“Estamos lifestylizando os nossos hotéis”, afirma Mauro Rial, da Accor Hotels

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Mauro Rial, COO North & Hispanic Accor Americas na divisão Premium, Midscale & Economy, conversou com o DIÁRIO sobre as estratégias para tornar a Accor líder nessas novas regiões

POR Zaqueu Rodrigues com Edição do DT


Após celebrar 2022 como o melhor resultado de seus quarenta anos no Brasil, a Accor vivencia uma nova fase em 2023. O redesenho organizacional, o reposicionamento de suas marcas e as novas diretrizes de suas lideranças iluminam os novos caminhos percorridos pela rede francesa para continuar expandindo alinhada aos compromissos globais e às novas demandas do mercado de hospitalidade. Nas palavras de Mauro Rial, novo COO North & Hispanic Accor Américas na divisão Premium, Midscale & Economy, a Accor avança no projeto de ‘lifestylização’ de seus hotéis.
Especialista em finanças e negociações, Rial chegou ao mercado hoteleiro em 2017 para exercer a função de Chief Financial officer (CFO) da Accor. Desde então, desempenhou papeis de liderança em variadas frentes – na reestruturação do centro de serviços da Accor no Brasil, na expansão dos portfólios de marcas de luxo e de lifestyle, na criação da Accor Invest, na expansão. “Fizemos um grande trabalho; entre outros, investindo em tecnologia para robustecer o programa de fidelidade, canais de distribuição, marcas e o aplicativo da Accor”, especifica o executivo.
Agora, na posição de COO North & Hispanic Accor Américas na divisão Premium, Midscale & Economy, Mauro Rial tem a missão de expandir a liderança da Accor nessas regiões geograficamente grandiosas e culturalmente diversas. A expansão, no entanto, é um trabalho que ele já conhece de perto. A sua atuação foi decisiva, por exemplo, na compra da rede chilena Atton Hoteles, formada por 13 hotéis espalhados no Chile, Peru, Colômbia e EUA. A aquisição ampliou a liderança da Accor no mercado hoteleiro chileno, hoje considerado estratégico para as operações da rede. Em janeiro deste ano, a Accor inaugurou na cidade de Puerto Montt, na região de Los Lagos, no sul do país, o primeiro hotel chileno da bandeira Novotel, o Novotel Puerto Montt.

Nesta entrevista exclusiva concedida por videochamada ao DIÁRIO DO TURISMO, Mauro Rial ressalta a importância das Américas do Norte e Espanhola para as operações da Accor, compartilha uma visão panorâmica sobre as estratégias para expandir a liderança da rede hoteleira nessas novas regiões, analisa a sustentabilidade financeira da hotelaria e seus pilares contemporâneos como diversidade e meio ambiente, e reflete sobre os desafios do mercado hoteleiro diante de temas urgentes. Mauro ressalta que a mão de obra é o grande desafio do setor.

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A minha região, com as Américas do Norte e Hispânica, deve representar aproximadamente 3% da receita do grupo, dimensiona Mauro Rial. (Foto do projeto do Hotel Mercure Montevideo / Divulgação)

Cenário Econômico na sua chegada

Mauro Rial: O Brasil estava atravessando uma crise macroeconômica quando eu cheguei. Em 2015 e 2016, lembremos, o país fechou em decrescimento econômico. E, junto a isso, o setor hoteleiro também estava em crise, principalmente a crise de sobre oferta após a Copa do Mundo e Jogos Olímpicos realizados no Brasil. Então, por estar em crise, o setor estava em uma dinâmica de contenção de custos.

O melhor ano da hotelaria no país foi por volta de 2012, com taxas de ocupações em torno de 65 % a 7 0% e com diárias médias ajustadas pela inflação que ainda não conseguimos atingir.

A chegada da pandemia fez com que a gente começasse a tirar da gaveta algumas ideias inovadoras para conseguir, com uma equipe ainda mais reduzida, manter as operações dos hotéis.

Hoje, numa situação inflacionária e de redução de fontes de financiamentos para o setor hoteleiro por conta da pandemia, o gerenciamento de caixa na hotelaria é ainda mais importante.

A hotelaria tem uma volatilidade maior no fluxo de caixa, seja porque a atividade hoteleira está muito atrelada a atividade econômica, seja por conta de diversas renovações e investimentos fortes que é preciso fazer a cada cinco, dez anos para manter o produto atualizado. 

