por Paulo Atzingen (de Hangaroa, Ilha de Páscoa)*
As mudanças climáticas na Ilha de Páscoa, em especial no mês de agosto, são muito surprendentes. Temperaturas agradáveis oscilando entre 25º de dia a 15º à noite e a chuva e o sol competindo entre si tendo o vento pelo meio, como um juiz. Enquanto na parte oriental da ilha faz sol, no centro despenca uma leve chuva, quase uma garoa. Às vezes, quando no sul da ilha está nublado, na parte oriental, onde se localiza a única cidade deste pedaço de terra do Pacífico, Hangaroa, chove. Mas é a típica chuva tropical que após algumas rajadas de vento desaparece e em seu lugar surge um enigmático arco-iris. É mais um dos espetáculos neste pedaço de terra a 3.700 quilômetros da costa do Chile.
Lava de Silício
E é justamente essa variedade climática que nos acompanhou à visita de uma das 300 cavernas existentes na ilha. Quando chegamos à caverna Ana Te Pahu (em Rapa Nui) ou caverna dos plátanos (como é chamada a bananeira por aqui), armava umas nuvens cinzas no Oceano Pacífico e vinha em nossa direção. Tratamos de nos refugiar na formação geológica, resultado da lava do vulcão Hiva Hiva, segundo nosso guia, Roberto Rinco. “A caverna foi utilizada tanto como casa, como esconderijo e também como área para plantio, por sua riqueza mineral e orgânica”, fala Rinco. “Ela é formada principalmente de lava com silício e se formou quando a erupção do vulcão Hiva Hiva aconteceu, a cerca de 3 milhões de anos”, afirma Roberto, e completa cientificamente antes de ser perguntado: “Segundo informações do Carbono 14”.
Estômago da Terra
A caverna dos plátanos é uma das mais espaçosas da ilha – mas adverte Roberto, nem pensar a maior – e integra um grande complexo subterrâneo praticamente impossível de conhecer em sua totalidade. São dezenas, centenas de metros de desenvolvimento, intercalados por raras aberturas onde entra a luz solar. Caminhar por seu interior requer acompanhamento de um guia, iluminação com lanternas e não ter claustrofobia, pois em alguns trechos a passagem se estreita e temos a impressão de entrarmos em uma garganta de um grande ser de pedra. Em outro trechos, parece que entramos dentro no estômago da Terra.
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“Essas cavernas eram utilizadas na antiguidade também como reserva de água”, aponta Roberto para um dos reservatórios, uma espécie de piscina, em um dos cantos de um grande salão.
Legislação da ilha
A legislação da ilha é muito clara e pune com multa e até detenção aqueles que violam ou depredam moais, sítios arqueológicos, vegetação autóctone e formações geológicas, no caso, as cavernas. Em todos os atrativos da ilha existe uma placa dizendo o seguinte: “Lei Contra Infratores do Patrimônio Público 17.288 – Parque Nacional Rapa Nui”.
Ao sairmos da caverna, as nuvens que vieram do oceano já haviam passado, atravessado a ilha, indo para sudoeste e deixando como rastro um indescritível arco-íris.