Um Hotel Inundado por livros, bibliotecas, exposições permanentes e temporárias e a arte de um dos maiores poetas do Rio Grande do Sul, Mário Quintana.
Por Paulo Atzingen, de Porto Alegre (texto, fotos e vídeo)*
Porto Alegre ainda carrega as marcas da enchente de maio de 2024. Os muros das casas, das lojas e dos mercados, a linha d’água permanece visível — 1,60m de lembrança. Mas enquanto a cidade se recompõe, há uma outra força que a percorre, também caudalosa, silenciosa e vital: a cultura.
Em minha passagem por Porto Alegre no início de novembro me chamou a atenção uma inundação diferente. No centro histórico, um edifício de cor salmão resiste às águas do tempo e ao ciclone tecnológico que nos confunde. O antigo Hotel Majestic, onde viveu Mário Quintana, já não hospeda viajantes, mas sim palavras, livros, pensamentos. Transformado em 1990 na Casa de Cultura Mário Quintana, o prédio tornou-se um ponto de encontro da memória literária do Rio Grande do Sul.

Quintana viveu aqui entre 1968 e 1980. Seus passos, discretos como sua poesia, ainda parecem ecoar nos corredores. Hoje, o espaço abriga bibliotecas, salas de leitura, exposições, acervos e uma reprodução fiel do quarto onde o poeta morou. Alguns andares carregam nomes de autores gaúchos e brasileiros: Érico Veríssimo, Moacyr Scliar, Lucília Minssen. Também há espaço para outras vozes, como a de José Lutzenberger, ambientalista homenageado no jardim, da cobertura, e a de Elis Regina, com uma sala dedicada à sua obra.
Há um fluxo constante de estudantes. Crianças e jovens ocupam as salas com curiosidade, guiados por professores e atentos ao que o lugar oferece. É nesse movimento que se percebe o valor da cultura como parte da reconstrução da cidade.

Porto Alegre se reergue com trabalho, mas também com imaginação
Esse espírito se revela com ainda mais força a poucas quadras dali, na Praça da Alfândega. A Feira do Livro de Porto Alegre, em sua 71ª edição, reforça a relação íntima da cidade com os livros. É considerada a maior feira literária a céu aberto da América Latina — e mais do que números, impressiona pelo envolvimento dos moradores.
Neste ano, uma iniciativa da Prefeitura levou mais de 7 mil alunos da rede municipal para escolher seus próprios livros. Com um cartão de R$ 60, cada criança teve liberdade para explorar as bancas e levar uma obra para casa. Uma pequena revolução na formação de novos leitores.
“Estamos falando de uma experiência completa, que incentiva o hábito da leitura e fortalece a formação de novos leitores”, afirma Maximiliano Ledur, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro.

Estátuas
Literatura, em Porto Alegre, não é evento isolado. É linguagem urbana. Está nas praças com estátuas de Goethe e Freud, nas livrarias de bairro, nos teatros, nos centros culturais. Está na forma como a cidade reage à onda midiática e tecnológica que tem congelado corações e mentes.
E é nesse cenário de recuperação e memória que a imagem do “hotel inundado” pela obra de Mário Quintana ganha nova força. O Guaíba, agora calmo, reflete uma cidade que escolhe reconstruir-se com cultura, que transborda.

O Poeta
Mário Quintana nasceu em Alegrete, em 1906. Chegou a Porto Alegre ainda jovem, trabalhando como jornalista e tradutor. Sua obra literária começou a ganhar forma nos anos 1940, com o lançamento de A Rua dos Cataventos. No período em que viveu no Hotel Majestic, publicou títulos como Caderno H e Apontamentos de História Sobrenatural. Foi também responsável por traduções de Virginia Woolf e Marcel Proust. Faleceu em 1994, e dois anos antes havia testemunhado a transformação do hotel onde morou na Casa de Cultura que hoje leva seu nome.

Museus
Porto Alegre abriga mais de 50 museus, centros culturais e memoriais, muitos com entrada gratuíta. Esses espaços resgatam a arte, a história e a identidade do povo gaúcho, reunindo acervos permanentes, mostras contemporâneas e experiências interativas que conectam passado e presente.

Centro Histórico
O Centro Histórico de Porto Alegre é onde a cidade nasceu. Lugar onde o patrimônio arquitetônico, a cultura e a vida cotidiana convivem lado a lado. Suas ruas guardam séculos de história, resistência, comércio e encontros, oferecendo uma imersão viva na identidade porto-alegrense.

Parques Praças e Áreas Verdes
Com centenas de praças e grandes parques urbanos, Porto Alegre é a capital mais arborizada e uma das mais verdes do Brasil. Áreas de convivência, lazer, esporte e contemplação se espalham por toda a cidade, promovendo qualidade de vida e conexão com a natureza.
*Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO
**O jornalista teve o apoio do VISITE PORTO ALEGRE (POACVB) durante sua estadia na cidade




