Campos do Jordão, destino serrano, com demanda concentrada tradicionalmente no período de baixas temperaturas, soma estratégias que aproximam os setores público e privado, a fim de incrementar a oferta turística em todas as estações do ano. A gastronomia local é forte aliada na missão de alcançar essa meta.
Por: Cecília Fazzini – Fotos: Cristina Brochieri
A crescente procura por hospedagem, mesmo já tendo ingressado o verão, anima os empresários de Campos do Jordão, cidade de maior fluxo de visitantes/ano da Serra da Mantiqueira na temporada invernal. O ano de 2024 abre com boas perspectivas para o destino que aposta no conjunto de seus atrativos, apesar de ser um período com um menor número de feriados. Uma boa amostra de que a localidade procura concentrar as atenções do viajante no que tem de especial são as recentes comemorações natalinas. Num festival de luzes, cores e atrações – prolongado até o último dia 8 deste mês – Campos recebeu, apenas nos meses de novembro e dezembro de 2023, cerca de 800 mil pessoas, 20 vezes o seu número de habitantes, o que repercutiu no crescimento de 15% na ocupação hoteleira, se comparado a 2022.
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Paulo César da Costa, diretor do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes – SINHORES por Campos do Jordão e Região Serrana adianta que, com o cenário econômico mais estável, a estratégia é ampliar pontos de atração combinados com hospedagem. Nesse modelo articulado para cativar o visitante constam restaurantes, passeios em parques e roteiros que incluem cervejarias artesanais, cachaçarias e atividades de aventura ao ar livre.
“Estratégia é combinar pontos de atração do destino com a hospedagem”, Paulo César da Costa, diretor do SINHORES por Campos do Jordão e Região Serrana
De acordo com o dirigente, o aparato do receptivo se estrutura ainda mais e, para os próximos anos há projetos de hotéis compartilhados, em fase de obras. Hoje a cidade disponibiliza 14 mil leitos, distribuídos pelas mais diversas categorias de meios de hospedagem. Outro ponto alto do destino são os novos roteiros, pensados criteriosamente por empreendedores locais, como o Campos das Araucárias, que atravessa pontos clássicos da cidade. O percurso parte da Vila Capivari e segue em direção ao Horto Florestal “onde o turista vai encontrar um pouco de tudo, desde ótimas opções de hospedagem, fabricantes cervejeiros, embutidos e cachaças, além de excelentes restaurantes, parques e aventuras em meio ao maior bosque de Araucária do Estado de São Paulo”, acentua Costa.
Boa nova
No destino paulista de maior altitude a parceria deixa sua marca. O representante do SINHORES confirma que, junto com o poder público de Campos, o setor tem se mobilizado para realizar eventos em todas as épocas do ano. A ideia, conforme explica, é cativar o visitante não apenas no inverno, a partir de uma maior número de festivais gastronômicos ou artísticos. E para ampliar a certeza de que a localidade emblemática da Serra da Mantiqueira contará com demanda aquecida, durante os 12 meses do ano, ele ressalta a boa nova mais recente: o Aeroporto de São José dos Campos (SP) voltou a operar voos domésticos.
“Estamos confiantes de que as operadoras comecem a comercializar pacotes para a nossa região, pois estamos a apenas 80 quilômetros ou 1h30 da referida pista de pouso e decolagem”. Paulo César da Costa, diretor do SINHORES por Campos do Jordão e Região Serrana
Gastronomia local pronta para cativar o visitante
Fiel aos produtos da terra, com estrelas como chocolate, pinhão, truta, queijo, defumados e o desejado fondue, a culinária de Campos do Jordão visa garantir seu protagonismo e seduzir o turista. A mistura de requinte e sabor é servida à mesa em restaurantes que convidam ao bom paladar. O visitante que sobe a serra, de sua parte, não espera encontrar menos do que pratos elaborados com o toque de mestre da gastronomia peculiar do destino.
No Restaurante La Gália @restaurante.lagalia, que reproduz a culinária da antiga Gália, hoje França, fica no coração da efervescente Capivari e serve carnes exóticas e uma boa pedida é a posta de bacalhau, apresentada em generosa porção, além da complementar carta de vinhos. O Dois Rios @doisriosrestaurante, dos mesmos donos do Bela Cintra, em São Paulo, tem cozinha internacional e serve cardápio variado, mas o polvo com risoto de tomate é escolha de primeira linha. Com inspiração na velha Itália, o Elio Cucina Speciale @eliocucina se esmera nas pastas elaboradas com excelência. E num convite mais ao estilo montanhês, o Moringa Mantiqueira@moringamantiqueira é prova de que descontração não dispensa qualidade, onde a pedida pode variar entre carnes ou truta grelhada, acompanhada de pinhão fatiado
Destino une filantropia e arte
Celebrizada como ponto turístico mais exclusivo e sofisticado, com a organização de festivais de música e dança clássicas durante o inverno, a denominada Suíça Brasileira abre espaço no palco para a inserção social. Ações destinadas a crianças e jovens da comunidade local promovem o acesso às mais diversas manifestações artísticas. Iniciativas como as da Fundação Maria Lia Aguiar (FLMA) visam provar que só várias andorinhas fazem verão e se distribuem durante o ano todo em Campos.
