Redação do DT
Causando discordâncias entre as principais entidades da hotelaria brasileira e uma das maiores representantes das OTAs do Brasil, o aumento do comissionamento da Decolar.com foi discutido e explicado a partir do ponto de vista do presidente da Associação Brasileira de Resorts, Luigi Rotunno. A decisão da Decolar causou o bloqueio parcial ou total das reservas hoteleiras de estados como Minas Gerais e Paraíba, por exemplo, como reações contrárias ao aumento, por parte dos hotéis. Rotunno, além de pontuar questões relacionadas ao impasse, comentou as mudanças no último semestre da entidade que representa e os avanços do setor em Brasília. Confira:
DIÁRIO – Qual é o posicionamento da ABR frente ao impasse relacionado à Decolar.com?
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LUIGI ROTUNNO – A ABR já se posicionou até por escrito, por meio de uma carta que enviamos à Decolar, tivemos alguns encontros com eles e, obviamente, durante a nossa última assembleia geral, todos os nossos associados se manifestaram contra esse aumento de comissionamento, isso é bastante óbvio. Mesmo com alguns associados que aceitaram a condição, são associados que não têm uma venda relevante com a Decolar, então não questionaram tanto o contrato. Mas a maioria é contra. Não é só o aumento do comissionamento da Decolar, mas a tendência que eles estão marcando dentro do mercado. A Decolar aumentando, todos se sentirão a vontade para aumentar a tarifa, mesmo as operadoras, porque as operadoras se baseiam nas OTAs, um aumentando, todo mundo aumenta.
Nós, como ABR, consideramos que temos a tarifa mais alta do mercado e somos os mais prejudicados. As OTAs não calculam por comissão de vendas, mas por porcentagem sobre a tarifa. Quem banca mais sobre a comissão são os resorts, com o produto mais caro.
Outra preocupação é sobre os produtos all inclusive. Essa comissão é baseada no valor total do pacote. Nos all inclusive tem a bebida inclusa, que é o segmento com a maior inflação no momento. Se comissiona em cima de tudo. Pode gerar uma expectativa para o cliente final que não é a realidade. O comprador espera, com toda a razão, um produto equivalente ao que ele pagou. Ele não quer saber quanto é a comissão. Se você tira 20% ou 30% de comissão sobre o preço do pacote, o verdadeiro valor entregue, não é aquele que ele pagou. Quando mais aumenta essa margem, maior o risco da decepção do cliente final.
DIÁRIO – Considerando a divisão das vendas, a Decolar é uma parte do setor todo. Isso impacta realmente? Existem outras fontes de receita.
LUIGI ROTUNNO – O maior problema não é o quanto a Decolar impacta na receita dos resorts ou hotel, mas a dinâmica do mercado, o exemplo que eles estão dando. É dizer que as operadoras e agências podem aumentar a comissão de forma desproporcional, sem avisar ninguém e impondo isso como uma condição. Isso é inadmissível. Se as OTAs fazem guerra entre elas para ver quem vende mais, e têm custos mais elevados, elas não podem repassar esse custo para os hotéis.
DIÁRIO – Como está essa discussão a nível de governo?
LUIGI ROTUNNO – O Ministério do Turismo não se posicionou ainda. Está preocupado com outras coisas, acredito, com essas mudanças de ministros deixa isso mais complicado e eles deixam essas questões mais para o setor privado.
DIÁRIO – Vocês estão indo a Brasília tratar do que, exatamente?
LUIGI ROTUNNO – Brasília deve retomar agora, teve o recesso de julho, então foi meio parado. As últimas viagens em Brasília foram mais focadas na questão dos cassinos, na qual os resorts estão bastante envolvidos e foi o tema principal que nos levou para lá. Outro tema importantíssimo para nós é a lei do trabalho intermitente, que está transitando nesse momento. Atualmente temos muita dificuldade para a contratação de mão de obra para eventos, por exemplo, ou para períodos curtos, a CLT não permite e está transitando um projeto de lei permitindo a contratação por tempo determinado. Para o segmento de resorts será muito importante.
DIÁRIO – Uma questão muito em voga são as empresas de economia compartilhada, como o Airbnb. Qual é a posição dos hoteleiros em relação a esse tipo de concorrente?
LUIGI ROTUNNO – A posição das outras entidades é totalmente contra. Nós, como ABR, não somos a favor, porém, entendemos que são tecnologias contra as quais é difícil opor-se 100%. Precisamos entendê-las, entender qual o tipo de cliente que usa essa tecnologia, porquê o mercado de hotéis está perdendo clientes a favor desse tipo de tecnologia e fazer o dever de casa. Nenhuma tecnologia compartilhada nasce se não tem a base e o mercado comprador. Criticar, sim. Mas fazer o dever de casa bem para competir com essas tecnologias e, obviamente, exigir que elas sejam regularizadas e paguem imposto e tributos da mesma forma que toda categoria hoteleira paga.
DIÁRIO – Qual é o balanço que você faz dos seus seis meses de ABR?
LUIGI ROTUNNO – Foi muito difícil, mas estou extremamente feliz porque acho que seis meses é pouco, especialmente para uma entidade de 15 anos, e tivemos resultados fantásticos. A ABR já está muito mais evidenciada, não só dentro do trade, mas também em Brasília, nosso número de ações aumentou. São 52 resorts. Estamos bem prestigiados. Os novos formatos de estande [em feiras] são um sucesso.