Diretrizes 

Mauro Rial: Eu sempre me defini, até agora, como um executivo financeiro que atua muito perto do negócio. Eu sempre achei que o executivo financeiro agrega valor ao negócio quando entende o modelo de negócio da empresa.

Nesse sentido eu tive a oportunidade de apoiar as operações, relacionamento com investidores, liderando um projeto super importante para a gente, que foi a compra da Atton Hoteles. Eu já estava muito perto do negócio, entendendo os desafios com um olhar financeiro e visão completa da gestão do negócio.

O fato de entender todo o processo de desenvolvimento e a importância da rentabilidade do investimento para o proprietário traz um valor agregado no ato gerenciar a operação do hotel. Eu acho que tenho muito para aprender em termos de operação, mas, ao mesmo tempo, estou sentindo nas trocas com as equipes, proprietários e equipes dos hotéis uma visão holística e capacidade de gestão de negócio.

A minha grande prioridade neste momento foi estruturar a equipe. Eu estou assumindo uma região nova, que a gente está criando. Essa região, lembremos, é geograficamente enorme, vai do Canadá até a Argentina, tirando o Brasil. É uma região que abarca marcas desde super econômicas até Premium, como Pullman, swissôtel, Mövenpick.

Para se ter uma referência, a Accor está no Brasil há quarenta anos. A Accor está nos países hispânicos há vinte e pouco anos – praticamente a metade do tempo. Então, é super importante ter uma equipe robusta, habituada para essa geografia tão importante e com a capacidade para conseguir o melhor resultado possível para trazer essa liderança que a Accor tem hoje no Brasil também para o resto das Américas. 

Presença da Accor nas Américas do Norte e Hispânica 

Mauro Rial: Hoje Accor tem, dentro das marcas que eu estou cuidando, 115 hotéis. São aproximadamente setenta e poucos hotéis administrados e trinta e poucos estão em franquias. É um portfólio bem equilibrado em termos de segmento –1/3 econômico, 1/3 Midscale e 1/3 Premium. E ele é diverso dependendo do país.

Hoje, em quantidade de quartos, a gente tem posição de liderança no Chile, com um portfólio bem robusto espalhado ao longo de toda a geografia do país, desde Puerto Montt, no Sul, onde a gente abriu, no ano passado, um Novotel, até a região Norte do Chile, como Iquique e Antofagasta.

Mauro Rial fala sobre os hotéis da marca Novotel inaugurados no Chile, como o Novotel Puerto Montt
Novotel Puerto Montt, na região de Los Lagos, no sul do país, foi o primeiro da marca Novotel inaugurado no Chile, mercado liderado pela Accor Hotels. Foto – Divulgação

A marca ibis está muito bem consolidada no Chile. Temos uma presença robusta também com hotéis Midscale e Premium, como Novotel e Pullman. Hoje temos três hotéis da marca Pullman no país. São excelentes propriedades – dois em Santiago e um em Viña Del Mar. A Accor tem 24 hotéis no Chile.

O segundo país onde temos uma presença relevante é a Colômbia, também em todos os segmentos. São cerca de vinte hotéis no país, com presença nos principais destinos turísticos.

O único segmento no qual a gente não atua, por enquanto, é o Premium. Estamos trabalhando duro com o desenvolvimento para trazer um Pullman, um swissôtel. Mas estamos com excelentes propriedades Novotel, ibis, Mercure, um Jo&Joe e Sofitel, que tem uma presença muito relevante.

Em menor medida estamos posicionados em todos os segmentos na Argentina e Peru, com aproximadamente doze hotéis nos dois países. Estamos presente em Cuba, onde temos um Pullman Resort, em Cayo Coco; no Paraguai, na cidade de Assunção; temos uma presença relevante na Bolívia, na cidade de Santa Cruz de la Sierra; temos presença no Panamá; 3 hotéis nos Estados Unidos e 5 hotéis no Canadá.

Mauro Rial: Hotel Ibis em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia.
Lobby do Hotel Ibis localizado em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Foto – Divulgação

No México, onde estou baseado, estamos com aproximadamente 35 propriedades, com uma forte presença da marca ibis. Hoje são trinta hotéis ibis. Estamos reforçando no país a marca Novotel. No ano passado abrimos dois hotéis Novotel na cidade do México e abriremos o terceiro até o final do ano, no centro histórico. Os três já contam com os conceitos novos da marca.

