1
Estar aqui parece que se sonha
ver os golfinhos rotadores fazer um círculo no ar
uma saudação amorosa
deste reino
deste lugar
Fernando de Noronha.
2
Tem um vento que não vai embora
bate na cara no peito na pedra esculpida
outrora e agora
essa força oculta
vem pelo mar de dentro e sai
para o mar de fora.
3
A beleza da praia do meio
e as ondas quebrando
na ponta da “Air France”
emprestam-me
um colar de conchas
um brinco de osso de peixe
jóias raras
que sempre estiveram ao meu alcance.
4
A praia do Sancho permanece virgem
como antes do casamento
com o turista e o visitante.
Sua areia é limpa, o seu mar é claro.
voltei a ela como um amante.
As falésias que a emolduram
criam um precipício protetor,
um rasgo na rocha
única passagem
para o bicho-predador.
5
O mimetismo acontece aqui
quando vejo
o azul turquesa do mar
na pata do caranguejo.
Um pássaro voa sobre a onda
no por-de-sol lilás
e seu reflexo
duplica-o como um espelho:
– “é uma gaivota? é uma fragata?”
Não. É o atobá de pé vermelho.
6
Como animal moderno e
adaptado ao meio
sinto aqui o equilíbrio do mundo
me pegar em cheio.
Quero esta simbiose
de homem-mar
de homem-sol
de homem-céu
e, como se sonha
algum dia semear
a borda do vulcão
o meio do oceano
Fernando Noronha.
*Paulo Atzingen é escritor, poeta e jornalista. Fundador do DIÁRIO DO TURISMO




