0,006% do mercado doméstico, estimado em cerca de 9,03 milhões de passageiros no mês.
Dados avanços na infraestrutura aérea regional
Em junho, o Ministério de Portos e Aeroportos lançou o programa AmpliAR (Programa de Investimentos Privados em Aeroportos Regionais), em parceria com o TCU, com o objetivo de atrair concessões para aeroportos regionais deficitários — principalmente na Amazônia Legal e no Nordeste. A primeira fase, com oferta pública de 19 aeroportos, está prevista para novembro, com novos lotes em etapas futuras. Segundo Adalberto Febeliano, especialista em aviação civil, “sem o aeroporto, você não pode voar”, mas isso não garante a viabilidade do voo — especialmente diante da escassez de aviões pequenos e das exigências de segurança que oneram o setor.
Quadro preocupante
Esse quadro revela um quadro preocupante para a aviação regional nacional: dominada pela Azul Conecta, parcialmente revivida pela Abaeté, e desafiada por estrutura instável e exigências de segurança complexas. Há sinais de recuperação, mas ainda é necessário um esforço conjunto — entre poder público e iniciativa privada — para restaurar a conectividade com eficiência e segurança.