E temos presença no mercado de luxo com hotéis como Sofitel, Fairmont, Banyan Tree, em Mayakoba, na Riviera Maya. No ano passado abrimos o primeiro hotel da marca Mondrian, na Cidade do México.

Isso dá um pouco o panorama desde uma presença tímida nos Estados Unidos, por exemplo, até uma presença consolidada em outros países como Chile, Colômbia e Peru.

Perspectiva

Mauro Rial: O nosso grande perigo, quando a gente fala de negócio, é tratar todos os países do mesmo jeito e aplicar a mesma receita em todos eles, quando, na verdade, temos muitas similaridades históricas, como a língua, mas cada país tem uma realidade diferenciada.

O mercado de hospitalidade muda dependendo de cada país. O mercado visto na Argentina, por exemplo, é muito diferente do mercado que a gente encontra no México. Hoje, as Américas toda representam 8% do inventário da Accor.

A minha região – Américas do Norte e Hispânica – deve representar aproximadamente 3% da receita do grupo. E essa região tem um potencial enorme. A gente acredita que a melhor forma de trabalhar uma região tão grande é focando nos principais mercados.

Foco é fundamental. Um dos motivos pelos quais a Accor decidiu reestruturar as suas marcas e o gerenciamento delas em duas divisões foi trazer foco, trazer maior performance e acelerar o desenvolvimento.

Mauro Rial: Hotel Mercure Rosário, na Argentina
Hotel Mercure Rosário, na Argentina. Foto – Divulgação

A gente tem países estratégicos em termos de desenvolvimento. Colômbia é um deles, e, na minha opinião, está fazendo um ótimo trabalho de promoção do país no mercado internacional, e vem crescendo com diversas rotas internacionais, principalmente com EUA e Europa.

Depois, em menor medida, temos o Chile, Peru, Argentina e, por último, o México, que tem um enorme potencial. Nos últimos anos a Accor investiu no México, principalmente no segmento de luxo. Agora estamos com um olhar para os mercados considerando a divisão Premium, Midscale e Econômico.

Conceituando um hotel

Mauro Rial: A gente fala que estamos ‘lifestylizando’ os nossos hotéis de todas as marcas, até mesmo as marcas mais tradicionais, porque estamos inserindo o entretenimento como chave para proporcionar conceitos de Alimentos e Bebidas e melhorar as experiências dos hóspedes. Olhe, por exemplo, a conexão que os hotéis ibis têm hoje com a música.

A gente acredita que a chave disso é integrar o hotel dentro da comunidade onde ele está localizado. O espaço do meu hotel é, claro, para os hóspedes, mas é também para que os vizinhos possam desfrutar. E a gente consegue fazer isso com uma proposta de curadoria de alimentos e bebidas e com espaços para trabalho, como é o caso do coworking Wojo.

Estamos ampliando o entretenimento em nossos hotéis. Hoje temos inúmeros hotéis com uma programação divertida que inclui happy hour, apresentações de dj, bandas, eventos… O objetivo é tornar o ambiente do hotel mais divertido.

A gente faz parcerias com vinhos, cervejas, galerias de arte… muitos hotéis se tornam uma galeria de arte. Há ainda ações de ativação de marca, como o Art Battle realizado no hotel Pullman Vila OlÍmpia, em São Paulo.

Nos últimos anos a Accor investiu bastante para renovar os nossos conceitos de alimentação dentro dos hotéis com a ideia de oferecer propostas diferenciadas, com curadoria e entretenimento.

Há também conceitos específicos para determinados hotéis, como é o caso do rooftop do hotel Pullman Miraflores, em Lima, no Peru.

Hotel Mercure Montevideo reforça presença da Accor em diferentes segmentos da hospitalidade. Foto – Divulgação

Perfil da gestão 

Mauro Rial: A gente está vendo o México, o Caribe e a América do Norte como um eixo de oportunidades de crescimento. Se eu posso deixar uma marca nesta nova posição, eu espero que seja a de a Accor se tornar líder na América Latina, no Peru, na Colômbia, no México.

É uma região com grande potencial de desenvolvimento dentro do nosso setor. Tem uma riqueza natural enorme. Quando vemos a contribuição do turismo em nossos países, é muito tímida. Isso demonstra que a gente tem uma grande oportunidade para crescer.

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