Durante a 62ª Equipotel, em São Paulo, Alexandre Sampaio, presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), detalhou os principais nós da hotelaria brasileira. Em conversa com o DIÁRIO DO TURISMO, ele abordou a escassez de mão de obra qualificada, a adaptação das escalas de trabalho e a tensão em torno dos preços de hospedagem para a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro.
Escassez de trabalhadores qualificados
Sampaio acompanhou atentamente as discussões do Fórum de Operadores Hoteleiros e se disse convencido de que a escala 12×36 é um caminho sem volta. “Eu, a princípio, defendi a manutenção da 6×1, mas a realidade das famílias e a necessidade de flexibilidade mudaram tudo. O 12×36 é uma verdade inexorável e vai crescer cada vez mais”, explicou.
A nova jornada, entretanto, representa custos extras que não podem simplesmente ser abatidos na reforma tributária. “Precisamos encontrar um modus operandi para lidar com isso, pois impacta hotelaria e alimentação fora do lar”, reforçou.
Outro ponto sensível é a segurança no deslocamento de funcionários, especialmente os que moram longe e trabalham em turnos noturnos. “É preciso exigir das autoridades mais vigilância nos principais corredores de transporte para que os trabalhadores cheguem em casa protegidos”, afirmou.
Para Sampaio, planos de carreira ainda são raros em redes hoteleiras e restaurantes. Essa realidade, acredita, tende a mudar com uma política tributária mais clara e juros menos sufocantes, que permitam às empresas planejar o crescimento. “Hoje, quem investe é herói. Hotelaria e alimentação vivem de mão de obra qualificada e dependem de um planejamento sólido”, avaliou.
Ele defende o fortalecimento do Sistema S, especialmente o Senac, para prover capacitação mínima. “O turismo está crescendo e trará mais visitantes, inclusive estrangeiros. Precisamos resolver essas questões culturais e de qualificação para sustentar esse avanço”, completou.

COP30: preços e logística em Belém
A escolha de Belém para sediar a Conferência da ONU sobre Clima em 2025 também esteve no centro da entrevista. “Quando o governo optou politicamente pela Amazônia, sabia que haveria um problema intrínseco: uma cidade que não tem capacidade para receber 60 mil pessoas”, destacou Sampaio.
Segundo ele, a alta de preços não se deu de forma cabal pela hotelaria. Muitos hotéis fecharam contratos assim que o evento foi confirmado, seguindo a tendência de outras COPs, que sempre elevam tarifas. O que elevou de fato os valores foi a exacerbação nas plataformas de aluguel de imóveis, onde moradores viram oportunidade de ganho rápido, empurrando os hotéis a reajustes.
O presidente da FBHA citou medidas para conter abusos, como termos de ajuste de conduta articulados pela Casa Civil, que estabeleceram teto de 20% acima dos valores praticados no Círio de Nazaré, e o bloqueio de preços fora do padrão por parte das plataformas.
Ele lembrou ainda da chegada de navios-hotel e da construção de novos empreendimentos, entre eles um grande hotel público de 400 quartos, que aguarda operador. E revelou que redes e hotéis independentes estão pagando mais para manter suas equipes, evitando que sejam cooptadas por serviços turísticos de receptivo.
Para Sampaio, a tendência é de acomodação. “Vai andar, bem ou mal vai andar”, resumiu. O maior risco, em sua avaliação, é de imagem: “Belém ainda tem quase 60% do seu esgotamento sanitário carente e bairros muito pobres. Se essas fragilidades forem expostas, podem afetar a imagem da cidade, do Brasil e da Amazônia.”
Durante a Cop30, que acontece de 10 a 21 de novembro em Belém do Pará, a federação que ele preside será representada pelo sindicato local de hotelaria e alimentação. (Entrevista feita pelo editor do DT, jornalista Paulo Atzingen)
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