A conversa com o jornalista Edson Militão foi por telefone e mesmo assim foi possível ampliar o que sei desse profissional multifacetado que atua no jornalismo do Paraná e do Brasil desde meados da década de 60.
Militando atualmente em coberturas jornalísticas de turismo e hotelaria, quem não conhece o Edson nem imagina seu fantástico currículo profissional. Ele começou trabalhando em emissoras de rádio, cobriu 11 Copas do Mundo de Futebol, foi repórter da Tribuna do Paraná entrevistando ícones da cultura paranaense ampliando seu repertório ainda jovem e, depois, no Diário Popular, produziu reportagens policiais em edições repletas de emoção, sangue e lágrimas. Coisas do jornalismo raiz.
Militão está mergulhado no jornalismo original. Por que escrevo isto? Por que o conheci através da revista que edita, a Agente Urgente, da Associação das Agências de Viagens do Paraná. E ainda sem conhecê-lo como pessoa, de forma audaciosa, escrevi isto sobre o trabalho dele: “Revistas impressas como a Agente Urgente tendem a sobreviver. Revistas que trazem o fato acontecido com a sutileza da análise, com a agudeza na forma de apresentar o assunto velho sem que esteja cheirando a mofo, mas dando a ele uma outra forma de vida (…) A revista Agente Urgente é provocante porque ela é a típica publicação que dá uma resposta audaciosa à pastelaria que se transformou o mundo editorial do consumo imediato, seja digital ou impresso”.
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Militão mantém firme sua publicação há 28 Anos e já na casa dos octogenários transmite tanto forma como força por meio de um trabalho incansável, com uma capacidade criativa e uma resiliência características de quem vive e sobrevive de seus próprios projetos editoriais. Seu nome é a própria tradução do fazer, do buscar, do executar. Um substantivo que dispensa adjetivos. Ao final desta longa, mas rica entrevista, Edson ainda aconselha os jovens repórteres que estão em início de carreira: “Busque a perfeição, mire alto. Se o alvo for a Lua e você não conseguir alcançá-la, ainda assim poderá chegar às estrelas”, incentiva. Confira a entrevista com Edson Militão, mire a Lua, acerte as estrelas:
Início da Carreira
EDSON MILITÃO – O começo foi, na verdade, um processo para superar a minha timidez. Sempre fui entusiasta de rádio, ouvia muito os programas regionais, mas era uma pessoa bastante reservada. Por isso, inicialmente, me inclinava para as áreas de exatas – eu adorava matemática. Cheguei a cogitar estudar física nuclear fora do Brasil, imagina! Fiz até vestibular para engenharia. Mas, no fundo, percebia que algo me atraía para o jornalismo. Sempre acreditei em enfrentar o que é difícil; o que é fácil flui naturalmente. O difícil é o que abre portas para novos caminhos e talentos que talvez você nem sabia que tinha.
Minha entrada no jornalismo foi quase que uma maneira de enfrentar essa barreira pessoal. Lembro que uma das primeiras entrevistas que fiz, já como repórter, foi um grande desafio. Eu tinha cerca de 16 ou 17 anos e fui entrevistar um professor que foi muito importante na minha formação, o professor de português Rosário Farani Mansur Guerios, autor de livros conhecidos na época. A entrevista foi na casa dele, e eu estava nervoso, sem saber como iria lidar com alguém que era uma referência acadêmica para mim.
Quando liguei o gravador – era daqueles antigos, que precisavam de energia elétrica e tinham um botão específico – algo curioso aconteceu: percebi que ele estava nervoso também! Aquilo me marcou muito. Notei que, mesmo ele sendo a figura de autoridade, a responsabilidade e o nervosismo estavam do lado dele. Essa percepção foi um divisor de águas para mim. Entendi que eu não precisava me sentir intimidado, que o nervosismo era natural e até mútuo. Esse momento me ajudou a me soltar e a enfrentar as situações com mais confiança, especialmente com pessoas de grande conhecimento ou reputação. Acho que esse foi um dos meus maiores desafios e realmente marcou o início da minha trajetória.
Lições das viagens e das Copas do Mundo
EDSON MILITÃO – Eu sempre fui apaixonado por futebol, especialmente pela Copa do Mundo, que comecei a acompanhar pelo rádio, antes mesmo de ter uma televisão em casa. Minha primeira experiência foi na Copa de 1966, na Inglaterra, e foi uma aventura completa. Fui com meu amigo Celso Toniolo, só com passagem de ida e praticamente sem dinheiro. Imagine sair de Curitiba e, de repente, estar em Londres – era uma mudança cultural gigante! A Inglaterra vivia um “boom” cultural com Beatles, minissaias e todo aquele clima dos anos 60. O Brasil já era bicampeão mundial, e todos queriam ver o país se tornar tricampeão.
