Há 50 anos, Guilheme Paulus fundou, juntamente com Carlos Vicente Cerchiari, a CVC uma pequena agência de turismo na cidade de Santo André. Anos depois essa mesma CVC se transformou na maior operadora de turismo do Brasil. O próprio Guilheme Paulus narra como foi:
“Comecei a trabalhar cedo com 16 anos. Quando eu tinha entre 19 e 20 anos, era estagiário na IBM, tive um bom destaque na área de vendas. Claro que eu tinha um sonho, fui operador e programador de computadores, à época chamados de cérebros eletrônicos. Fizemos uma pesquisa para o governo do Estado de São Paulo de implantação nas autarquias de computação. Eu tive uma sorte no sorteio e peguei o Banco do Estado de São Paulo e as secretarias da Fazenda e também a da Agricultura. Aquilo me deu um bom dinheiro. Eu tinha um amigo de infância, o Zezinho, que tinha uns tios na Itália e resolvemos ir de férias para a Itália. Usamos um Europass para viajar de trem durante 30 dias no continente. Fizemos Lisboa, Madri e a Itália. Em Roma conhecemos um grupo de brasileiros e resolvemos esticar a viagem até Londres. Dormi em albergues da Juventude, muito legal.
Naquela época a Europa vivia momento mais ameno por causa de um momento de arrefecimento da Guerra Fria, onde os jovens não tinham muita perspectiva. E fomos à Inglaterra para conhecer o movimento hippie, o surgimento da minissaia, os beatniks, os Beatles, os Rolling Stone e tal. Voltei para o Brasil com a cabeça diferente.
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Eu continuava sonhando em trabalhar com computação até que vi um anúncio no caderno de empregos do Estadão, que oferecia uma vaga para interessados em trabalhar no turismo. Aquilo me atraiu e fui atrás. Era a Casa Faro, uma das grandes empresas do setor à época. Era uma grande agência de viagens, que tinha até banco e um consórcio de turismo. Fui, fiz o teste, fui admitido e lá fiquei trabalhando durante um ano e meio até que o doutor Mario Faro me chamou para acompanhar um grupo em uma viagem de navio para Buenos Aires. Foi a primeira vez que viajei de navio. Eu gostei tanto de trabalhar com turismo que comecei a sonhar em um dia abrir uma agência de viagem. E foi nessa viagem que conheci o deputado Carlos Vicente Cerchiari, o CVC, que tinha acabado de ser eleito e foi comemorar com a esposa. O grupo tinha 32 pessoas, a maioria da Sociedade Paulista de Medicina. O Cerchiari gostou tanto da viagem que me chamou e disse que em Santo André, região do Grande ABC Paulista, não tinha nenhuma agência de viagem e ele queria montar uma.
Algum tempo depois reuni cerca de 15 pessoas do grupo que foi à Argentina para realizar uma viagem ao Rio de Janeiro com hospedagem no hotel Glória e show no Canecão. Então liguei para o deputado para convidar. Novamente ele gostou muito da viagem e dias depois me convidou para conhecer a Assembleia Legislativa de São Paulo. Fui e ele novamente me convidou para abrir uma agência de viagens. Agradeci dizendo que estava muito bem empregado. Eu não queria deixar a capital paulista. Santo André não tinha nada a ver comigo. Eu trabalhava na Avenida São Luís, o boulevard do turismo, na Casa Faro, aquele glamour todo com grandes empresas do setor. A Avenida São Luís naquele tempo era muito chique, muito bonita. Não satisfeito ele me chamou dias depois para um almoço na casa dele. Fui com a minha namorada, a Luiza, e ele reafirmou o convite. Ele fez uma proposta irrecusável onde eu teria um terço da sociedade (ele, a esposa e eu), onde poderia pagar minha parte com o meu trabalho. Aquilo mexeu comigo.
No dia 28 de junho de 1972 tinha início oficialmente a agência de viagens CVC. Nossa sociedade durou quatro anos.
No dia 28 de junho de 1972 tinha início oficialmente a agência de viagens CVC. Nossa sociedade durou quatro anos. Depois eu continuei trabalhando com a mentalidade de um dia a CVC ser uma S/A. E as coisas foram acontecendo. Levamos o turismo para as indústrias Mercedes Benz, Volkswagen, Ford, Chrysler. Naquela época a indústria automobilística era muito forte no ABC, empregava mais de 300 mil pessoas.
Quando ganhei uma concorrência na Mercedes Benz eu realmente descobri essa mina que eram as indústrias automobilísticas para viagens e turismo. Todas elas tinham um clube dos funcionários. Comecei a organizar viagens rodoviárias para finais de semana para Blumenau, Balneário Camboriú, Florianópolis, Joinville e outras. Depois fui no clube da Ford, onde me pediram o calendário de viagens da CVC. Eu não tinha. Então eles me mostraram um calendário da fábrica de Detroit, nos Estados Unidos, com uma programação anual de viagens. Tinham passeios de um dia, de uma semana, para feriados prolongados, férias coletivas, apara aposentados etc. Aquilo foi um achado para mim. Comecei a trabalhar em cima disso, preparei um calendário e levei para ele e também em outras indústrias. Deu muito certo. Eram mais de 80 grêmios de funcionários da indústria automobilística somente no Grande ABC.
Foi quando eu comecei a levar o turismo diretamente para os trabalhadores e olhando sempre o tamanho do bolso deles fomos expandindo as opções: Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro, Campos do Jordão, Caverna do Diabo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande Sul, Porto Seguro…. Foi assim que tudo começou. Depois vieram os pacotes com transportes aéreos, marítimos e tudo o mais que vocês já sabem. A CVC democratizou o turismo no Brasil. Até que há 12 anos atrás vendi a CVC para o grupo americano Carlyle, que em apenas três anos transformou a empresa com a abertura de capital.