Boechat: mais que um Jornalista Exemplar, Um Ser Humano Extraordinário!

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por Andrea Nakane*

São tantas as emoções ao lembrar do Boechat…

As lágrimas teimam em ofuscar as letras… a digitação fica turva… mas é preciso persistir, afinal esse baluarte do jornalismo brasileiro não deixava-se abater e buscava sempre por meio do seu altruísmo e incansável poder de superação exercer com muita dignidade o ofício de comunicólogo talentoso e ser humano admirável.

Comunicar antes de tudo é Relacionar-se e nesse critério Boechat foi um profissional com pós doc nato.

Aliás entre tantas histórias que guardo em minha memória com o Boechat, está exatamente essa lição humana: acolher todos de forma igualitária, sem ater-se a cargos, contas bancárias e/ou títulos, respeitando acima de tudo suas vivências, olhando nos olhos e permitindo que o diálogo proliferasse.

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Eu era uma menina, no auge dos meus 19 anos, iniciando minha carreira profissional como Relações Públicas, atuando como trainée em uma das mais emblemáticas cadeias hoteleiras mundiais, o saudoso Le Meridien Copacabana, no Rio de Janeiro.Entre minhas atribuições estavam a realização periódica de visitas às redações jornalísticas, sobretudo, dos grandes veículos impressos da época: o jornal O Globo e o Jornal do Brasil.

Ricardo Boechat, já no final da década de 80 e início de 90, era um jornalista conceituado, em ascensão, que conseguiu dar novos contornos as lições apreendidas dos pioneiros do colunismo social do país, Ibrahim Sued e Zózimo Barroso do Amaral, transformando sua coluna – batizada de Swann – em uma leitura obrigatória, antes mesmo de outras editorias.

Imagina o que sentia ao chegar na redação do Globo, nas minhas primeiras intervenções… suava frio, chegava a ter taquicardia… uma universitária ao lado de um grande nome da comunicação no país… nossa era algo surreal!

Ricardo Boechat, já no final da década de 80 e início de 90, era um jornalista conceituado, em ascensão, que conseguiu dar novos contornos as lições apreendidas dos pioneiros do colunismo social do país, Ibrahim Sued e Zózimo Barroso do Amaral

Mas surreal mesmo era a forma como desde o primeiro dia ele me acolheu… com seus olhos azuis brilhantes, que mesmo atarefado, fazia questão de lhe cumprimentar, sondar o que você trazia nos press releases convencionais e desbravar algo a mais que poderia lhe abastecer com notícias exclusivas e de repercussão. Logo, me sentia tão valorizada, que o receio sumiu e o prazer desse trabalho era imenso, justamente pelo encontro com ele.

Era gentil e muito amável… não só comigo.. era com todos! Sem distinção, sem interesses falsos, era autêntico, genuíno, pois sabia que investir no relacionamento com as pessoas era o bem mais valioso que um jornalista poderia ter, como fonte, independente de tudo e de todos.

Anos mais tarde, por casualidades da vida, fui professora de graduação de uma de suas filhas e novamente pude perceber a pessoa amorosa e humana que era, na tratativa com sua prole e interesse na felicidade dos mesmos. Foi uma chance maravilhosa de retribuir tanta atenção recebida.

Quando me mudei para São Paulo, a dor de deixar minha cidade amada, tempos depois foi minimizada com a companhia diária do Boechat nas ondas da Band News FM. Ele, como eu, era apaixonado pelo RIO e o defendia de forma abnegada, mesmo por meio de críticas contundentes e de uma inteligência incontestável. Era Embaixador do RJ, assim como eu, título agraciado pelo professor Bayard Boiteux, que homenageava pessoas que voluntariamente e passionalmente trabalhavam em prol da imagem da cidade incomparável e isso ele, também, o exercia exemplarmente, com muito orgulho. Era o argentino mais carioca que poderia existir.

Minhas manhãs se tornaram mais felizes, tinha uma voz amiga, uma voz que me representava, uma voz que não se calava frente as injustiças, uma voz que não temia as incompreensões, pois era fundamentada em pensamentos argumentativos, que mesmo adversos a opinião de muitos, nos persuadia a reflexões como cidadãos e seres humanos que buscam um caminho evolutivo.

Ultimamente, o encontrava em eventos e o sorriso era o mesmo… não sei se lembrava, mas sempre era um cavalheiro em não transparecer que não se recordava de mim… e ele me fazia bem, pois sentia estar próximo de um ser iluminado, especial, que veio a esse mundo com uma missão nobre de nos fazer pensar, de mexer com nossas convicções, de transformar-se em um ícone da comunicação, inspiração para todos os profissionais da área.

Não sei o que será o amanhã sem sua voz, sem sua vivacidade, sem seus pitacos e suas informações precisas.

Vamos ter que conviver com o vazio da sua voz… vamos aprender … vamos nos reinventar, assim como o ele fez em diversos momentos de sua carreira e de sua vida pessoal.

Não sei o que será o amanhã sem sua voz, sem sua vivacidade, sem seus pitacos e suas informações precisas.

Os ensinamentos foram tantos, que cabe cada um de nós, continuar sua jornada em prol de relacionamentos mais verdadeiros, éticos e sobretudo humanos.

Vamos “tocar o barquinho” por aqui, buscando na memória afetiva suas lições, suas ponderações, suas considerações e seus valores humanos.

Sua luz permanecerá por aqui, temos ciência que o jornalismo não será o mesmo, mas seu legado certamente renderá frutos muito promissores e o manteremos sempre vivo em nosso dia-a-dia.

Vá em paz  Boechat!

*Andrea Nakane é educadora e diretora da empresa Mestres da Hospitalidade

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