Tinha até uma promoção na época, uma marca de fósforos que dava uma passagem para Londres, mas claro que eu não ganhei. Então, decidimos ir assim mesmo. Eu e Celso, ele no último ano de Direito e eu também na faculdade, pegamos nossas passagens só de ida e fomos. Chegando lá, tentamos contatos com o pessoal da BBC, onde eu tinha algumas referências, mas nada foi fácil. Assistimos aos jogos, mas sem credenciais, então era tudo muito improvisado. Foi divertido, mas uma grande lição sobre persistência e adaptação.
Primeira vez
EDSON MILITÃO – A primeira cobertura profissional foi na Copa de 1970, no México, e foi espetacular. Eu estava trabalhando em uma rádio e, quando recebi um convite para ir a outra, coloquei como condição que me enviassem à Copa. Queria corrigir a experiência de 1966, em que o Brasil não teve sucesso, e fazer uma cobertura completa. A Copa de 1970 foi histórica para nós, com a vitória sobre a Itália na final – aquele foi um marco tanto para o futebol brasileiro quanto para minha carreira. A partir daí, fui para 11 Copas no total e pude acompanhar três títulos do Brasil.
Narrador ou repórter?
EDSON MILITÃO – Comecei como repórter, depois passei a comentarista. Não cheguei a ser narrador no rádio, mas fui narrador na televisão, o que é uma experiência diferente. Trabalhei em rádio, jornal e televisão. Na TV Manchete, por exemplo, participei como narrador de alguns jogos importantes, especialmente quando eles precisavam de alguém em São Paulo. Também tive um programa esportivo chamado Gol de Placa, que apresentei por uns 12 a 15 anos. Tive o privilégio de trabalhar com gente incrível, como o João Saldanha, que foi meu comentarista em algumas ocasiões e também um grande ídolo meu.
Aprender sempre
EDSON MILITÃO – Cada Copa foi uma lição de adaptação, resistência e paixão pelo que faço. A rádio me ensinou a transmitir a emoção do momento de forma direta e envolvente, o que é essencial em um evento de grande escala. E essa trajetória, desde minha ida meio “na raça” para a Inglaterra em 66 até as Copas profissionais, me ensinou a importância de insistir no que você acredita, de aproveitar cada experiência e aprender com cada desafio, seja ele grande ou pequeno.
Primeiras publicações da revista Agente Urgente
Convite da ABAV Paraná
EDSON MILITÃO – Quando a Maria Helena Canet me convidou para assumir a revista, fui entender como era a produção até então. Era uma publicação em preto e branco, formato pequeno, e a primeira coisa que eu disse foi: “Olha, turismo em preto e branco não existe! Revista de turismo tem que ser colorida, precisa vender cor e transmitir a energia dos destinos.” Decidimos, então, que mudaríamos isso.
Na época, a qualidade das primeiras edições era inferior à que temos hoje, especialmente por questões financeiras. A ABAV-PR deixou claro que a responsabilidade era minha: eu deveria produzir, buscar os anunciantes e viabilizar a revista economicamente. Se desse prejuízo, o problema era meu; se tivesse lucro, sorte minha. Ou seja, foi realmente uma “batata quente”. Eu não tinha experiência em vendas, nem agência, então precisei criar um CNPJ, estruturar uma equipe e começar do zero.
Melhoria na qualidade
EDSON MILITÃO – Desde o início, eu sabia que, para vender um produto, ele precisa de qualidade, especialmente no turismo, onde a imagem conta muito. Sempre tive em mente o exemplo de embalagens de sorvete ou chocolates – como da Kibon e do chocolate Creme, que já dá “água na boca” só de olhar a embalagem. O turismo precisa disso: qualidade visual, cores que cativam e imagens que falem por si.
A partir daí, trabalhamos em uma seleção rigorosa de imagens. Quando recebemos fotos de hotéis, aviões ou destinos turísticos, somos muito exigentes. E contamos com uma equipe de alto nível: o Sidney Saito, nosso editor gráfico, que tem um olhar crítico para a qualidade visual, e o Gustavo Ribeiro, que cuida do texto. A fotografia, para nós, é fundamental, tanto na capa quanto no conteúdo interno. Graças a esse trabalho, conseguimos elevar o padrão da revista.
Além de todas essas primícias profissionais, Edson Militão carrega um dom inerente aqueles que estão na jornada da comunicação: ele sabe ouvir.
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