Cuidar da casa comum é uma expressão que se tornou parte de muitas reflexões e posicionamentos da Igreja, motivada pelo ministério do Papa Francisco que nos deixou um legado em prol do cuidado com o planeta terra. O tema sugerido pela ONU Turismo para o dia mundial do turismo de 2025 vem de encontro a essa realidade, pois cuidar da casa comum é buscar a transformação sustentável.
A Igreja do Brasil nas suas mais diversas frentes de atuação vem trabalhando para que essa transformação aconteça, pois isso tem a ver com nossa fé e compromisso social, assumido de modo particular pelas pastorais sociais, das quais a PASTUR faz parte. Por isso celebrar o turismo é celebrar nossa caminhada de pastoral atuante no mundo do turismo, buscando influenciar com o Evangelho de Jesus Cristo as variadas realidades do Mundo do Turismo.
Mas a comemoração desse dia também se insere no contexto do Jubileu da Esperança que transforma o nosso olhar sobre a realidade pois acreditamos que o a Esperança tem nome, Jesus Cristo, que não decepciona (Rm 5,5).
Como de costume, a Igreja divulgou uma mensagem para esse dia por meio do Dicastério para Evangelização, que traz reflexões pertinentes para o turista e o turismo de modo geral. É preciso que façamos turismo de modo a cuidar da casa comum em todos os cantos do mundo por onde nossos pés nos levam para descobrir novos lugares de encanto. Tudo está interligado e a transformação sustentável é também transformação social e de costumes.
É preciso que façamos turismo de modo a cuidar da casa comum em todos os cantos do mundo por onde nossos pés nos levam para descobrir novos lugares de encanto. Tudo está interligado e a transformação sustentável é também transformação social e de costumes.
Isso fica claro quando a mensagem assinada por Dom Rino Fisichella diz que: “Esperamos, portanto, que aqueles que desfrutam de alguns dias de relaxamento à beira-mar ou nas montanhas apreciem o valor da água, considerando que é um recurso que não pode ser desperdiçado ou, pior, poluído. E que essa conscientização leve a estilos de vida mais sábios no uso diário desse recurso”. (Vaticano, 2025)
Na esteira da hospitalidade e cuidado com o turismo, a mensagem do Dicastério ainda traz à luz alguns temas que nos últimos anos têm sido acompanhados com preocupação como o caso de superlotação de alguns destinos e hostilidade de anfitriões cansados do turismo de massa. Coloca em relevo a preocupação com os jovens e com o combate à pobreza gerada pela ganância do lucro de algumas grandes empresas do setor. A transformação passa pela mudança de comportamento de toda a cadeia do turismo.
A mensagem destaca a importância da justiça necessária e na perspectiva profética que é marca da PASTUR, assinala: “O que vemos, em vez disso, parece ser um desejo de lucro puro, alcançado rapidamente e sem muito esforço: esse frenesi é deslumbrante e leva a soluções que humilham funcionários, turistas e os próprios operadores.” (Vaticano, 2025) Um turismo com justiça previne, defende, prepara e acolhe.
A celebração do dia mundial do turismo, também deve ser oportunidade para avaliar nossa caminhada no turismo à luz do tema do ano e da mensagem do Dicastério, mas também de outros meios como o método Ver, Julgar e Agir e recentemente uma pesquisa sobre a PASTUR sugeriu uma matriz analítica de governança e hospitalidade para o turismo e que pode servir para analisar se estamos no caminho da transformação sustentável.
A matriz sugere na perspectiva da governança, analisar nosso nível de democracia, transparência, participação plural e colaboração. Na perspectiva da hospitalidade sugere analisar a esperança, escuta, inclusão, paz e doação. Todos temas em estreita harmonia com os valores cristãos e a doutrina social da Igreja. (Campos, 2025)
O tema também nos faz pensar na Cop30 que irá acontecer no Brasil e a CNBB tem feito um trabalho significativo de conscientização do cuidado com a casa comum. Os recentes conflitos com os meios de hospedagem para o evento, mostra que o turismo também é convocado para pensar e atuar contra o aquecimento global se queremos continuar visitando as riquezas criadas por Deus. O “Borgo Laudato Si” recentemente inaugurado pelo Papa Leão XIV é uma resposta da Igreja na direção da transformação sustentável.
“Portanto, o cuidado da criação, representa uma verdadeira vocação para cada ser humano, um compromisso a desempenhar dentro da própria criação, sem nunca esquecer que somos criaturas entre as criaturas, não criadores.” (Papa Leão XIV)
Exortamos que todas as comunidades possam celebrar o turismo com aquele olhar de atenção que não se deixe iludir pelos encantos do consumo desenfreado que, inevitavelmente, nos rouba futuro. Que sejamos profetas ao buscarmos um turismo que preserve a Casa Comum, cuide dos mais vulneráveis e não se canse de alinhar-se com os Valores do Reino.
*Dom Mário Spaki é Bispo Diocesano de Paranavaí e Referencial da Pastur Nacional