Heitor Sergio Reali Fragoso, o Viramundo, parceiro de Silvia Reali, a Mundovirado, morreu no último dia 24, véspera de Natal, aos 76 anos.
Por Paulo Atzingen*
Quando recebi, anos atrás, a revista Viramundo e Mundovirado meu primeiro sentimento foi de espanto. Me espantei pela beleza, cores e conteúdo da publicação digital. Escrevi que não servia para nada termos dezenas de carimbos no passaporte se não soubéssemos traduzir essas experiências com impetuosidade, inquietude e força, ao mesmo tempo com graça, calma e leveza. Heitor Reali e Silvia Reali, Viramundo e Mundovirado, respectivamente, faziam isso.
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Dia desses, na véspera do Natal, outro espanto. Soube por colegas, que Reali partira para uma viagem intergaláctica desacompanhado e que a dupla Viramundo e Mundovirado foi desfeita.
Foi Reali, junto a Silvia, que nos oferecia um mergulho extra-sensorial, além das alfândegas, free-shops, outdoors e das superfícies planas e óbvias dos influencers. Foram eles que serviram de baliza para saber separar o ouro da bijuteria, o essencial do supérfluo.
A proposta de Viramundo e Mundovirado era criar uma ligação com seus leitores, convidando-as a percorrer o mundo, entrar nas histórias, recuar no tempo ou arrebatá-los para planos mais elevados que não cabe aqui explicar.
Como amigo dos dois, sinto aqui o buraco que se abre nas redações onde impera o bom gosto. Pressinto o buraco nos corações dos familiares e especialmente, no de sua companheira, Silvia:
“Heitor tinha um coração de menino e queria sempre descobrir locais intocados de natureza pura e uma alma de viajante com fome de aprender. Sim, porque tudo o que aprendemos foi nas viagens, um aprendizado muito forte em todos os sentidos. Lições poderosas. E era tão bom e maravilhoso aprender assim que ansiávamos viajar mais, pensando em quanto mais poderíamos aprender”… me escreve Silvia Reali.
Silvia descreveu, lá atrás, sua ligação com Heitor e uma das fontes de onde beberam tanta imaginação. Em entrevista ao DIÁRIO explicou que em uma das viagens pelo sertão ouviram uma trova que também faz parte do livro Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa: “Eu mais o meu companheiro vamos bem emparelhados: Eu me chamo ViraMundo, E ele é Mundo-Virado”.
Guardada em sua casa na Serra da Cantareira, em São Paulo, Silvia conta que conhece Heitor desde os 16 anos e que também já sentiu medo:
“Devo te confessar, porém, que eu tinha medo. Muito. Mas, como refrear alguém cujo lema era “ leve sua amada para a aventura “? E foi o que ele sempre fez e eu me transformei, vi a alegria que é viajar com essa busca, ousar, se superar, e voltar pra casa outra pessoa”…
“E o amava ainda mais a cada viagem pelo que ele me proporcionava”, declara.
Essa gratidão, sentimento de almas refinadas como a de Silvia, fica aqui implantada nessas rodoviárias e nesses aeroportos de onde partiu nosso Viramundo, no último dia 24, para sua viagem mais longa.
*Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO