Cruzeiros marítimos aspiram por melhor ambiente de negócios no País

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Anunciada como a maior temporada de cruzeiros dos últimos 10 anos, a safra de navios 2022/2023 na Costa Brasileira ofertará, durante aproximadamente seis meses, 780 mil leitos, alta de 47% na comparação com os 530 mil disponibilizados em 2019/2020 – período que antecedeu a pandemia. Um total de nove embarcações preparam saídas a fim de agradar públicos variados. Apesar desse recorde que se avizinha, permanecem desafios, de acordo com Adrian Ursilli, Presidente do Conselho da CLIA Brasil, entidade que reúne as empresas do setor.

Ele, que também é Diretor Geral da MSC Cruzeiros, fala da necessidade de atrair mais navios de cruzeiros, abrir portas para os destinos, fortalecer o turismo e estabelecer parceria de sucesso com o País, já que o setor é forte gerador de emprego e renda. Formatar um cenário mais favorável para os negócios é a meta, conforme o dirigente: “queremos, cada vez mais, estar em contato com o Executivo, Legislativo, Judiciário e fornecedores, para se chegar a um ambiente com segurança jurídica, além de custos e impostos similares aos encontrados em outros países, confirma Ursilli nesta entrevista exclusiva para o Diário do Turismo.

Sobre as arestas a aparar

Se as milhas navegáveis no Brasil cativam mais clientes para a experiência a bordo, ainda há que se habilitar o mercado de cruzeiros em nossas águas para atender demandas específicas. E o País precisa estar pronto para essas demandas. “Diversos destinos no mundo estão se preparando muito rápido para as próximas temporadas e não podemos perder o timing”, considera Adrian Ursilli.

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O dirigente alerta para a necessidade de se estabelecer um atmosfera segura, com previsibilidade e competitiva para as armadoras, com custos e impostos justos, similares aos encontrados em outros mercados de cruzeiros internacionais, além de uma regulação apropriada.

Os principais desafios se sustentam sobre quatro pilares: infraestrutura, custos, impostos e regulação. Os navios evoluíram e precisamos ter uma infraestrutura compatível com as novas e modernas embarcações que estão sendo lançadas ao mar. Ursilli cita como exemplo dessa  modernidade acelerada os investimentos do setor em tecnologias, que criam as condições para alcançar a meta de zerar as emissões de carbono até 2050, como o uso de GNL e navios com capacidade de conexão de energia nos portos.

Além disso, há emergência em manter espaço garantido nos portos, terminais de passageiros modernos, dragagens de manutenção, infraestrutura portuária, novos destinos e novos portos de embarque, providências que permitem ampliar tanto o número de navios em operação, quanto a extensão da temporada.

”Com quase seis meses de duração, a temporada de cruzeiros 2022/2023, está prevista para ser a maior dos últimos 10 anos e bater todos os recordes”, Adrian Ursilli (CLIA)

Esforço institucional

À frente da CLIA Brasil, Adrian Ursilli confirma que o papel da entidade é justamente o de apoiar políticas e práticas que promovam a referida segurança aos negócios, de forma saudável e sustentável nos navios de cruzeiros, além de aprimorar a experiência para milhares de passageiros que recorrem aos cruzeiros anualmente.

Entre as diversas ações da entidade nessa direção, ele relaciona o Fórum CLIA Brasil, que neste ano chegou à sua quarta edição. Entre as tônicas do encontro, o destaque para a maior sintonia com o as esferas do governo e também com o Legislativo, Judiciário e a gama de fornecedores, na busca por um ambiente com segurança jurídica, reforçando a busca de custos e impostos em linha com a prática em outros países.

Adrian Ursilli (Foto: Geovana Fraga)
Adrian Ursilli (Foto: Geovana Fraga)

Segurança sanitária plena

Responsabilidade é palavra que define, segundo Adrian Ursilli, a largada da Temporada 2022/2023. “Nossa prioridade são as pessoas, os tripulantes, o meio ambiente e o compliance, sempre focados em entregar viagens memoráveis aos cruzeiristas.

As companhias associadas à CLIA Brasil, confirma ele, estão todas navegando com base nos protocolos definidos e anunciados pela Anvisa, em setembro deste ano. “Com total senso de responsabilidade e no interesse de priorizar ao máximo a segurança dos passageiros, tripulantes e comunidades que os navios visitam, as companhias marítimas continuarão a exigir seguro para todos os cruzeiros e teste negativo (RT-PCR/Lamp ou Antígeno, com apresentação de laudo) 24 horas antes do embarque, em itinerários de seis noites ou mais”, informa o dirigente. Esse protocolo se aplica nas operações regulares no Brasil e entre Brasil, Argentina e Uruguai. Para viagens de cinco dias ou menos, as pessoas poderão optar por apresentar os testes mencionados ou comprovante de vacinação (com vacinas aprovadas pela Organização Mundial da Saúde – OMS).

