Cantina Tia Lina, em São Roque, não oferece a simulação de uma cultura original, ela vai além, trazendo teatro, música, cores e sabores em um pacote muito bem produzido e pensado com o carinho de quem ama o que faz. É a “La Saga della Porchetta di Tia Lina” que acontece de 30 de maio a 2 de junho.
por Paulo Atzingen, de São Paulo*
Fomos recepcionados por um violinista tocando clássicos italianos e, seguindo por um tapete vermelho entramos no coração de um pedaço da Itália, aqui pertinho, em São Roque. Era um pouco depois do meio-dia e a 1ª edição da “La Saga della Porchetta di Tia Lina” começava.
Veja também as mais lidas do DT
A receptividade calorosa dos italianos carimbou meu passaporte logo na chegada a esta casa. Um dos filhos de Tia Lina, Mauro Sgueglia Góes abriu um sorriso acolhedor e me apresentou à estrela do dia.
Embora os convidados chegassem e muitos disputavam um abraço e um beijo de Tia Lina, consegui ouvi-la por alguns minutos e conheci sua história, que se entrelaça com a da cantina:
“Esta ideia de cantina surgiu há 25 anos, mas antes disso eu já fazia massas, já vendia em feiras e fazia recepções em casa. Tudo aquilo que eu aprendi desde criança foi em casa porque tínhamos sempre um saco de trigo na despensa e daquele saco de trigo saía pães, saía todo tipo de massa que era o nosso sustento, era o nosso pão de cada dia”, conta-me Lina com a doçura própria de quem vive o que faz.
Data coincide com a República Italiana
Ela conta que para auxiliar no orçamento doméstico e ajudar o marido passou a fazer massas e vender. “Começamos atendendo 10, 20 pessoas. Depois, tinha uma casa desocupada aqui na frente da minha e abri ali uma sala com 50 lugares. Foi o começo do restaurante, 25 anos atrás, e dali as pessoas, os amigos, foram se achegando e assim eu fui muito abençoada”, contou num misto de recordação e gratidão.
Auxiliado pelo filho Mauro, que é hoteleiro, Fabrício que é administrador de empresas e Carolina que formou-se em gastronomia nas escolas Senac, a Cantina Tia Lina completa 25 anos com uma clientela fiel. Este evento, em especial, promete receber até 800 pessoas por dia.
“Eu faço aniversário dia 2 de junho, que também é o dia da República Italiana, por isso temos um monte de motivos para fazer essa festa. Eu nasci no começo do inverno, tudo isso parece uma coincidência, já que a comida italiana é para ocasiões mais frias. Um copo de vinho, uma massa e a nossa porchetta”, comemora emocionada.
“La Saga della Porchetta”
Lina explica à reportagem o significado de “La Saga della Porchetta”: “Os italianos mais antigos tinham o costume de agradecer aos céus a fartura na mesa, então eles festejavam tudo, a saga do trigo, a saga da leitoa, a saga da alcachofra, mostrando que o alimento é sagrado. Na região ali dos meus pais, que era região de Campânia, eu tenho primas que têm restaurante e fazem o festival da porchetta. Eu recebi primas aqui que me ensinaram a fazer, ela fica muito saborosa. E para quem não come a carne suína, nós temos outras coisas, temos pizza, temos macarrão, pastéis, uma infinidade…”, enumera.
Um sonho
Enquanto a cantora Rosa Avilla, o tenor Paulo Lenine, o violinista Mezaque, e os artistas Luigi (João) e Franchesca (Thassila) se revezavam em suas artes cênicas e musicais, conversei com a chef Carol Góes.
Com a típica felicidade ao ver o sonho da mãe realizado não conseguia expressar totalmente em palavras esse êxtase profissional que experimentava.
“Tudo começou num sonho da minha mãe. E o sonho ela deixou para eu concretizar (risos). Eu fiquei responsável pela parte da cozinha, as compras, a produção e deu certo Graças a Deus. Eu fico muito feliz com o trabalho que eu tive, algumas noites de sono bem atrapalhadas, mas deu certo graças a Deus e conseguimos ter sucesso no evento.
Depois de contar sobre os tempos mais difíceis, Carol lembra que há 5 anos Lina finalmente deixou de tocar a cozinha, passando a ela toda a responsabilidade. “Eu estou com ela há 12 anos e faz 5 anos que ela realmente deixa eu liderar a cozinha, mas sempre com ela por perto. E hoje podemos realizar esse sonho, que nasceu dela, que é esta festa da Porchetta”. comemora.
Receita
Perguntei o segredo do preparo e, com uma generosidade característica de quem já recebeu muito em vida, ela me conta:
Na Itália, eles desossam o porco, mas aqui tive que adaptar porque eu precisava de uma coisa mais ágil. Pensamos na parte da barriga do porco onde nós colocamos o filé mignon suíno como um recheio no meio. Optamos em colocar mais a carne suína no meio para poder dar uma sustância mais de proteína. Deixa-se marinando essas barricas por 24 horas, o filé mignon também, pra depois ir recheando uma a uma e colocando ali mais um pouquinho de amor que eu sinto com os temperos”, conta a chef.
E termina, sem rodeios ou segredos, enumerando os temperos: “tem alecrim, tem manjericão, tem salsinha, tem um monte de temperinhos todos frescos, depois a gente enrola e faz como o rocambole, passa um cordão e depois vai para o forno e ali ele fica umas quatro horas”, revela.
“Depois é só saborear com um bom vinho..” digo eu, e rimos.
Eram já cinco da tarde quando dei conta que havia conhecido todo o ciclo da La Saga della Porchetta di Tia Lina. A esta família que resgatou uma história tão legítima da Itália trazendo para São Paulo essa vivência e oferecendo-a a múltiplas gerações, só nos resta dizer: obrigado.
Serviço:
La Saga della Porchetta di Tia Lina
Data: 30 e 31 de maio e 01 e 02 de junho
Horário: 12h às 18h
Endereço: Estrada do Vinho, em Canguera, São Roque, SP
Entrada gratuita
COMO CHEGAR:
Sobre a Cantina Tia Lina:
Fundada em 1999, pela filha de italianos, Lina Sgueglia Góes, a Cantina Tia Lina, oferece pratos típicos da cultura italiana, num aconchegante ambiente familiar, localizado no km 10 da Estrada do Vinho em São Roque. Todo o seu cardápio é produzido com muito carinho e ingredientes frescos, sendo o acompanhamento perfeito para boas conversas. Além disso, o restaurante conta com um Empório, onde é possível encontrar diversos produtos, como patês, geleias, massas e assados do menu congelados e grande variedade de rótulos importados, devido à parceria com a Grand Cru, maior importadora e distribuidora de vinhos da América Latina.
*Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO
VOCÊ LEU?
Querida Jacinta, Cozinha da Vó Anna e Cantina do Lucas: espetaculares sabores de BH