A história da cidade de Dubrovnik é assim: polida pelas guerras, lapidada por tentativas de conquista e iluminada pelo sol do Adriático.
por Paulo Atzingen*
Dubrovnik é chamada a Pérola do Adriático porque é bela e clara vista do mar e ergue-se em meio às águas azuis com suas fortalezas medievais. No entanto, os livros não dizem e as revistas de turismo passam longe da minha pessoal interpretação: vejo também outro significado para os termos Pérola do Adriático. As riquezas da cidade sempre foram objeto de desejo de outros povos e nações. As minas de sal de Dubrovnik no Século XIV – quando ainda se chamava Ragusa pelos italianos – foram desejadas por Veneza que tentou conquistá-las. Suas minas de ouro e seus carvalhos nos séculos XV e XVI foram disputados pela França e pela Áustria. E finalmente, a guerra entre a Bósnia e a Croácia no século XX explicam por que Dubrovnik tornou-se a pérola do Adriático.
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É só entender a formação da pérola: quando um corpo estranho está no interior da ostra, ela envolve esse invasor em várias camadas de nácar originando a pérola, que não precisa ser lapidada nem polida. Assim é a história da cidade de Dubrovnik, polida pelas guerras, lapidada por tentativas de conquista e iluminada pelo sol do Adriático.
Tour Digital
Fomos recebidos aos pés das Muralhas de Dubrovnik por Nataša Brailo, uma jovem croata que é mestre em Sociologia e Língua e Literatura Portuguesa e divide seu tempo sendo guia de turismo. Poliglota, Nataša tem o bom humor característico dos brasileiros e em tempos normais recebe e conduz os brazucas pelas ruas da cidade Patrimônio da Humanidade.
“Minhas formações me ajudaram nos tours especialmente nas discussões sobre o estilo da vida croata, as circunstâncias políticas e econômicas e a posição do país na União Européia”, enumera Nataša quando indago sobre suas opções profissionais.
O dia nublado e com um forte vento vindo do mar era um convite para suspender o passeio. Mas Nataša logo nos avisou. “Já já abrirá o sol”. E abriu.
Nossa anfitriã começa a descrever o potencial da cidade: “Recebemos por ano mais de um milhão de turistas. Com a pandemia recebemos por semana, não mais que 100 visitantes. Em tempos normais é difícil encontrar um croata nas ruas”, brinca a guia. A cidade possui cerca de 50 mil habitantes, sendo que no centro histórico vivem em torno de 800 pessoas.
Atração principal
Começamos nosso tour pela Praça de Armas. “O centro histórico da cidade é cercado pelas muralhas. Estas muralhas são a atração principal da cidade. Vir a Dubrovnik e não conhecer as muralhas e subir seus 1080 degraus é ter ido a Roma e não ter visto o Papa”, compara Nataša de uma forma peculiar característica de pessoas entusiasmadas com o trabalho e a profissão.
Dubrovnik foi o principal local de filmagem de King’s Landing, uma cidade fictícia em Game of Thrones, a famosa série de televisão baseada na série de romances de fantasia “As Crônicas de Gelo e Fogo” e distribuída pela HBO.
O cenário do centro antigo de Dubrovnik é realmente espetacular e próprio para filmes épicos. “As sete temporadas do filme foram filmadas aqui”, diz a guia.
Muralha deserta
A grande vantagem de visitar a Fortaleza de Dubrovnik durante a pandemia é a ausência de cotovelos e ombros disputando um espaço para tirar fotos. Nossa anfitriã, à medida que subia os 1080 degraus que levam ao ponto mais elevado da muralha, explica que o município quer limitar o número de pessoas nas muralhas, que às vezes chegava a 10 mil pessoas de uma vez. “O valor do ingresso é de 200 kunas, a moeda croata, que dá cerca de 7,3 Euros. Mesmo durante a pandemia não reduziram o valor do ticket”, informa. “Sofremos muito com o overtourism”, relata.
Nataša, como mestre em sociologia, detalha passagens históricas de sua cidade e país:
“Fazemos fronteira com a Sérvia, Eslovênia, Hungria e Bósnia-Herzegovina. Após a fragmentação da Iugoslávia em diversas nações, alcançamos nossa independência em junho de 1991, após uma longa guerra entre sérvios e montenegrinos. Esses combates ocorreram bem aqui, onde estamos”, descreve a profissional.
“Mas, ultrapassadas as guerras e conflitos, hoje somos um dos países mais prósperos da ex-Iugoslávia”, afirma Nataša.
Prosperidade, mas com crise
A guia, no entanto, faz um contraponto, quando nos mostra a torre da Catedral de Nossa Senhora. “A cidade tem mais de 40 hotéis e cerca de mil apartamentos privados de hospedagem compartilhada. Cerca de 3 mil famílias alugam casas para os turistas. No entanto, vivemos uma crise como nunca vivemos. Todos que trabalham com turismo estão sem trabalho”, lamenta.
