Carolina Negri, presidente Executiva do SINDEPAT: “Somos um setor que vive de inovação”

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Dentro da série ‘Entrevistas Presidenciais’, o DIÁRIO traz uma grande entrevista com Carolina Negri, presidente Executiva do SINDEPAT – Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas. Grande porque reflete o tamanho e a magnitude do setor de parques, do que ele é e do que pode ainda vir a ser no futuro.  A entrevista aborda, de forma objetiva, os pontos essenciais que permeiam a atividade dos Parques e Atrações Turísticas: a evolução do setor nos últimos 20 anos; o enfrentamento da pandemia C-19; o relacionamento com entes governamentais; o investimento na formação de mão de obra; o perfil de investidores; o andamento da nova Lei Geral do Turismo e a realização iminente do SINDEPAT Summit estão entre os temas abordados por Carolina Negri.

É mais uma contribuição do DIÁRIO DO TURISMO ao setor de turismo e entretenimento que emerge do fundo de uma piscina de águas não tão límpidas, chamada pandemia. O presente trabalho foi desenvolvido pelos jornalistas, Gabriel Emídio e Paulo Atzingen. Acompanhe:

DIÁRIOO SINDEPAT faz 20 anos em 2023. Quais conquistas considera essenciais, em quase duas décadas?

Podemos listar algumas conquistas, mas, sem dúvida, a publicação da Resolução 04 CAMEX, que determinou a isenção permanente da alíquota de importação dos equipamentos do setor, no âmbito Mercosul, foi a principal delas. A resolução foi assinada em outubro de 2019, entrando em vigo em 10 de janeiro de 2020. Era um dos pleitos mais antigos do setor de parques, uma vez que a alíquota desse imposto sempre foi um grande limitador para a expansão do setor no Brasil, pois somos uma indústria que vive de inovação, cujos fabricantes estão espalhados pelo mundo. O imposto chegava a mais que dobrar o valor dos equipamentos, custo acrescido, ainda, do frete. Estamos falando de equipamentos grandes e com uma série de especificidades para seu transporte e deslocamento.

Alcançar esse pleito é um marco para o setor e para o SINDEPAT, mas tivemos muitas conquistas nessas quase duas décadas. Entre elas, a consolidação do SINDEPAT Summit como principal evento do setor de parques e atrações turísticas do Brasil. Realizaremos neste mês, dias 23 e 24 de março, a terceira edição do evento e, apesar do cenário de incertezas ainda por conta da pandemia, estamos com um número significativo de expositores, inclusive internacionais. Também considero fundamental o aumento da relevância dada ao setor nesses quase 20 anos, tanto pelos poderes Legislativo e Executivo, que passaram a nos enxergar e ouvir, quanto pela própria imprensa. Somos âncoras importantes do desenvolvimento turístico e hoje, reconhecidos por isso.

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DIÁRIO Parques temáticos e seus atrativos turísticos já fazem parte do imaginário do povo brasileiro? O setor busca inspiração e ‘benchmarking’ em outros países?

Sim, hoje os parques são um objeto de desejo das viagens das famílias brasileiras. Parques como o Beto Carrero World, em Santa Catarina, que completou 30 anos no ano passado, contribuíram muito para isso. Como associação, observamos todas as novidades, todas as aberturas realizadas pelo mundo, porque somos um setor que vive de inovação. Qualquer parque ou atrativo turístico precisa de um planejamento constante de inovações para fidelizar seu público.

Há muita inspiração nacional, mas é claro que existe benchmarking. Os parques do Brasil visitam feiras internacionais e parques pelo mundo todo. No SINDEPAT, compartilhamos essas informações com nossos associados e, com o mercado, realizamos anualmente o SINDEPAT Summit, reunindo os principais fabricantes de tecnologia, produtos e serviços para o setor de parques e atrações em um mesmo lugar.

Parques Aquáticos: sinônimo de empreendedorismo e alegria (Crédito: divulgação)

DIÁRIO Que dificuldades são as mais desafiadoras para o SINDEPAT, no cumprimento de sua missão?