Vanessa Costa, diretora da Fundação, confirma que o objetivo é contemplar ampla faixa etária, que vai dos 6 aos 21 anos, estudantes de escolas da rede pública de baixa renda que moram na cidade. Para além da arte, a entidade ainda mantém o Núcleo da Saúde, extensivo aos familiares diretos dos estudantes, com consultas médicas e exames. Também com atuação de janeiro a dezembro, a FLMA se movimenta para atuar em eventos de cultura, saúde, bem-estar e educação, além da doação de cestas básicas. A Corrida Iluminada de Natal, o Encontro da Cidadania e o Festival de Música estão entre os acontecimentos de maior destaque.
Criada em 2008, independente e sem fins lucrativos, a FLMA, conforme a diretora, professa o princípio que até hoje inspirara a criadora que empresta o nome à entidade: “o de contribuir para uma sociedade mais justa e proporcionar ao outro a oportunidade de sonhar e realizar, por meio da arte, da cultura, da educação e da saúde”, sintetiza ela.
Conhecer e se conhecer – De mangas arregaçadas, Silvia Barreto, paulistana e que optou por viver nas montanhas, está à frente da diretoria executiva de outra obra de cunho social. Trata-se da AME Campos, criada por moradores e empresários locais, há mais de 27 anos, e empenhada em trabalhos sociais e culturais. Em síntese, seu papel é contornar o fosso da disparidade sócia-econômica da cidade. Para tanto, um grupo de 11 empresários contribui com cotas mensais, de um lado, mas tem o Hotel Toriba como maior benfeitor da obra.
Barreto define a missão da entidade: tirar os jovens das ruas e das situações de vulnerabilidade social através da música e da cultura. Ela conta que no início surgiu o grupo “ As Meninas Cantoras de Campos do Jordão”, além de outras ações no campo do esporte. Atualmente são três os trabalhos culturais: O Coro Jovem de Campos de Jordão – um grupo de 20 adolescentes, entre 12 e 24 anos, que aprendem música e canto, tem aulas de música, de partitura e percepção. No ano passado o grande feito, sob a batuta da AME, o grupo se apresentou na Sala São Paulo, na capital paulista. “O vínculo com a arte promoveu mudanças comportamentais e contribui para que esses jovens assimilem novos conhecimentos, por exemplo, do universo musical”, orgulha-se a diretora executiva do projeto. Apesar de ligado à estrutura pública municipal da Secretaria da Cultura, a AME oferece apoio financeiro igualmente à Orquestra Filarmônica de Campos do Jordão, apesar do plano confidenciado por Barreto de cria uma orquestra da entidade. Para fechar o tripé, a AME apadrinha 100 crianças que integram o corpo de dança da Vanessa Ballet, uma companhia de bailarinos da cidade.o
“O vínculo com a arte promoveu mudanças comportamentais e contribui para que esses jovens assimilem novos conhecimentos, por exemplo, do universo musical”, Silvia Barreto, diretora executiva da AME Campos do Jordão.
Para ensinar a pescar, a entidade também aderiu ao Credipaz – criação do banqueiro bengalês Muhammad Yunus, Nobel da Paz em 2006. Em síntese é uma linha no formato de crédito solidário, destinado a pessoas com aptidões para fazer algo manufaturado, artesãos entre outros. O empréstimo é realizado com reduzidas taxas, recurso posteriormente devolvido pelo beneficiado. Implantado há dois anos em Campos, o Credipaz já alcança 120 pessoas cadastradas na cidade. O aporte financeiro começa com 300 reais e pode chegar a até 10 mil reais. Também conta com o respaldo do Sicredi e Santander, que somam com a expertise nos aspectos da precificação, imagem nas redes sociais e mídias entre outras questões para o êxito dos pequenos negócios que utilizam os recursos do programa.
Para 2024, Barreto sinaliza que, além do Credipaz, as atenções estarão voltadas para o recém-criado projeto AMA Araucária. Integrado à rede pública de ensino no município, visa monitorar, proteger e catalogar as árvores de uma das espécies símbolo de Campos do Jordão.
Agradecimentos pela hospedagem ao Hotel Vila Inglesa, empreendimento cinco estrelas que tem história para contar como o fato de ter hospedado, na Copa do mundo de 1962, a Seleção Brasileira de Futebol – integrada por nomes como o de Pelé e do técnico Zagallo.