O site americano de rastreamento de voos ADS-B Exchange tem tirado o sono de celebridades, bilionários e chefes de estado.
A nota publicada na AFP informa que essa plataforma está irritando ao mesmo tempo autoridades chinesas, Elon Musk e Kylie Jenner por monitorar seus jatos particulares. Os sites e contas no Twitter que acompanham o tráfego aéreo em tempo real provocam reações epidérmicas, desde simples reclamações até apreensões de equipamentos.
Todos os anos, empresas russas de frete aéreo, proprietários de aeronaves sauditas ou outros pedem a Dan Streufert, fundador do site americano de rastreamento de voos ADS-B Exchange, que pare de publicar seus movimentos. Sem sucesso.
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Existem algumas limitações, mas grupos que traçam rotas de voo apontam que a fonte primária de informação está legalmente disponível e acessível a qualquer pessoa com o equipamento necessário.
A lei americana exige que as aeronaves em certas áreas sejam equipadas com o sistema de satélite ADS-B, que periodicamente transmite por rádio a posição da aeronave aos controladores de tráfego aéreo.
Um site como o Flightradar24 tem 34.000 receptores terrestres em todo o mundo que podem captar esses sinais, dados enviados para uma rede central que cruza com horários de voos e outras informações de aeronaves.
Mas identificar o dono de um avião é outra questão, segundo Jack Sweeney, de 19 anos e criador da conta no Twitter “Celebrity Jets”, que descobriu o jato particular de Elon Musk após um pedido de acesso à informação aos arquivos públicos do governo americano.
O patrão da Tesla ofereceu-lhe 5.000 dólares para apagar a conta “ElonJet”, com mais de 480.000 assinantes, que acompanha todos os movimentos do avião do bilionário.
“Há muito interesse. Estou fazendo algo que funciona. As pessoas gostam de ver o que as celebridades estão fazendo”, diz Sweeney à AFP, referindo-se à indignação com a pegada de carbono dos aviões.
Publicar esse tipo de informação no Twitter torna “mais fácil para as pessoas acessá-la e entendê-la”, acrescenta.
– “Os dados estão aí” –
Em julho, a conta ‘Celebrity Jets’ revelou que a estrela de reality show Kylie Jenner havia pegado um jato particular para um voo de 17 minutos para a Califórnia causando alvoroço nas redes sociais.
“Eles dizem, às pessoas da classe trabalhadora, que devemos nos sentir culpados por nosso voo anual de férias, enquanto essas celebridades andam em jatos particulares todos os dias como se fosse um Uber”, tuitou um internauta.
Sweeney ou Streufert não veem uma linha vermelha que não gostariam de cruzar em relação à publicação de rotas aéreas. “Os dados já estão aí. Estou apenas redistribuindo”, diz Jack Sweeney.
Essa atividade também gera renda, mesmo que seja difícil de avaliar. Dan Streufert admite ganhar a vida dessa maneira, mas se recusa a dar detalhes, enquanto Sweeney afirma que suas contas de rastreamento de voos lhe rendem cerca de US$ 100 por mês.
Flightradar24 não comunica seu volume de negócios.
O rastreamento de voos também pode ter um grande impacto além da ira de celebridades e bilionários, como a controversa visita da presidente da Câmara de Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan na terça-feira, cujo voo era seguido por mais de 700.000 pessoas no site Flightradar24 no momento de seu pouso.
Em agosto, um relatório de uma ONG acusando a agência europeia de vigilância de fronteiras, Frontex, de facilitar a expulsão de migrantes que tentavam a perigosa travessia do Mediterrâneo foi baseado em dados de sistemas ADS-B, assim como a mídia americana o usou para denunciar a presença de voos de vigilância durante manifestações antirracismo em Washington em 2020.
Dezenas de congressistas, após essas revelações, instaram em uma carta o FBI e outras agências governamentais, como a Guarda Nacional, a “parar de monitorar manifestantes pacíficos”.
Em outras partes do mundo, governos já deixaram claro que tais tecnologias e dados não são bem-vindos.
A mídia estatal chinesa informou em 2021 que o governo havia apreendido centenas de receptores usados por sites de rastreamento de voos em tempo real, alegando um risco de “espionagem”.
“Em muitos casos, são os regimes autoritários que não gostam desse tipo de visibilidade”, diz Dan Streufert.