Atuamos fortemente junto aos Poderes Legislativo e Executivo e acredito que uma das dificuldades enfrentadas não apenas pelo SINDEPAT, mas por todo o Turismo, passe pela falta de continuidade dos planejamentos governamentais, em âmbito dos Estados e da União. Estamos constantemente na missão de reforçar a importância econômica do Turismo, que ainda é visto por muitos representantes do Legislativo e Executivo como supérfluo. Somos uma indústria forte, com grande impacto não apenas na geração de renda, mas na distribuição dessa renda nas comunidades locais. A pandemia mostrou que essa é uma dificuldade comum ao setor, não apenas dos parques e atrações. Com o início das restrições por conta da pandemia, as principais associações de Turismo do Brasil reuniram-se para defender pleitos comuns em Brasília, em um grupo que fico conhecido como o G20+ do Turismo. O SINDEPAT teve forte atuação nesse grupo.

DIÁRIOA legislação brasileira sobre a atividade é satisfatória ou carece de atualização? Há embaraços para a importação de equipamentos?

Avançamos bastante desde a criação do SINDEPAT, em 2003. Contudo, existem, sim, diversos pontos que precisam ser atualizados. A Lei Geral do Turismo, que é o marco regulatório do setor, é de 2008. Muitas coisas mudaram desde então. Existe um projeto que tramita no Congresso com esta proposta, de modernizar esta Lei, mas que precisa ainda ser votado no Senado. Quando falamos em contextos mais amplos que o turismo, tem a proposta de reforma tributária que onera o setor de serviços, sem permitir qualquer abatimento, uma vez que somos uma cadeia curta. Precisamos de um cenário que estimule a geração de empregos, sem onerar tanto o empregador.

O imposto de importação dos equipamentos, que são parte do DNA dos parques, foi isento depois de mais de duas décadas de pleito do SINDEPAT junto ao poder Executivo, mesmo sem qualquer produção nacional destes equipamentos. Contudo, a cascata dos demais impostos IPI, ICMS, e demais, atrelada a custos de câmbio, frete e transporte, ainda impacta consideravelmente nosso setor. Seguimos também na batalha para que sejam classificados como bens de capital, uma vez que estes equipamentos importados são as “máquinas” geradoras do serviço dos parques: diversão e lazer. Há ainda aspectos que impactam o desembaraço de equipamentos importados. Enfim, todo o arcabouço do falado “Custo Brasil” afeta enormemente qualquer planejamento de renovação ou investimento.

DIÁRIO Qual é a qualidade da interface entre o SINDEPAT e os poderes constituídos – Executivo e Legislativo?

A atuação do SINDEPAT junto aso Poderes Executivo e Legislativo é um dos pilares da associação. Nascemos com essa proposta, de defender os interesses do setor de parques e atrações turísticas, com a finalidade de ajudar a pavimentação de um cenário favorável ao desenvolvimento do setor. Contamos com uma assessoria de relações governamentais em Brasília, fundamental para manter um estreito relacionamento especialmente com o poder Legislativo, monitorando propostas e medidas que tenham impacto direto ou indireto no setor.

No ano passado, realizamos uma série de entrevistas com parlamentares, publicadas no site do SINDEPAT, apresentando, aos nossos associados e ao setor, aqueles parlamentares, tanto deputados federais quanto senadores, engajados nas pautas do Turismo. Eles existem e têm forte atuação parlamentar, mas ainda são minoria no Congresso.

Veja os parques que integram o SINDEPAT:

DIÁRIO –  Qual o impacto mais relevante sobre os parques temáticos, por conta da pandemia C-19?

Como vários outros setores, tivemos a paralisação imediata das atividades com o início da pandemia. Nós nos mobilizamos como associação, junto às demais do setor, formando o G20+ do Turismo, e enfatizamos junto ao poder público nossos pleitos para assegurar a sobrevivência do setor e garantir nossa retomada. As medidas ajudaram a mitigar o impacto em demissões e manutenção de empregos. Acredito que as comunidades locais, onde os parques e atrações estão inseridos, foram diretamente impactadas com os fechamentos, confirmando a total dependência do turismo em diversas regiões do Brasil. Por isso mesmo, desde o início da pandemia, nossos associados se mobilizaram em campanhas de doação de alimentos, kits de higiene e produtos de limpeza para garantir alguma segurança a essas comunidades. Juntos, nossos associados arrecadaram mais de 200 toneladas de alimentos nos primeiros meses da pandemia.

DIÁRIO –  Como está a saúde econômica e financeira das empresas do setor? Como vê o ritmo da retomada do fluxo de visitantes?

Estamos no processo de retomada, rumo à recuperação. Como indústria que vive de inovação, os parques e atrações turísticas trabalham com planejamentos de longo prazo e mantiveram seus investimentos, mesmo que definindo novos cronogramas em alguns casos. No Beach Park, por exemplo, tivemos a inauguração de uma nova atração, o ToboMusik, em dezembro passado. O Beto Carrero World inaugurou o Rebuliço, nova atração, em janeiro deste ano. Tivemos ainda uma série de aberturas de atrações, como as rodas-gigantes de Balneário Camboriú (SC) e Foz do Iguaçu (PR), o Acquamotion, primeiro parque aquático de Gramado, a Skyglass, passarela de vidro de Canela, o Oceanic Aquarium, aquário de Balneário Camboriú, ou o Pratagy Acqua Park, parque aquático de Maceió…

Houve muitas aberturas durante os últimos dois anos e outro grande número de projetos previstos para este e o próximo ano. O fluxo de visitantes vem crescendo, especialmente no ano passado, com o avanço da vacinação, fundamental para a retomada. Também acreditamos que vivemos um momento do turismo doméstico, tanto por conta de incertezas em relação a variantes do vírus e políticas menos flexíveis de entrada em alguns países quanto por conta do câmbio, deixando o dólar e o euro extremamente valorizados frente a nossa moeda.

DIÁRIOQual o perfil do investidor em parques temáticos, no país? Além do capital nacional, o setor atrai empreendedores e marcas de fora?

Temos diversos players acreditando no setor de parques, atrações e entretenimento de modo geral. São empresários do próprio setor que têm buscado ampliar seu portfólio de produtos, ou ainda de outros setores que buscam diversificar seus negócios de atuação. Existem também grupos que receberam aporte de fundos de investimento. Empresários brasileiros e marcas genuinamente brasileiras. O ponto principal é que o negócio do lazer e entretenimento, onde nosso setor está inserido, tem tido destaque no cenário brasileiro.

DIÁRIO O que dizer sobre a gestão e o nível de profissionalização dos recursos humanos empregados na atividade?

Esse é outro ponto que melhorou muito nos últimos 20 anos. O setor tem investido muito na capacitação de mão de obra porque, muitas vezes, nossos associados são os primeiros investidores em algumas comunidades. Isso aconteceu com o Beach Park, em Aquiraz, no Ceará, na Costa do Sauipe, na Bahia, mas também no eixo Sul-Sudeste. Agora mesmo, o grupo Gramado Parks, que está construindo um complexo com resorts e parque aquático na Praia dos Carneiros, em Pernambuco, anunciou a instalação de uma universidade corporativa na região, para capacitar cerca de duas mil pessoas. A ideia é que desses, pelo menos mil possam ser empregados no próprio complexo, e o excedente poderá encontrar uma série de oportunidades criadas pelo desenvolvimento que o turismo viverá na região.

Carolina: “O Dia Nacional da Alegria (DNA) não é um evento promocional, mas sim uma grande mobilização social promovida SINDEPAT e realizada por seus associados”

DIÁRIO No entendimento do SINDEPAT, houve evolução da taxa de segurança aos usuários dos parques temáticos?

Sim, sem dúvida. A tecnologia contribui muito para isso. Nossos parques e atrações estão acostumados a trabalhar com “check-lists” extensos que contemplam uma série de fatores, com destaque para todos os itens de segurança. Quando desenhamos em parceria com a Adibra (Associação Brasileira de Parques e Atrações), os protocolos de biossegurança de enfrentamento da pandemia, inspirados no modelo internacional da IAAPA (Associação Global para a Indústria de Parques e Atrações), a adesão dos parques e atrações foi imediata. Foi instantânea a inclusão dos novos protocolos aos check-lists já existentes, porque somos um setor que já vivia isso.

DIÁRIO –  Que impacto a tecnologia digital e agregados exercem sobre a operação geral dos parques? Houve redução de mão de obra operacional?

É muito difícil, no setor de parques e atrações, que a tecnologia substitua a mão de obra. Atendemos público, nossos visitantes esperam ser recebidos com sorrisos. A tecnologia é fundamental para melhorar a gestão dos negócios e a própria experiência dos visitantes, além da segurança, com equipamentos touchless, por exemplo, mas o contato humano é fundamental no Turismo, de modo geral. Acredito que uma das coisas que a pandemia nos mostrou, com os confinamentos e isolamentos, foi a necessidade de contato humano. Ele se faz presente em nossos parques e atrações, com colaboradores treinados para receber bem cada visitante, atendendo cada necessidade, para que eles vivam experiências perfeitas nos parques e atrações.

DIÁRIOA capacidade instalada dos parques temáticos brasileiros é suficiente para o atendimento da demanda presente e futura?