Outra atualização refere-se ao uso – apenas recomendado – de máscaras de proteção facial. E esclarece: serviços que já existiam foram ampliados para proporcionar ainda mais tranquilidade a todos a bordo, como medidas de higiene e limpeza das companhias de cruzeiros, que seguem altos níveis de qualidade e exigências, bem como a disponibilização de equipe de assistência de saúde habilitada e treinada, com estrutura completa.

Potencial do mercado

Mas o que sinaliza a manutenção dos cruzeiros no topo da escolha dos viajantes, e o que esperar do segmento que conquista, a cada nova temporada, mais brasileiros? Adrian Ursilli ressalta que o principal êxito está na essência do produto que é oferecido e na demanda reprimida por viagens que agora estão se concretizando. “Fazer um cruzeiro é a melhor maneira de conhecer o mundo. Eles são acessíveis, responsáveis e conectam pessoas às pessoas, e pessoas a lugares”, assinala o dirigente do setor. E cita que as estimativas de comportamento do consumidor também se revelam promissoras.

Durante o Seatrade, a CLIA (Cruise Lines International Association) divulgou uma pesquisa focada nas intenções dos passageiros de cruzeiros. E entre os destaques figuram dados que dão a dimensão do potencial do mercado: a intenção de fazer um cruzeiro está se recuperando, e o índice de 83% dos cruzeiristas em potencial indicaram ser “muito provável” ou ‘provável’ navegar nos próximos dois anos. E outro dado animador: 69% dos entrevistados, que nunca fizeram cruzeiro, declaram que estão abertos a navegar, superando os níveis de antes da pandemia.

“De acordo com o estudo da FGV, cada viajante gastou, na última temporada, em média, R$ 605,90 nas cidades de escala”, Adrian Ursilli (CLIA)

Trabalho conjunto com os destinos 

Unir estratégias com os destinos turísticos, avalia Ursilli, é um dos principais focos do trabalho da CLIA. A entidade, conforme dele estaca, se mantém na busca permanente de novos destinos no Brasil a serem operados, proporcionando total suporte para que as localidades se preparem para receber os navios. Entre os destinos que se encontram em estágio avançado nas tratativas ele cita Penha e Ilha do Mel.

Ao mesmo tempo em que reconhece que “ainda há um longo caminho pela frente”, o dirigente do setor comemora recentes avanços, como o fato de que, desde a última temporada, os cruzeiros já contarem com cinco portos de embarque: Santos, Rio de Janeiro, Salvador, Itajaí e Maceió.

“Queremos mais e sabemos do nosso enorme potencial a ser explorado”, antecipa.

Infraestrutura portuária em debate

Questão relevante sempre que o centro do debate é a maturidade do segmento de cruzeiros no Brasil, Ursilli acentua que o baixo número de portos principais (home ports), novos terminais de passageiros e berços de atracação (pontos onde os navios ficam ancorados) inquieta o setor. Em especial, no seu entender, no momento em que a que navios de grande porte possam operar no País.

“A infraestrutura dos portos sempre está entre nossos debates. Há obras de melhorias em andamento nos portos do Rio de Janeiro, Santos, Ilhéus e Salvador”, frisa. Mas entre os nós a serem desatados, ele relaciona a legislação estatal, porque o tempo demandado para iniciar e concluir uma obra é longo e não contempla a lógica da competitividade. Outro obstáculo que contradiz o franco crescimento dos cruzeiros em águas nacionais é o custo da operação. “Temos muito a superar e muita coisa a ser feita, como praticar custos e impostos similares aos encontrados em outros países”, assinala o representante da CLIA e da MSC.

A preocupação se refere ao fato de destinos no mundo estarem se preparando muito rápido para as próximas temporadas. ”Não podemos ficar para trás. Precisamos oferecer um ambiente seguro, com previsibilidade e competitivo para as armadoras”, sentencia ele ao lembrar a necessidade de ter mais companhias marítimas operando no Brasil, o que representa ganhos e oportunidades, não apenas para a economia nacional, mas para cada um dos municípios que integram uma temporada. De acordo com o estudo da FGV, cada viajante gastou, na última temporada, em média, R$ 605,90 nas cidades de escala.

Canais de comercialização

Uma espécie de cartão de visita para os cruzeiristas, como classifica Adrian Ursilli, os agentes de viagem e operadores turísticos são o principal canal de vendas e respondem por 90% da comercialização no Brasil. Por esse motivo, há um trabalho contínuo, de acordo com ele, para manter sempre o melhor produto nas prateleiras do segmento que trabalha na intermediação comercial das viagens. Sobre os atrativos que revestem os cruzeiros marítimos, há muito a ser explorado para persuadir o cliente: “trata-se de uma viagem segura, com a vantagem de aliar custo, benefício, segurança e muito entretenimento em um mesmo produto”, sintetiza.

