sexta-feira, setembro 19, 2025
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COP30 e a proteção aos manguezais: o Brasil no centro da discussão

Brasil se coloca no centro da proteção global de manguezais
Berçário da vida marinha e barreira natural contra as mudanças climáticas, os manguezais são patrimônio estratégico do Brasil com impacto direto no futuro do planeta

Por Ignace Billecocq Beguin, Carlos Eduardo Correa Escaf, Nátali Piccolo e Monique Galvão

Às vésperas de sediar a COP30 em Belém, o Brasil se apresenta não apenas como anfitrião dos debates climáticos, mas como uma liderança consolidada nas agendas de clima e biodiversidade. A recente adesão do país ao Mangrove Breakthrough, principal iniciativa global de proteção e restauração dos manguezais, é um exemplo dessa posição.

O movimento, que reúne 37 governos, quase duas dezenas de instituições financeiras e mais de 100 organizações da sociedade civil, tem como meta mobilizar US$ 4 bilhões até 2030 para restaurar 15 milhões de hectares de manguezais no planeta.

O gesto conecta o país a um bioma que lhe é central: além de deter a segunda maior extensão de manguezais do mundo, e a maior faixa contínua do mundo, a relevância do tema se estende às dimensões social, econômica e cultural. Hoje, os manguezais ocupam 7.663 km2, distribuídos em 16 dos 17 Estados costeiros do Brasil, e integram 123 unidades de conservação marinhas.

Cerca de 500 mil famílias dependem diretamente desses ecossistemas para sobreviver no país. Pescadores, marisqueiras e comunidades tradicionais garantem renda e alimento e, ao mesmo tempo, ajudam a proteger o ambiente.

Milhões de brasileiros — e populações em todo o planeta — se beneficiam indiretamente dos serviços prestados pelos manguezais. Esses ecossistemas sustentam cadeias alimentares marinhas globais, funcionam como barreiras naturais contra erosão e inundações costeiras e sequestram carbono em níveis superiores aos de muitas florestas tropicais, contribuindo para a estabilidade climática mundial. Pesquisas recentes identificaram ainda manguezais prosperando em condições de baixa ou nenhuma salinidade no delta do Amazonas, um fenômeno inédito em outras regiões do mundo e que reforça a resiliência desse bioma estratégico no Brasil.

O desafio, no entanto, é grande. Desde o início do século XX, o Brasil perdeu cerca de um quarto de seus manguezais, pressionados pela urbanização desordenada, pela carcinicultura insustentável e pelas mudanças climáticas.

Desde o início do século XX, o Brasil perdeu cerca de um quarto de seus manguezais, pressionados pela urbanização desordenada (Crédito: Pixabay – divulgação)

Entretanto, nem tudo está perdido: 818 mil hectares perdidos entre 1996 e 2020 ainda podem ser restaurados. Aproveitar essa oportunidade exigirá mais do que compromissos: será preciso mobilizar recursos e implementar ações em larga escala.

A adesão do Brasil ao Mangrove Breakthrough ocorre, portanto, em um momento estratégico, quando os olhos do mundo estarão voltados para a COP30. Lançada na COP27, a iniciativa baseia-se em quatro eixos: reduzir a perda líquida causada por ação humana a zero; garantir a proteção de longo prazo para 80% dos remanescentes; restaurar ao menos metade das áreas degradadas mais recentemente; e impulsionar o financiamento sustentável.

O governo brasileiro já vinha avançando nessa agenda. Em março de 2024, criou duas unidades de conservação no Pará, ampliando a proteção em 74,7 mil hectares. Em junho, lançou o ProManguezal, programa nacional voltado à conservação e ao uso sustentável dos manguezais que une políticas públicas à participação das comunidades locais.

Essa política dialoga também com a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil, que prevê reduzir entre 59% e 67% as emissões de gases de efeito estufa até 2035 em comparação com 2005, além de zerar o desmatamento até 2030.

Evitar a destruição dos mangues da Amazônia, por exemplo, poderia representar a eliminação de emissões equivalentes às de mais de 200 mil carros a gasolina por ano.

A defesa e a restauração dos manguezais, mais do que uma pauta ambiental, representam uma agenda de segurança climática, desenvolvimento sustentável e valorização das pessoas que vivem nos territórios. Transformar compromissos políticos em investimentos reais é o resultado que a sociedade almeja. E o Brasil pode ser o fiel dessa balança ao unir setor público, privado e filantrópico e acelerar investimentos em prol das iniciativas dependentes economicamente dos manguezais, como agricultura costeira, pescaria e turismo local. Ao articular sua política interna com financiamento sustentável e iniciativas internacionais, o país se consolida como liderança de uma nova etapa na governança climática global, em que natureza e sociedade caminham juntas rumo a um futuro mais resiliente.

Ignace Billecocq Beguin é diretor executivo da Mangrove Breakthrough Hub.

Carlos Eduardo Correa Escaf, ex-ministro do Meio Ambiente da Colômbia, é embaixador da Mangrove Breakthrough

Nátali Piccolo é diretora do Programa Marinho e Costeiro da Conservação Internacional

Monique Galvão é vice-presidente da Rare Brazil

 

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