Nataša ressalta que tiveram o apoio do governo por um período e as pessoas que comprovaram renda por meio de seus impostos, receberam de 300 a 600 euros por mês – durante seis meses. O salário médio de um croata gira em torno de 800 euros. “Dubrovnik é uma cidade extremamente cara, principalmente para seus moradores”, comenta a guia.
Ponto mais alto
Do ponto mais alto da muralha Nataša nos mostra algumas ilhas que compõem o colar de pérolas que formam o território marítimo da cidade. “Temos 1244 ilhas. Aquela é a Lokrum” e aponta para o pedaço de terra que ergue-se no mar. “É também um Parque Natural Marinho”, completa.
A Croácia é um país eminentemente cristão, Dubrovnik tem, segundo a anfitriã, 90% de católicos. Do alto da muralha dá para avistar várias torres de igreja. Nataša nomeia alguma delas. “Aquela é a Catedral de Nossa Senhora. Aquela é a Igreja Barroca de São Brás do Século XVIII”, aponta. “Posso dizer que a guerra aumentou a nossa fé”, diz.
Pérola
Nataša pertence à Associação de Guias da cidade que possui cerca de 300 membros. 10 falam Português. “Recebo centenas de brasileiros todos os anos. Tenho muita afinidade com vocês”, revela a croata.
“Eu diria que a mentalidade do brasileiro é muito parecida com a do croata”, fala a nossa anfitriã, quase no fim do tour, que dura mais ou menos uma hora e meia. Ela tem razão, rimos de nossas mazelas, fazemos piada das nossas tristezas. Talvez aí também resida a explicação da pérola do Adriático, dada no início desta matéria.
Assim é uma parte da história da cidade de Dubrovnik, polida pelas guerras, lapidada por tentativas de conquista e iluminada pelo sol do Adriático.
Economia Croata
A economia croata é impulsionada pelos setores de serviços e indústrias. O turismo tem alavancado a economia do país, que possui em seu território 1.135 ilhas e um litoral de 5.789 quilômetros. Outros fatores atrativos são a culinária típica, as ruínas gregas e romanas e o Palácio de Diocleciano, construído no fim do século III para ser o retiro do imperador romano.
Dubrovnik
Dubrovnik (em italiano: Ragusa), raramente grafada como Dubrovnique, é uma cidade costeira da Croácia localizada no extremo sul da Dalmácia, na ponta do istmo homônimo. É um dos destinos turísticos mais concorridos do Mar Adriático, um porto marítimo e a cidade mais importante do condado de Dubrovnik-Neretva. Em 2011 a população do município era de 43 770 habitantes, dos quais 30 436 na cidade, a maior parte deles de origem croata (88,39%), havendo ainda 3.26% de origem sérvia e 3.17% de bósnios.
Desde 1979 que o recinto muralhado está classificado como Património Mundial pela UNESCO. As imponentes e bem conservadas muralhas, a arquitetura medieval, renascentista e barroca, a paisagem do Adriático, os cafés e restaurantes fazem de Dubrovnik um destino turístico único. A parte antiga é dividida ao meio pela Placa ou Stradun, o passeio público, com cafés e restaurantes, além de diversos monumentos e edifícios históricos.
A prosperidade da cidade sempre foi baseada no comércio marítimo. Na Idade Média foi a capital da República de Ragusa, a única cidade-estado no Adriático oriental a rivalizar com Veneza, atingindo o seu apogeu nos séculos XV e XVI. Em 1991 foi cercada e bombardeada por forças militares da Sérvia e Montenegro na sequência da fragmentação da Jugoslávia, o que provocou grandes perdas de vida e patrimônio.
Nataša Brailo é croata, formada em Sociologia, Língua e Literatura Portugesa. Mora em Dubrovnik onde desde 2011 faz os tours privativos em português, espanhol e inglês. Em 2014 abriu a página Dubrovnik em Português onde passa dicas sobre a Croácia para os luso-falantes. Adora mostrar os cantinhos escondidos e a verdadeira alma da sua cidade para os visitantes de Dubrovnik. Tem um cachorro de 17 anos. Casada, é mãe de dois filhos.
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Na plataforma N8on criada por Otávio Novo há uma interação entre cliente e guia muito grande, onde o guia também é chamado de anfitrião. E isso acontece desde o primeiro momento em que há o contato. Na plataforma N8on os clientes têm total acesso aos guias/ anfitriões mesmo antes de pagar pelo tour.
“Na plataforma tem um botão CONTATAR O GUIA. O guia/ anfitriã(o) e cliente irão desenvolver o futuro tour com base nos conhecimentos do anfitriã(o) e nos interesses do cliente. E dessa mistura de olhares se faz a mágica do tour digital N8on”, explica Otávio Novo.
A terceira cidade visitada pelo DIÁRIO em tempos de pandemia e de forma virtual foi Dubrovnik, a pérola do Adriático, na Croácia.
Por Paulo Atzingen*
Publicado originalmente dia 15 de janeiro de 2021
*Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO