Lockdown na China e guerra na Ucrânia – prenúncio de caos logístico global

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O porto de Xangai, na China, é o maior do mundo, com grande capacidade de movimentação de cargas. Possui um cais de 20 quilômetros e um total de 125 ancoradouros. Para entender essas dimensões, basta pensar que o porto de Santos, no Brasil, tem um cais com extensão de 16 km e 65 ancoradouros, embora 14 sejam terminais privados.

Alessandra de Paula (*)


Em termos percentuais, 26,4% do movimento de exportação e importação desse porto tem como destino a China, que é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, para onde foram enviados 32% dos bilhões de dólares da receita de exportações nacionais.

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Com o lockdown decretado pelo governo chinês desde o início de abril, devido à política de covid-zero, o movimento de carga e descarga em Xangai está quase paralisado, o que traz um impacto logístico de grandes proporções. Já são mais de 300 navios parados no mar à espera de autorização para o desembarque de mercadorias procedentes de diversos países do mundo.

No Brasil, as consequências do lockdown na China, que impede que os caminhões de transporte cheguem ao porto, já se fazem sentir principalmente na indústria farmacêutica, pois muitos insumos para diversos medicamentos são importados do país asiático. Também já se observa a diminuição de oferta de componentes eletrônicos, tanto para as indústrias de comunicação como para a fabricação de automóveis e máquinas agrícolas.

Com a movimentação logística limitada, aliada à dificuldade de circulação dos caminhões de transporte, há redução de oferta dos produtos, embora a demanda tenha aumentado, como no Brasil, em virtude da aproximação do inverno, o que acarreta aumento das doenças respiratórias, para cujo tratamento vários medicamentos não são encontrados.

Em função do lockdown, o porto está funcionando com metade de sua capacidade, com reduzida movimentação de contêineres, o que leva a previsões bastante pessimistas para os próximos meses.

Caso a movimentação do porto de Xangai não retorne à normalidade em período próximo, haverá paralisação no mercado global de cargas devido à falta de contêineres e até mesmo de navios, uma vez que as viagens marítimas são mais demoradas.

Outro acontecimento que poderá trazer danos à economia internacional é a guerra entre Rússia e Ucrânia. Para o Brasil, o impacto maior será para o agronegócio na compra de fertilizantes agrícolas. A diminuição de oferta do petróleo russo e os consequentes aumentos impostos pelos países exportadores poderão acarretar aumento nos fretes.

Nesse caso, nem mesmo a utilização de outro modal de transporte, como o marítimo, poderá ser uma alternativa de solução, uma vez que, entre os países, as distâncias marítimas são grandes, o que elevará os custos.

A Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) não registrou diferença no quadro de oferta. O setor ainda não superou a escassez desde o início da pandemia.

O consumidor já deve ter observado a dificuldade crescente em encontrar peças de reposição ou componentes para seus aparelhos eletrônicos, como notebooks e computadores pessoais, assim como celulares.

Nesse cenário, com o porto de Xangai fechado e a guerra da Ucrânia ainda acontecendo, os problemas estão se multiplicando. Superar tudo isso e dar conta de todas as demandas é o grande desafio da logística para os próximos meses.


*Alessandra de Paula é coordenadora dos cursos de Logística e Gestão do E-commerce e Sistemas Logísticos da Escola de Gestão, Comunicação e Negócios do Centro Universitário Internacional Uninter.

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