Especialista fala ao DIÁRIO sobre os impactos das ‘fronteiras fechadas’ dos EUA

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Foi confirmado nesta semana que os Estados Unidos voltará a proibir a entrada da maioria de viajantes não americanos e não residentes nos EUA que chegam do Brasil, Reino, Irlanda e 26 países europeus do Espaço Schengen. Desde maio de 2020, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) vetou a entrada de viajantes internacionais (com raras exceções) provenientes destes países, que que concentram grandes focos da pandemia da covid-19.

REDAÇÃO DO DIÁRIO 


O fim das restrições de viagens foi anunciado de forma surpreendente pelo ex-presidente Donald Trump, a dois dias do final de seu mandato, e começariam a valer a partir da última terça-feira, 26 de janeiro de 2021. No entanto, no próprio dia em que a medida foi aprovada a equipe de Joe Biden declarou a imprensa que não aprovava esta decisão. Diante dessa decisão e dos efeitos bilaterais que isso pode causar, o DIÁRIO foi ouvir Rodrigo Costa, CEO da AG Immigration, com expertise e profundo conhecimento do mercado americano. Ele reside nos EUA há 7 anos e atua no mercado americano há mais de 10 anos. Costa é responsável por gerenciar todas as operações da AG Immigration na América Latina. A entrevista foi concedida, por email, ao jornalista Paulo Atzingen, editor do DT.

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DIÁRIO – Rodrigo, já é possível mensurar (quantitativamente) os “graves prejuízos e demissões” para a indústria do turismo nos Estados Unidos em 2020-2021 com os efeitos da Pandemia e agora com o acesso restrito ?

A indústria do turismo representa cerca de 2.8% do PIB americano, e está entre as mais importantes e lucrativas do país. Aproximadamente 77 milhões de pessoas visitam os EUA anualmente. Entretanto, com a chegada da pandemia da Covid-19 em 2020, todos os indicadores de turismo caíram vertiginosamente, gerando grave prejuízo e demissões em praticamente toda a indústria do turismo no país. Para se ter uma ideia, em 2019 o turismo gerou 712 bilhões de dólares, enquanto em 2020, devido a pandemia, este número diminuiu para 396,37 bilhões. Uma queda de 42.1%.

DIÁRIO – Em quais condições o brasileiro pode viajar para os Estados Unidos nesse período de pandemia? 

Em primeiro lugar é preciso lembrar que as restrições impostas pelos EUA não proíbem a entrada específica de brasileiros, e sim de pessoas (exceto cidadãos americanos, portadores de green card e algumas outras raras exceções) de viajarem diretamente do Brasil para a América.  Existe a opção de uma pessoa no Brasil viajar primeiramente para algum país que não esteja sofrendo as mesmas restrições americanas e por lá permanecer por pelo menos 14 dias (tempo estimado para a quarentena), e de lá viajar para os EUA , desde que, evidentemente, possua um passaporte brasileiro com visto americano válido e apresente um resultado negativo de teste para covid-19 feito 3 dias antes da viagem aos Estados Unidos.

DIÁRIO – Você poderia fazer um paralelo entre a Carteira de Registro Nacional Migratório – CRNM (antigo RNacional de Estrangeiros) com o Green Card? (A pergunta se deve porque o Brasil ainda tem muito a caminhar nesse assunto de direitos e deveres de seus migrantes); 

Tanto a CRNM brasileira quanto o green card americano seguem, em linhas gerais, o mesmo propósito: regulamentar a permanência, residência, direitos e deveres de um estrangeiro no país. No entanto, até mesmo por ser muito mais antigo e procurado por pessoas de todo o mundo, o green card, e todos os processos relacionados a qualificação e obtenção do mesmo, possui uma legislação bem mais detalhada que a do Brasil para a CRNM, e que inclusive prevê a emissão de green cards em situações muito específicas, como os programas para green card através de parentesco, emprego, carreira ou investimento nos EUA, além de também ser emitido quando um estrangeiro atende a determinados critérios de asilo politico, refugio, situações humanitárias, etc.

Em 2019 o turismo gerou 712 bilhões de dólares nos Estados Unidos, enquanto em 2020, devido a pandemia, este número diminuiu para 396,37 bilhões. Uma queda de 42.1%.

DIÁRIO – Além de melhores salários e melhor qualidade de vida você pode listar outros atrativos que levam o brasileiro a estabelecer residência ou a montar empresa nos EUA? 

Hoje os 4 pilares que levam um brasileiro a buscar uma vida melhor nos EUA são: Segurança (especialmente devido aos baixos índices da criminalidade no país), melhores oportunidades para empreender ou trabalhar no mercado americano, educação de primeiro mundo para quem tem filhos e a oportunidade de poder gerar receita em dólar, moeda forte que não sofre com as mesma flutuações do mercado financeiro que afetam o Real brasileiro.

DIÁRIO -” Milhares de brasileiros não tiveram oportunidade de solicitar vistos de trabalho temporários”. De onde são esses brasileiros? qual a qualificação desses profissionais?    

De fato, muitos brasileiros não puderam solicitar vistos de trabalho temporário (como o H1-B e o L-1) nos últimos anos, devido ao congelamento na emissão destes vistos feito na administração americana anterior e também devido a pandemia, já que a Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil estão fechados desde a metade do ano passado.  A maior parte desses profissionais que foram prejudicados por estas medidas são provenientes das grandes capitais brasileiras (em especial São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro), e em geral são profissionais de áreas como TI, Engenharia, indústria de óleo e gás e de uma série de outros segmentos que exigem conhecimento técnico e experiência. 

DIÁRIO – O governo Trump restringiu o acesso de brasileiros aos Estados Unidos?

Apesar das dificuldades criadas para determinados tipos de imigrantes durante o governo anterior, é grande a quantidade de brasileiros que obtiveram o status de residentes permanentes legais nos Estados Unidos, o famoso Green Card, nos últimos 10 anos. Ou seja, 132.368 brasileiros já foram agraciados com um green card neste período. Este número impressiona mais ainda se comparado com as décadas anteriores: 91.293 nos anos 2000 e 95.118 nos anos 90.

Ainda de acordo com estatísticas do governo americano, 2019 registrou recorde de green cards aprovados em um mesmo ano para brasileiros, com 19.825 documentos emitidos, um número 30,2% maior do que o recorde anterior registrado em 2006, quando 17.903 cidadãos nascidos no Brasil conseguiram o direito a residência permanente nos EUA.

 

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