Conta a história que no século XIV os espanhóis chegaram ao Maranhão trazendo a cultura dos ibéricos (a pólvora e a varíola) e logo em seguida os portugueses com nossa língua original, trouxeram suas virtudes e seus defeitos. No século XV tocam essa terra as naus dos holandeses e com a força bruta dos conquistadores expulsam de São Luís os espanhóis. Numa sequência de lutas e batalhas sangrentas, um pouco depois, os lusitanos expulsam os holandeses para os seus países baixos.
(REDAÇÃO DO DT – com reportagem e fotos de Patrícia de Campos)
*Artigo publicado originalmente no dia 21 de janeiro de 2022
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Nesses mais de 140 anos (entre o descobrimento e a expulsão dos holandeses), esses três povos europeus formaram o povo maranhense, juntamente com o índio original e o negro trazido da África para ralar nas roças como escravo.
Em recente visita à capital Maranhense o DIÁRIO ficou face a face com essa mistura heterogênea de raças, cores, peles e sangue.
Em São Luís, não é difícil encontrar pessoas da terra, com pele clara e olhos azuis e com cabelos ondulados, ou afro-descentes com os cabelos lisos comuns nos povos indígenas.
A história conta que o sangue dos negros trazidos da Guiné Bissau, Cabo Verde, Cachéu, Luanda, hoje corre nas veias da maioria dos maranhenses. Não dá para negar as nossas origens indígenas, europeias e africanas, e aqui, todos se sintam incluídos.
Assimilar e ser assimilado
A força étnica de um povo antes de se expressar em suas danças, comidas e sonhos, se manifesta silenciosamente através do tempo – em sua capacidade de assimilar e ser assimilado, de unir e misturar-se, forjar-se em algo múltiplo, mas indivisível, sem perder a essência e a magnitude. E vemos isso na cor, na pele, no rosto do maranhense.
Quando se percorre o interior do estado, essa mistura de raças – conhecida como miscigenação – é ainda mais forte, como se pode ver no rosto de dona Felicidade, de 80 anos, moradora de Flecheiras. Ela traz na pele a cor do negro que foi escravo e nos olhos o verde profundo dos holandeses conquistadores.
Magnitude cabocla
João, o vendedor de sorvete da Rua Estrela é filho dessa revolução biológica que acontece no cruzamento de raças distintas, vindas de lados opostos do globo. De uma mãe índia e um pai branco, João converte-se em sua magnitude cabocla e orgulha-se da pele, da força e da cor que tem.
De uma mãe índia e um pai branco, João converte-se em sua magnitude cabocla e orgulha-se da pele, da força e da cor que tem.
No mercado encontro o cacique Xiepyhunrendá, chefe da tribo dos Ka’apor, que fica na divisa com o Pará. Ele vende a arte de seu povo representada por cocares, pulseiras, cestarias e mantém com isso a tradição e a singularidade dos povos originais das florestas.
Buscar a face
Em tempos tecnológicos e de facebook é difícil encontrar no labirinto de tantos significados o nosso rosto. É difícil encontrar na indústria do presente um espelho que nos reflita fielmente. Mas podemos buscá-lo em nosso país, em nossa terra, em nossa gente, por meio de outros rostos, de outras fisionomias, de outras faces que, independente da cor, do viço e da idade, representam não só o nosso passado e o nosso presente, mas a nossa verdade mais profunda e nos faça refletir sobre quem realmente somos. No Maranhão foi assim, em São Luís foi possível ver isso.
Outros rostos de São Luís, do Maranhão (Crédito: divulgação):