Acreditamos que há espaço para mais parques e atrações, porque o Brasil é um país continental, com grande mercado consumidor interno. Além disso, também recebemos visitantes internacionais. Vale lembrar que alguns dos principais cartões-postais do Brasil são associados nossos, como o Parque Nacional do Iguaçu, o Bondinho Pão de Açúcar e o Trem do Corcovado, para citar alguns. Há mercado para mais parques e atrações, especialmente quando pensamos que há muita inovação a caminho.

A Yup Star Rio foi a primeira roda-gigante desse modelo no Brasil, inaugurada em dezembro de 2019. Desde então, já vieram a de Balneário Camboriú (SC) e a de Foz do Iguaçu (PR), já abertas, mas temos as rodas-gigantes de São Paulo em construção e o anúncio recente de outras duas em Canela (RS) e Olímpia (SP). São apenas alguns exemplos de como a capacidade instalada pode ser ampliada. Acreditamos que, no turismo, as novidades são complementares, contribuindo para o aumento da permanência do visitante no destino.

DIÁRIO – Aproxima-se a realização do SINDEPAT SUMMIT. O que pode adiantar sobre o grande evento?

Podemos dizer que será um grande reencontro entre os buyers nacionais, nossos associados e toda a indústria de parques e atrações, e os fornecedores internacionais e brasileiros. Temos poucos estandes disponíveis na área de exposição e a grade de painéis dos dois dias do evento está completa. Nosso evento é itinerante e será realizado em Gramado, na Serra Gaúcha, por conta da grande expansão da indústria de parques e atrações na região nos últimos anos. Naturalmente, esse será um dos temas debatidos logo no primeiro dia do evento.

A programação está bem diversificada, com apresentações sobre a importância da arquitetura de conteúdo, por exemplo; a importância da ciência de dados para a indústria de entretenimento; a importância dos parques naturais brasileiros e todo seu potencial; o impacto de uma agenda ESG nos negócios e, naturalmente, as tendências do nosso setor. Convidamos todos a conhecerem nossa programação no site do evento, o www.sindepatsummit.com.br. Além da programação e da exposição, teremos novidades, como as rodadas de negócios e as visitas técnicas. Pela primeira vez, realizaremos visitas aos associados SINDEPAT na região, como os Bondinhos Aéreos Canela, o Alpen Park, o Acquamotion e o Snowland Gramado.

Parques: sinônimos de empreendedorismo e alegria (Crédito: divulgação)

DIÁRIO Promoções como o Dia Nacional da Alegria continuam na pauta do SINDEPAT?

O Dia Nacional da Alegria (DNA) não é um evento promocional, mas sim uma grande mobilização social promovida SINDEPAT e realizada por seus associados, assim como o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência em Parques e Atrações (DNPD). Ficamos dois anos sem poder realizar o DNA, que já tem mais de dez edições, mas voltaremos a realizá-lo no próximo mês, entre os dias 25 e 29 de abril. Nessa semana, os parques e atrações convidam ONGs e associações que atendam crianças em situação de vulnerabilidade para visitarem os empreendimentos.

A visitação é gratuita e cheia de surpresas para fazer do dia dessas crianças algo muito especial. No DNPD, realizado em dezembro, esse convite é feito a ONGs e associações que auxiliam pessoas com deficiências, adultos ou crianças. Nossos parques e atrações recebem gratuitamente esses visitantes, com programação especialmente dedicada a eles. São dois eventos que nos orgulham muito, realizados há mais de dez anos.

DIÁRIO Acrescente, Carolina, eventuais conteúdos relevantes não alcançados pelas perguntas.

Gostaria de reafirmar que nosso setor vai seguir crescendo, porque é isso que constatamos, observando os investimentos realizados nos últimos anos e tudo que há projetado até 2025. Seguiremos sendo âncora de diversos destinos turísticos, bem como criando novos Brasil afora. A manutenção desses investimentos mostra que os empresários seguem confiantes no retorno dos visitantes, no crescimento do consumo de momentos de lazer e na expansão do turismo doméstico.
O Brasil se beneficia de um grande mercado consumidor local, por isso observamos a volta dos turistas já no ano passado. Sabemos que a recuperação começou com a visitação a destinos próximos, em viagens rodoviárias, mas muitos brasileiros já voltaram a voar, como mostram também os dados da aviação. Acreditamos que isso vai se manter e ampliar ao longo de 2022 e nos próximos anos.

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