Na noite anterior, antes de publicar esta entrevista com José Augusto Cavalcanti Wanderley, algo me incomodava: o que escrever na introdução do perfil deste personagem de Itaipava (RJ) que pudesse fazer jus à complexidade, à história e à beleza de propósito de um ex-publicitário, ex-funcionário do Jornal do Brasil (e muitos outros qualificativos)? Como começar um texto sobre uma pessoa que só vi uma vez, mas que aos 73 anos, ainda continua na ativa trabalhando em prol da cultura, da arte, do turismo e da educação?
por Paulo Atzingen* – RETRÔ 2020 – PUBLICADO DIA 13 DE JUNHO
Aí me lembrei do livro “Perdas & Ganhos” de Lya Luft que tem me acompanhado nesta quarentena: “A criança é o chão sobre o qual caminharemos o resto de nossos dias.”, escreve a escritora gaúcha em uma de suas páginas. Essa frase poderia explicar um pouco a história de cada um de nós, mas cai como uma luva ao explicar José Augusto Cavalcanti Wanderley.
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Wanderley vive em sua propriedade entregando sonhos e esperança por meio de dois projetos: o primeiro voltado ao resgate da vida e passagem na cidade de Petrópolis do escritor e aviador Antoine de Saint-Exupéry, autor do livro “O Pequeno Príncipe” (segundo livro mais vendido no mundo), que, quando vinha à região, hospedava-se em sua residência de Itaipava, chamada “La Grande Vallée”. O segundo projeto de Wanderley é voltado ao seu hobby desde a infância – brinquedos – tendo criado “La Petit Galerie du Jouets” com um espaço para visitação de suas miniaturas – automóveis, soldadinhos de chumbo, trens elétricos, fotos, livros, DVDs, entrevistas e muitas outras coisas – com histórias de equipes de automobilismo e pilotos. Esses dois projetos já seriam suficientes para descrever Wanderley.
No entanto, um outro trecho do livro chega ainda mais perto dele: “Talvez seja utopia, mas se eu não deixar que vá embora a minha sensibilidade, quando envelhecer , em vez de estar ressequida eu terei chegado ao máximo exercício de meus afetos“, escreve Lya Luft. É isso, José Augusto Cavalcanti Wanderley transita próximo ao máximo de seus afetos e distribui isso a todos os que o visitam. O DIÁRIO o entrevistou, confira:
DIÁRIO: Esse hábito de oferecer às pessoas a infância vem desde quando?
Então, desde de muito novo em sempre tive uma relação com Itaipava e com a região, visto que meus pais e meus irmãos, e eu claro, sempre tivemos muito carinho pelo sítio, eu morava no Rio e sempre vinha passar o fim de semana em Itaipava. E minha família sempre contava a história do sítio, e eu fui me interessando pelas narrações que eu ouvia sobre antigo proprietário Marcel Reine, pela história da aviação francesa, e pelo livro “O Pequeno Príncipe”, e seu autor Antoine de Saint-Exupéry, que também era piloto e amigo de Marcel Reine.
Com o passar dos anos, fui estudando mais e mais, e quando vim morar definitivamente em Petrópolis, o que hoje completam-se 4 anos, tive a ideia com o grande incentivo da minha esposa Maria Elisa de contribuir para o turismo da região, contando a história desses heróis da aviação e desse grande livro do Principezinho que com certeza é importante para muitas pessoas. Isso me fez adotar uma postura lúdica contando da minha própria maneira sobre a jornada do príncipe para as crianças, e em contrapartida eu estava na minha própria jornada, começando um trabalho de história e turismo aqui na cidade, com o intuito de reduzir minha jornada de trabalho no Rio de Janeiro. É importante lembrar que o principal não é o ganho financeiro, e sim poder presenciar o brilho nos olhos de todas as crianças, e jovens, e todas as famílias que vêm aqui visitar. Poder contar a história de vida e obra de Saint-Exupéry e seus camaradas aviadores franceses, rodeado dessa natureza e ambiente limpo e agradável, traz uma sensação diferente para os visitantes.
DIÁRIO: Quando você pensou em montar o “La Petit Galerie du Jouets” e por quê?
Quando eu era criança, sempre me encantava com as vitrines de Natal, e sempre ganhei muitos brinquedos. Mas o que eu mais gostava eram os carrinhos das mais variadas cores e modelos. Com o passar dos anos, parte desse menino se manteve vivo e o resultado está hoje nessa grande galeria. Essa galeria foi aumentando com o passar dos anos e a grande razão para eu manter essa paixão foram meus filhos, André Gustavo e Aline que hoje não estão mais conosco, e também minha filha Ana Lúcia, que me deram forças para seguir adiante, e não deixar morrer esse hobby de criança.
Hoje, essa galeria que chamo de “La Petit Galerie du Jouets” é distribuída em 7 salas onde era a antiga cocheira dos cavalos no sítio, distribuídas em cerca de 6 mil peças, selecionadas por países, carros de competição, livros, posters, vídeos e cds, e por último, a cereja do bolo: a minha própria Estrada de Ferro Leopoldina, com diversas composições em maquete em perfeito funcionamento, do ano de 1948. Algumas curiosidades da galeria é que tenho o carro que me levou da maternidade para casa ao nascer, o auto que aprendi a dirigir aos 11 anos, meu primeiro carro comprado aos 18 anos, o boné de Ayrton Senna arremessado aos torcedores ao vencer o GP Brasil de 1993, posters de Nelson Piquet, bem como a Lotus especial de Emerson Fittipaldi.
DIÁRIO: Você distribui quase todo dia pílulas de sabedoria filtradas do livro de escritor e aviador Antoine de Saint-Exupéry, autor do livro “O Pequeno Príncipe”. O que lhe motiva a fraternizar esse mundo?
Por ter a consciência de que o livro “O Pequeno Príncipe” não apenas foi escrito para crianças mas também para adultos, sentimos a necessidade de ressignificar algumas das frases icônicas que o autor escreveu e dar um novo sentido aos personagens do livro que estava nas entrelinhas da obra. Uma vez que o livro continua sendo tão atual e ao mesmo tempo tão conhecido, decidimos contribuir para os amantes do livro ressignificando trechos do livro que já tem um grande impacto, sabendo a mensagem que o autor queria realmente passar, o entendimento do leitor claramente se amplia.
Saint-Exupéry queria nos ensinar o que ele aprendeu com a vida da forma mais lúdica e pura possível, é difícil imaginar um livro que fala das dores da Segunda Guerra Mundial, preconceito e até sobre morte, em um livro tão lúdico. De forma estratégica, nossa ideia é incentivar e mostrar aos leitores um pouco do que eles irão acompanhar vindo nos visitar.
DIÁRIO: Quem cultiva a sua roseira?
Um lado interessante, é que aprendi a cultivar rosas através do meu pai, que cultivava rosas híbridas. E um fato importante é que ele dava nome a elas, mostrando um certo cuidado com sua criação. Com isso aprendi e cultivei um pequeno roseiral de 40 mudas, e dessa forma, consigo manter sempre por perto o encantamento delas, seja no café da manhã ou no jantar, elas estão sempre à vista.
Estrada do Ribeirão Grande, 102
Itaipava – Petrópolis – Km 57 da BR 040 sentido Rio de Janeiro.
T: +55 24 2222.1388 / C:+55 21 99354.3179