No primeiro fim de semana de dezembro o DIÁRIO conheceu o município praiano de Bertioga e pode experimentar alguns atrativos e aqui destacamos dois: a Casa de Pedra e a praia de Itaguaré com seu ecossistema intacto
por Paulo Atzingen*
Município considerado Estância Turística pelo governo de São Paulo, guarda os atrativos descritos acima mas tem muito mais: ótimos restaurantes, boas instalações hoteleiras e passeios integrados à natureza para toda a família. É um município que quer fisgar parte dos milhares de turistas que descem da capital paulista para o litoral.
No entanto, para que esses atrativos continuem tendo esse nome é preciso um trabalho conjunto entre poder público e iniciativa privada para que o município não seja consumido pela saga do desenvolvimento insustentável.
Casa de Pedra pode perder seu guardador
Uma caminhada de uma hora por uma trilha nos leva à Casa de Pedra. A construção de 1805, provavelmente foi uma senzala ou serviu de depósito agrícola de alguns (ou vários) ciclos econômicos do litoral.
De acordo com o Ícaro Camargo, diretor da agência receptiva Terral, a casa está dentro do Parque Estadual da Restinga de Bertioga, criado em 2010, sobre terras particulares que aguardam a desapropriação e a indenização por essas áreas. É o caso do tio Nelson e de Dona Teresa, que residiram por mais de 40 anos na Casa de Pedra.
Faz parte
“O tio Nelson trabalha aqui, ele é caseiro junto com o pessoal da família dele, dona Teresinha e o filho. Nelson está em processo de ser desligado da empresa, a última proprietária da área. Ele sairá se quiser e assim bem entender”, explica Ícaro deixando claro o direito de usucapião de tio Nelson.
“Tio Nelson faz parte da casa, integra a história e a cultura dessa parte de Bertioga. O lógico e o razoável é que ele fique até porque a casa não teria nenhuma graça se ele não estivesse aqui para conversar com a gente, para nos receber, para fazer essa experimentação mais aprofundada, então a ideia é essa de que ele fique”, professa Ícaro.
O argumento de Camargo ganha corpo junto à Fundação Florestal – que administra o Parque da Restinga. “Se ele sair a casa ficará abandonada e o Estado não tem pessoal qualificado (e nem verba) para substituí-lo. É bom até para o parque que ele fique, porque ele sempre tomou conta, sempre cuidou da mata contra caçadores e palmiteiros e vai continuar cuidando”, argumenta Camargo.
Praia de Itaguaré
Um outro ponto turístico praticamente intacto, a praia de Itaguaré, também integra o Parque Estadual da Restinga. Ela começa no bairro de São Lourenço e incorpora a praia de Guaratuba. São cerca de cinco quilômetros de praias limpas e águas cristalinas, excepcionais para o banho e o descanso. “Até a criação do parque havia bastante resistência dos proprietários porque eles queriam fazer um loteamento aqui, venceu o meio ambiente em partes porque a proposta inicial da Fundação Florestal e da WWF era um pedaço que acabou ficando de fora. São loteamentos embargados há décadas, e esse loteamento ficou de fora do parque, mas existe ainda o protesto”, conta o guia credenciado.
Nessa área de Bertioga é possível ver a restinga em sua forma contínua, um equilíbrio entre o ambiente marinho e a vegetação baixa da restinga, do manguezal que vai até os limítrofes da Serra do Mar, sem nenhuma, ou muito pouca interferência humana. “O rio Guaratuba está sempre limpo, nasce em uma área de preservação e desemboca na praia sem nenhuma poluição, limpíssimo”, descreve o guia.
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Consciência Terral
Com acesso facilitado e sem restrição ou cobrança, a praia de Itaguaré tem uma frequência muito grande nos finais de semana. Os monitores da agência Terral Receptivo Turístico trabalham na conscientização tanto dos visitantes quanto da população local “A gente aborda os temas da cidade, fala das lutas da cidade em prol do meio ambiente, nós sempre conversamos com as pessoas para que elas usem mas usem bem”, afirma Ícaro.
“Precisamos deixar tudo como está, levar só as recordações, só as memórias, porque todo mundo quer levar alguma coisinha de recordação e se for deixar as pessoas levarem alguma conchinha, uma pedra ou alguma coisa assim, daqui a pouco não tem mais nada”, enumera o guia que é consultor ambiental.
Bertioga é diferenciada por ter formado e atuante mais de 200 embaixadores do meio-ambiente. Os nativos estão atentos e faz tempo que atuam organizadamente e defendem com apoio majoritário da população o planejamento ambiental.
Sem estudo de longo prazo
O embate entre o desenvolvimento e a preservação ganhou um capítulo a mais no início deste mês quando o presidente Jair Bolsonaro incluiu três parques nacionais na lista de privatizações do Programa de Parcerias de Investimento (PPI), que estuda viabilidade de concessões: o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, no Maranhão, do Parque Nacional de Jericoacoara, no Ceará, e do Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, integram a lista.
Em menor escala e guardadas as proporções, a proposta do governo federal é muito semelhante às ideias de desenvolvimento em cidades menores brasileiras e em estâncias turísticas, como é o caso de Bertioga. Procura-se saídas rápidas de desenvolvimento e troca de favores sem um plano profundo que diagnostique os impactos ambientais e sociais da região a médio e longo prazo. Que o bom senso prevaleça.
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* o jornalista viajou a Bertioga convidado pelo Visite Bertioga