Dom Pedro II decapitado no carnaval: secretário de Petrópolis expõe sua repulsa em artigo (leia!)

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Dom Pedro decapitado
Dom Pedro II decapitado no desfile da escola de samba (Crédito: Paulo Pinto Agência Brasil)

O desfile da escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi continua gerando polêmica. A escola desfilou no último dia 2 de março no Sambódromo em São Paulo e trouxe um carro alegórico com a imagem de um indígena segurando a cabeça de Don Pedro II.

De lá para cá inúmeras notas de repúdio foram manifestadas, entre elas, a do chefe da Casa Imperial do Brasil Dom Bertrand de Orleans e Bragança e agora, esta semana, a de Pablo Kling, secretário de Turismo de Petrópolis, cidade fluminense cujo nome significa “Cidade de Pedro”. O DIÁRIO recebeu esta carta de repúdio e publica abaixo, na íntegra: 

Uma reflexão necessária sobre a representação de Dom Pedro II no Carnaval

Por Pablo Kling*
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Como petropolitano, sinto-me no dever de expressar meu veemente repúdio à recente representação realizada pela escola de samba Acadêmicos do Turucuvi durante o desfile de carnaval deste ano, em São Paulo. Em um dos carros alegóricos, foi exposta a figura de um guerreiro indígena segurando a cabeça decapitada de Dom Pedro II, o último imperador do Brasil. Tal representação fere não apenas a memória de um importante personagem histórico, mas também nossa identidade como cidade.

Petrópolis, que significa “Cidade de Pedro,” homenageia o Imperador que, com recursos próprios, ergueu aqui seu palácio de verão e contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento cultural e social da nossa região. Dom Pedro II é um ícone de respeito, civilização e busca pela justiça, e sua figura é indissociável da história da nossa cidade.

O Imperador sempre foi um defensor dos direitos dos povos indígenas e possuía um profundo interesse pela cultura nativa. Ele falava e escrevia em tupi-guarani, mostrando seu compromisso em promover o entendimento entre diferentes culturas e um respeito mais profundo por sua riqueza. Seu governo incentivou expedições científicas que ampliaram nosso conhecimento sobre as riquezas do Brasil e suas diversidades. Além disso, Dom Pedro II sempre se posicionou a favor da abolição da escravidão, um aspecto que demonstra seu forte compromisso com a justiça social.

É pertinente recordar que, além de sua importância nacional, Dom Pedro II era respeitado em todo o mundo, recebendo elogios de diversos governantes, incluindo a venerada rainha Vitória da Inglaterra. Este reconhecimento internacional ressalta não apenas sua relevância histórica, mas também a necessidade de cultivar o respeito que ele merece em qualquer forma de expressão cultural.

Dom Pedro II era respeitado em todo o mundo, recebendo elogios de diversos governantes, incluindo a venerada rainha Vitória da Inglaterra’ — Pablo Kling

Agora, em um ano tão especial, que marca o bicentenário do nascimento de Dom Pedro II, a grotesca representação de sua morte no carnaval não só desrespeita a memória desse líder intelectual e progressista, mas também a cultura de dois povos: o indígena e o brasileiro. A caricatura de um evento significativo, realizada de maneira tão desatenta, deve nos levar a uma reflexão crítica.

O carnaval é uma festividade que deve celebrar a diversidade, servindo como um espaço de inclusão e aprendizado, e não como uma plataforma para ferir ou menosprezar figuras históricas que são parte fundamental da nossa formação como sociedade. É um momento para a construção cultural, não para a descontextualização de personagens que moldaram nossa trajetória.

Assim, propomos que todos os envolvidos na realização do carnaval reflitam sobre o impacto de suas alegorias. Que possamos, no futuro, celebrar a diversidade sem desmerecer a importância da história do nosso país e das figuras que, como Dom Pedro II, foram essenciais para o seu desenvolvimento.

Concluímos que é necessário ensinar e respeitar a história para que possamos construir um futuro justo, inclusivo e consciente de nossas raízes e legados. Vamos juntos valorizar o que nos une e celebrar a rica tapeçaria cultural que é o Brasil, com respeito, dignidade e gratidão a todos os que contribuíram para sua formação.

*Pablo Kling é secretário de Turismo de Petrópolis.

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