Depois de vários rumores, os presidentes do Brasil, Lula, e da Argentina, Alberto Fernández, confirmaram que estão avançando na criação de “uma moeda comum sul-americana” que funcionará para “fluxos financeiros” e “fluxos comerciais”.
A intenção de dar um novo impulso ao projeto de uma moeda comum sul-americana vem depois de várias tentativas.
Veja também as mais lidas do DT
A ideia de a Argentina e o Brasil terem uma moeda comum para o comércio transcendeu as divergências políticas. Lula já havia proposto assim que foi eleito para seu primeiro mandato, em 2002, foi retomada anos depois pelos governos de Jair Bolsonaro e Mauricio Macri, e agora Lula e Alberto Fernández sonham com isso.
O projeto não implica o desaparecimento das próprias moedas – o peso argentino depreciado, o real brasileiro, o guarani paraguaio e o peso uruguaio. Mas ele disse que a unificação das moedas para transações comerciais foi buscada para não depender do dólar.
Os argentinos sustentaram, então, que isso buscaria não depender do dólar e que implicaria a evolução do atual Sistema de Pagamento em Moeda Local (SML), operado pelo Banco Central.
Além disso, o governo argentino e o Ministério da Economia dizem que Haddad já havia dado um nome à nova moeda: “SUR”.
Mas apenas um dia depois, em 6 de janeiro, Haddad negou Scioli e o alto escalão do governo argentino. “Não há proposta de moeda única do Mercosul, vocês descobrirão primeiro”, disse o ministro da Economia do Brasil a repórteres.
A equipe de Scioli garantiu que as declarações de Haddad não correspondiam a uma negação e que o projeto faria parte das negociações econômicas com Lula durante sua visita à Argentina.
Um projeto que está atrasado há mais de 20 anos
A iniciativa de uma moeda comum tem mais de duas décadas, mas nunca foi realizada. O próprio Lula a propôs em 2002, quando foi eleito para seu primeiro mandato. Naquela época, a iniciativa era começar com uma “moeda verde” que alcançasse apenas produtos agrícolas e fosse o primeiro passo para uma moeda comum.
O projeto parou em meio a uma Argentina convulsionada e em crise. Anos mais tarde, em 2006, houve reuniões avançadas entre os ministros da Economia (na época para cargos ocupados por Felisa Miceli para a Argentina e Guido Mántega para o Brasil).
Mais de uma década depois, os governos de Jair Bolsonaro e Mauricio Macri, no caminho oposto aos de Lula e Néstor Kirchner, também avançaram na mesma ideia.
Como o Clarín relatou, em 2019 o ministro da Economia, Nicolás Dujovne, propôs isso ao seu homólogo brasileiro, Paulo Guedes, a quem a iniciativa parecia uma “excelente ideia”.
Dujovne consultou especialistas fora e dentro do governo. Recebeu respostas favoráveis. Era um projeto superior à dolarização.
À época, com o aval de Macri, Dujovne viajou para o Rio de Janeiro e se reuniu com Guedes, chegando a um acordo para fazer o anúncio logo em seguida. A ideia era anunciá-lo de Brasília, com Bolsonaro e Macri, mas minutos antes de o ministro da Economia argentino viajar para a capital brasileira recebeu uma ligação de um assistente de Guedes avisando que o anúncio foi cancelado porque o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, ameaçou renunciar se o projeto avançasse.
Lula reviveu sua proposta e, durante a campanha eleitoral do ano passado, expressou sua intenção de criar uma moeda comunitária para a América Latina, semelhante ao euro, proposta que ele insistiu novamente após assumir agora seu terceiro mandato.
EDIÇÃO DO DIÁRIO com informações do CLARIN