Por Paulo Atzingen*
(com áudios em espanhol traduzidos por Lucas Kina)
As leis básicas da civilização Inca nos tempos do 9º imperador – Pachacuti – eram: não roubar, não mentir e não ser preguiçoso, explica-me a guia de Turismo cusquenha Liliana Vargas Buendia.
Na viagem até as ruínas de Pisac e Ollantaytambo, nos arredores de Cusco, essa descendente direta dos quéchuas – com seus traços indígenas bem definidos, aponta-me as casas de adobe à beira da estrada. “A maioria tem um touro no telhado que significa, força, proteção para quem vive nela”, descreve. A senhora cusquenha tem cerca de 50 anos, mas aparenta 30. Pergunto qual é o segredo para a jovialidade e ela enumera uma série de ervas com nomes impronunciáveis que usa para fazer chás.
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“Tomo sopa de rã para a memória e uso na pele gelatina de patitas, um colágeno natural de cor marrom”, descreve em espanhol sua receita de imortalidade.
Vale Sagrado
A paisagem que se abre entre as montanhas esculpidas por longas eras é maravilhosa. A base do Vale Sagrado aparenta um tabuleiro de xadrez verde com suas plantações de batatas, milho, quinoa e frutas. Ou seria um mosaico quéchua gigante criado propositalmente pelos camponeses para manter o turista boquiaberto?
Minha guia adianta que o Vale Sagrado tem cerca de 80 quilômetros de extensão, começa em Pisac e vai até Ollaytaitambo. Em seu veio corre o Rio Urubamba.
“Somente o rio já torna a região sagrada, pois para os quéchuas ele representava o reflexo da via-láctea”, explica Buendia.
Outros motivos, conta ela, tornam esse Vale Sagrado para os cusquenhos e peruanos: “é uma região de terra muito fértil, tem um microclima excelente, possui um rio com águas abundantes e é cercado por picos nevados e montanhas milenares”, enumera com uma ponta de satisfação a guia peruana. O Vale Sagrado é uma espécie de tesouro de seu povo, revela-me.
Palácios de veraneio
O lugar era (e é ) tão fantástico para se produzir alimentos e viver que, segundo Lilian, três imperadores incas construíram por aqui palácios de descanso (as nossas conhecidas casas de veraneio).
Fertilidade
O Rio Urubamba, que nasce na divisa de Puno com Cusco, corre por todo Vale Sagrado levando fertilidade por onde passa. Sua população, vive da agricultura, do artesanato e do turismo.
Corre aos pés de Machu Picchu, transforma-se em baixo Urubamba e se integra a Bacia do Amazonas mergulhando no Brasil…
“Alguns vestígios das águas do Vale Sagrado devem chegar ao Rio Amazonas”, afirma-me a guia Buendia com uma sabedoria atávica.
Após várias centenas de quilômetros, quem dera além de fertilidade, o rio Urubamba também levasse em seu caudal as três leis incas – apresentadas no início deste texto – e que essas leis adubassem o território nacional e fizesse nascer uma nova civilização.
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*O jornalista Paulo Atzingen viajou a convite da AccorHotels com seguro GTA e se comunicou via ChatSim
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