Publicado originalmente dia 28 de agosto
Turismólogo com habilitação em hotelaria e extensão em planejamento, Julio Mendes Gavinho é presidente do grupo hoteleiro dois ponto zero. S.A., guarda chuva de duas marcas econômicas, a Zii Hotel e a Arco Hoteis. Em entrevista exclusiva ao editor do DT, jornalista Paulo Atzingen, Júlio é incisivo ao defender seu setor: “Um hotel super econômico, com cem apartamentos, por exemplo, emprega 20 pessoas; são 20 famílias se sustentando com dignidade. Alguém dentro da determinação de políticas monetárias dentro do governo precisa olhar isso”, afirma ao responder sobre a pesada carga tributária sobre os serviços hoteleiros. Além de um censo crítico aguçado para as questões econômicas e políticas, Júlio é também muito assertivo nos assuntos que gravitam em torno da sustentabilidade. ““Neste momento, o foco tem que estar em garantir uma vida mais longa para o planeta que habitamos do que botar um pouquinho de dinheiro no bolso”, diz ao defender práticas sustentáveis em empreendimentos hoteleiros, em especial no uso da água. Abaixo, a entrevista completa:
DIÁRIO – De acordo com uma pesquisa recente da Consultoria JLL , ibis é a rede de hotéis com maior oferta de apartamentos do Brasil (14.692), seguido da Mercure, (10.256) e ibis Budget (4.831). Quando a doispontozero S.A. entrará nesta lista dos dez maiores grupos hoteleiros do Brasil em número de apartamentos?
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JULIO GAVINHO – Com esses números, se os colegas mantiverem o crescimento orgânico, no começo do ano que vem estaremos bem próximos dos três mil apartamentos. Acho que estaremos nessa lista no meio do ano que vem. Três mil apartamentos com duas marcas.
Não que eu considere que tamanho seja documento. No nosso caso especificamente, a qualidade e inovação do produto que estamos colocando no mercado é tão relevante que, com certeza, ocuparemos um espaço maior do que a quantidade de apartamentos que temos.
DIÁRIO – Algumas redes hoteleiras buscam meios para amenizar gastos por meio de economia de insumos e baixo custo na mão de obra. Outras, buscam medidas socioambientais, como forma de economizar lá na frente. Qual foi sua opção?
JULIO GAVINHO – Eu já nasci conhecendo as medidas socioambientais responsáveis. Essa é a minha diferença e de outros colegas. Eu já nasci assim. Minha empresa já nasceu sustentável. Já nasci com reuso de água dos prédios, estação de tratamento, iluminação led no prédio inteiro, aquecimento solar… Para mim é muito mais fácil, mais barato, desenvolver esse produto desta forma, do que um colega, que tem um prédio de cinco ou dez anos, implantar esse tipo de coisa. É uma medida inteligente, mas, neste momento, o foco tem que estar em garantir uma vida mais longa para o planeta que habitamos do que botar um pouquinho de dinheiro no bolso.
Neste momento, o foco tem que estar em garantir uma vida mais longa para o planeta que habitamos do que botar um pouquinho de dinheiro no bolso”.
DIÁRIO – O que você considera mais marcante dentre os vários projetos e ações sustentáveis dentro das suas unidades hoteleiras?
JULIO GAVINHO – No nosso caso, basicamente, a água. Em praticamente todos os hotéis temos poços artesianos outorgados, com tratamento, temos uma estação de tratamento de reuso com um processo, em média, de 2,3 mil litros de água por hora: são águas utilizadas dentro do prédio, tratadas e são devolvidas para o prédio. Depois temos a parte da energia solar. Basicamente, o fato de colhermos a nossa água através dos poços, tratar a nossa água utilizada e depois tratar o nosso esgoto antes de devolver para a rede pública, acho que isso não tem valor para a sociedade. Gostaria que todos os outros prédios também fossem assim. Então teríamos a garantia de que não faltaria mais água.
DIÁRIO – Vemos pelas estatísticas que o RevPar em 2015 está em declínio e que há uma expectativa que em 2016, com as Olimpíadas, e a reação da economia, o RevPar vai tornar a crescer. O que você acha disso?
JULIO GAVINHO – Em primeiro lugar eu acho que os consultores da JLL são pessoas otimistas. Longe de mim ser o emissário do caos, mas eu não vejo perspectivas positivas para 2016. Em 2016 ainda vamos colher ainda um pouco dos reflexos de 2015. A queda do RevPar em 2015 está sendo sentida por todo mundo e não podemos esquecer que o estudo diz isso como média, ou seja, tem cidade no Brasil onde o RevPar caiu 40% e cidades onde caiu menos. Isso serve para alertar a todos de que podemos fazer o esforço que quisermos dentro da administração, dentro do corte de despesas e tudo o mais que fazemos dentro da nossa empresa, mas não dá pra falar de economia em casa de desempregado. O que precisamos fazer é arrumar um emprego, arrumar dinheiro. O que precisamos é fomentar a economia, fazer com que as pessoas viagem e, com isso, ultrapassar essa marca muito perigosa de 15% de receita por apartamento existente dentro dos hotéis.
DIÁRIO – O que tem impactado economicamente um empreendimento hoteleiro hoje?
JULIO GAVINHO – Receita. O nosso problema [do setor] hoje é receita. De novo, podemos inventar festivais gastronômicos, todo tipo de economia, podemos fazer o que quisermos, mas não podemos inventar hóspedes.
Empresas que faziam reuniões presenciais, hoje estão gastando metade do dinheiro para fazer uma vídeo conferência, regionalizando e dando preferência para as suas operações regionais para não dependerem tanto da matriz e diminuírem o custo de viagem. Isso tudo, que, nesse momento, parece uma queda eventual, pode, em uma parte relevante, virar uma tendência no nosso setor.
DIÁRIO – E a carga tributária?
JULIO GALVINHO – Nosso negócio basicamente movimenta dois pilares da economia do país. Em primeiro, você não infla um hotel, você precisa construí-lo, depende de uma construtora, depende de um projeto e de um monte de gente para colocar um hotel de pé. Somos grandes fomentadores. Em segundo lugar, nosso negócio é um negócio eminentemente de serviços, o que significa que temos gente, emprego. Um hotel super econômico de tamanho pequeno, com cem apartamentos, por exemplo, emprega 20 pessoas, são 20 famílias se sustentando com dignidade. Alguém dentro da determinação de políticas monetárias dentro do governo precisa olhar isso.
Você não infla um hotel, você precisa construí-lo, depende de uma construtora, depende de um projeto e de um monte de gente para colocar um hotel de pé. Somos grandes fomentadores”
DIÁRIO –A doispontozero comprou a Arco hotéis. Qual foi o principal motivo dessa absorção?
JULIO GAVINHO – Naquele momento eu precisava imprimir velocidade para o desenvolvimento da minha plataforma. Não fosse a Arco, hoje eu estaria abrindo o meu segundo hotel. O fato de termos adquirido a Arco em junho do ano passado, instantanemente nos deu 1,2 mil apartamentos. Hoje, em operação, temos 1440 apartamentos, considerando Pouso Alegre, que abre no mês que vem. Foi fundamental como estratégia de colocação de investimento.
Julio, este Homem é sucesso absoluto, tem propriedade no que fala, um dos melhores e mais competente Diretor Executivo do Brasil, eu Adailson Moura, aprendi bastante com este Homem..