Do Caos à Resiliência: Aprendendo com a Gestão de Águas dos Países Baixos

Continua depois da publicidade

*Por Waleska Schumacher – Haia, 07 de junho de 2024


A tragédia que o Rio Grande do Sul está vivenciando me incentivou a retomar a necessidade de escrever e expressar as minhas ideias. Existe um ditado que é certo: “com as crises crescemos”. Não há dúvida de que, nos momentos mais difíceis das nossas vidas, ou em situações que uma sociedade enfrenta, como desastres naturais e guerras, novas soluções aparecem e, com elas, um novo futuro surge.

Veja também as mais lidas do DT

Quando as enchentes começaram no dia 29 de abril de 2024, fiz meu primeiro post no Instagram comentando o que estava acontecendo no estado onde cresci e de onde sou, o RS. Neste post, publicado no dia 2 de maio de 2024, fiz um apelo ao Governador Eduardo Leite para buscar soluções junto ao Governo Holandês, já que o conhecimento que eles possuem sobre a administração das águas é algo incrível. Quando conheci esse sistema, foi o momento em que realmente comecei a respeitar seriamente os Países Baixos.

Desde maio, serei sincera, não parei de fazer contato com diversos embaixadores do Brasil e dos Países Baixos. Entrei em contato com entidades no RS, como secretarias do Governo Estadual, universidades, empresários, entre outros. Todo este esforço que coloquei espero que esteja surtindo efeito, pois já vi notícias nos jornais locais sobre uma comitiva dos Países Baixos chegando em Porto Alegre para visitar a cidade e avaliar, junto a especialistas locais, soluções futuras para Porto Alegre. Não tenho dúvida de que meus esforços não estejam diretamente relacionados com esta ação, mas fico feliz que meus pensamentos estão mais próximos de serem realizados. Quando algo acontece, já é algo!

Por que para mim esta assessoria é tão importante? Porque eu quero ver um Rio Grande do Sul vibrante e pujante. Um estado forte, onde as pessoas possam ter excelentes possibilidades de vida futura. Para isso, muitas coisas precisam ser feitas. Entendo que, no momento, o único que se pode fazer é resolver a crise. Qual o meu medo? Que, logo após a crise passar, novas soluções demorem a ser realizadas e implementadas. E, certamente, a visão futura será muito importante para isso.

Se voltarmos no tempo, o Rio Grande do Sul enfrenta enchentes há anos. Não é de hoje que cidades onde passam os nossos rios de grandes caudais e correntezas sofrem com as crescentes do rio. Porém, muitas pessoas, possivelmente por falta de opções, continuam vivendo nessas regiões, ou porque as raízes e arraigos não os deixam partir. Os Países Baixos passaram por uma experiência similar, mas em 1953 viveram uma enchente sem precedentes e, como me falou uma amiga holandesa, pelo menos a água das enchentes no RS não é salgada. Na hora fiquei pensando sobre o comentário, mas logo entendi. Hoje, compreendo que muitos solos para cultivo no RS foram afetados pelos sedimentos químicos que estão sendo depositados neles devido à enchente.

Crédito: Waleska Schumacher, ex cônsul honorária de Curaçao
Crédito: Waleska Schumacher, cônsul honorária de Curaçao – Imagem criada pela Inteligência Artificial

Depois desta terrível enchente que os Países Baixos viveram em 1953, devido a uma terrível e inesquecível tempestade formada nos mares do norte, os holandeses começaram a pensar de uma maneira diferente e a olhar para o futuro. Uma das expressões deles foi: “nunca mais pé molhado” e, com isso, iniciaram um novo ciclo que levou anos. E é essa visão que desejo para o Rio Grande do Sul.

Neste momento, sim, devemos ter o foco em atender à emergência, que é enorme. Muitas pessoas que não foram atingidas e regiões devem trabalhar para isso, para pensar no futuro, enquanto outras devem ficar focadas em resolver as soluções do momento. Mas depois deste período de crise passar, não podemos continuar no mesmo caminho, esperando que uma nova cheia dos rios ou chuvas descomunais aconteçam, porque virão. Precisamos continuar projetando e todos juntos trabalhando para que não só o RS se torne uma potência, mas que o Brasil também o seja. Eu acredito no Brasil, assim como os holandeses acreditaram que nunca mais teriam pé molhado.

Escuto muitas vezes: “Ah tá, mas o Brasil não é o mesmo”. Mas reflitam sobre algo: quando a enchente de 1953 aconteceu, a Holanda estava destruída e ainda se recuperando dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Em 1954 puderam recomeçar junto a um cenário devastador, de pobreza e destruição. Desde então, e com a visão “nunca mais teremos pé molhado”, o país se tornou uma das economias mais sólidas do mundo e com uma infraestrutura invejável.

Meu manifesto, meu chamado, é: pensem sim a curto prazo porque a emergência precisa ser atendida e a economia precisa fluir. Porém, busquem forças e sigam uma visão a longo prazo. Com transparência, força e boa vontade, tudo pode ser feito. Já temos uma excelente tecnologia no RS e no Brasil, universidades com conhecimento científico avançado. Vamos escutar os técnicos e modernizar o Estado. Ele precisa. Sim, será um caminho difícil, mas em 30 anos poderemos ver um RS diferente. Afinal, uma das primeiras coisas que o holandês aprende na escola é nadar. E perguntem que ferramenta está presente de forma obrigatória nos carros para quebrar janelas, já que os carros facilmente podem cair em algum dos inúmeros canais que existem na Holanda. Todas essas ações são consequências das tragédias que eles viveram. Sem falar que os cidadãos holandeses pagam impostos para a administração das águas.

Junto a todos vocês que estão vivendo a realidade do Rio Grande do Sul, eu me uno e estarei junto para, cada dia mais, promover o nosso RS, o Brasil e, onde moro, sempre respeitar a cultura do país e a forma como as pessoas pensam e os seus desejos.

Hoje estou feliz porque pude ver que o Governo Holandês já está em Porto Alegre, buscando soluções e realizando diagnósticos. Com isso, descanso, mas continuarei lutando por essas pontes e novos caminhos, que já existem, serem ainda mais fortes. A integração de culturas e o compartilhamento de conhecimento são um dos grandes segredos da humanidade.

Obrigado a quem começa a ler o que escrevo! Agora me dedico ao que conheço, vinho e gastronomia, mas ainda acho que verei um artigo meu sobre o Delta Works sendo publicado.

Antes de me despedir, deixo um especial agradecimento para todos os meus amigos e pessoas que me ajudaram a fazer a minha voz ser escutada. Hoje estou feliz e espero que algo se concretize desta missão do Dutch Disaster Risk Reduction and Surge Support (DRRS) que visitou esta semana o Estado. Sabemos que este planejamento será a longo prazo, mas caso seja concretizado verei meus sonhos para o Rio Grande do Sul serem realizados.

Abraços e força RS, vamos à luta. Como um amigo me falou, não tenho plano B, o único plano é a reconstrução da minha empresa.

#Resiliência #RioGrandeDoSul #GestãoDeÁguas #InspiraçãoHolandesa #FuturoSustentável

*Imagem criada pela Inteligência Artificial


Waleska Schumacher é cônsul honorária de Curaçao e membro da Wine and Food Writer and FIJEV

Publicidade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Recentes

Publicidade

Mais do DT

Publicidade