Na prática, o argumento é forte, já que ao vender um cruzeiro, o agente oferece transporte, hospedagem, entretenimento, alimentação e uma vista diferente a cada dia, tudo em um mesmo pacote. E Ursilli ainda considera um produto que se destina a públicos diversos: famílias, solteiros, casais e amigos, que terão assegurados momentos de diversão, independente do perfil.

Outra constatação é de que as empresas e profissionais do trade têm trabalhado para marcar presença em diversos canais, utilizando os benefícios da tecnologia, “mas sem deixar de lado o fator humano, capaz de entender os desejos do cliente, transformá-los em realidade e, com isso, chegar à fidelização”, arremata.

Adrian Ursilli no 4º Fórum CLIA Brasil (Foto Divulgação)
Adrian Ursilli no 4º Fórum CLIA Brasil (Foto Divulgação)

Números da temporada 2022/2023

Se retomada e recuperação já são termos de certa forma desgastados, o segmento de cruzeiros aposta é nos recordes anunciados. “Com quase seis meses de duração, a atual temporada de cruzeiros está prevista para ser a maior dos últimos 10 anos”, comemora Adrian Ursilli.

Ao todo nove navios de cabotagem operam a Costa Brasileira e, juntos, ofertarão 780 mil leitos, número representativo porque representa uma alta de 47%, se comparado com os 530 mil disponibilizados em 2019/2020. E a abrangência turística é outro motivo de comemoração: os navios percorrerão cerca de 184 roteiros, com 724 escalas em 17 destinos, no Brasil e América do Sul.

A repercussão econômica se dá automaticamente: expectativa de criar 48 mil empregos no país de forma direta, indireta e induzida, um impacto de R$ 3,8 bilhões na economia nacional, motivado pelos gastos – das companhias marítimas, dos cruzeiristas mais tripulantes – nas cidades portuárias de embarque e desembarque e nas localidades de escala.

“Nossa atividade beneficia muitos outros setores e traz ganhos para toda a cadeia do turismo, chegando ao comércio varejista – que são as despesas com compras e presentes, alimentos e bebidas, transporte antes, durante e após a viagem, passeios turísticos, transporte nas cidades visitadas e hospedagem antes e após a viagem de cruzeiro”, acrescenta Ursilli.

Além disso, esta temporada também marca a volta do Brasil à rota de importantes Companhias Marítimas de todo o mundo. Brasil também ganha espaço nos roteiros de mais de 30 navios de longo curso, que farão cerca de 300 paradas em 45 destinos brasileiros, como Amazonas, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina, com impacto econômico para a economia nacional.

Os agentes de viagem e operadores turísticos são o principal canal de vendas e respondem por 90% da comercialização dos cruzeiros no Brasil”, Adrian Ursilli (CLIA)

Responsabilidade ambiental na proa do setor

Atento aos cronogramas que governam a responsabilidade ambiental dos diversos setores econômicos, os cruzeiros alinhavam o tema como prioritário. Adrian Ursilli adianta que a meta da CLIA é reduzir em 40% as emissões de carbono até 2030, e alcançar a marca de carbono zero até 2050.

Ele classifica que as associadas à CLIA adotam medidas que superam as legislações internacionais e locais, com boas práticas, como a adoção de uma política de tratamento de águas, emissões, lixo e o alto índice de reciclagem, seja com reúso, com desembarque ou com queima, onde os materiais incinerados são transformados em energia. E o cuidado nasce nos próprios estaleiros: as novas embarcações saem dos estaleiros prontas para reduzir em até 5% o consumo de combustíveis, em relação aos modelos anteriores. A novidade é que essa redução será net carbon zero, ou seja, une a a operação do navio e a fabricação do combustível.

Segundo o Relatório de Práticas e Tecnologias Ambientais da indústria Global de Cruzeiros de 2022, mais de 15% dos navios a serem lançados ao mar, nos próximos cinco anos, estarão equipados para utilizar células de combustível ou baterias. E 85% dos navios – membros da CLIA – que entrarão em operação até 2028, serão capazes de se conectar à eletricidade em terra, permitindo que os motores desliguem no porto, reduzindo as emissões. Ursilli chama atenção para o estudo, que deixa claro que a transição para combustíveis marítimos sustentáveis continua sendo uma etapa essencial para alcançar as metas de descarbonização da indústria. De acordo com o dirigente, esse diagnóstico ressalta a necessidade urgente de apoio dos governos em dados e pesquisas, como forma de acelerar o desenvolvimento desses combustíveis, para que sejam seguros, viáveis e disponíveis para uso em escala.

Sintonizada às mudanças, a CLIA é uma organização de apoio à Getting to Zero Coalition para descarbonização dos navios. “Este apoio se soma à liderança das companhias marítimas associadas à entidade e suas parcerias com várias outras coalizões e organizações, que trabalham no momento para encontrar soluções de descarbonização”, conclui Adrian Ursilli.

Entrevista e texto por Cecília Fazzini

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