Em sua primeira entrevista ao DIÁRIO DO TURISMO, agora como presidente da CLIA-Abremar Brasil (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos), Marco Ferraz apresenta uma panorâmica da situação dos portos brasileiros, em especial àqueles que recebem navios de cruzeiro. Nesta entrevista, Ferraz fala também dos diálogos já iniciados com os ministérios do Turismo e secretaria dos Portos para o enfrentamento dos gargalos do setor. Acompanhe:
DIÁRIO – Mesmo com esse cenário econômico não muito favorável, vai ser possível fazer cruzeiro em 2015 e 2016?
MARCO FERRAZ – Eu acho que a pessoa que quer fazer uma viagem, em um cenário econômico não favorável, acaba fazendo mais pesquisas de custo-benefício. No caso dos nossos cruzeiros marítimos, temos várias vantagens, onde, em um preço único, e muitas vezes bem financiado, o turista pode ter acesso a uma hospedagem de alto nível, todas as refeições incluídas, que são cinco refeições ao dia, atividades que são oferecidas a bordo, cassino e muitos outros atrativos, como shows em nível de Broadway, com ex-componentes do Circo de Soleil, teatro, ou seja, o navio tem, hoje, além de uma hospedagem e gastronomia de alto nível, proporciona também entretenimento. Além disso, o turista acaba, em um mini-cruzeiro de três noites, passando por dois pontos turísticos, cidades turísticas. Em um de sete noites, até três ou quatro pontos de escala. Ele pode ir de um local ao outro sem ter que fazer mala, sem se preocupar com traslado, locomoção ou vários transtornos que podem ter entre uma cidade e outra.
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Nós entendemos que, em um momento como esse, os cruzeiros são uma ótima opção, e uma opção que deve ser levada em consideração, pois tem um custo-benefício alto.
DIÁRIO – A Abremar vai ter uma postura de enfrentamento diante dessa crise infraestrutural do país, em especial a dos portos? Nós sempre ouvimos a reclamação de que os nossos portos não estão adequados, se comparados a portos internacionais, inclusive, com altos custos portuários. Qual será o posicionamento da Abremar em relação a esse quadro?
MARCO FERRAZ – No Ministério do Turismo, tivemos a sorte de manter o mesmo ministro. Isso facilita bastante, o acesso ao ministro Vinícius Lages é muito bom. Já tivemos duas conversas longas sobre todos os temas relacionados aos cruzeiros marítimos e ele está super receptivo e nos ajudando. Estamos criando uma agenda com vários temas, e o tema infraestrutura de custos, regulação e impostos estão conversados tanto com ele como com o ministro Edinho Araújo, ministro da Secretaria dos Portos.
O Brasil precisa entender que o turista, tanto o brasileiro, quanto o internacional, que vem conhecer o país, não pode enfrentar situações como essa. Os dois ministros estão muito receptivos, nós temos que mostrar a eles todos os gargalos, em todos os sentidos, eles estão com muita vontade de ajudar. Acho que teremos grandes avanços em um futuro próximo.
DIÁRIO – Marco, você pode falar sobre a questão dos custos da praticagem, que também é um quesito que encarece os custos portuários…
MARCO FERRAZ – A presidente Dilma Roussef fez um decreto, nomeou uma comissão chamada Comissão Nacional de Assuntos de Praticagem (CNAP), e essa comissão, composta por pessoas chave no mercado marítimo brasileiro, ficou com a incumbência de fazer um estudo e levantar, fazer uma tabela, com um valor teto, ou seja, o máximo que pode ser cobrado em termos de praticagem no Brasil. Esse estudo foi feito e dividiram o país em cinco zonas e essas cinco tabelas foram disponibilizadas ao público. Imagina o que aconteceu? Todas as associações de praticagem, conselhos, entraram com liminares contra essa tabela que o conselho estava fazendo, alegando uma série de questões, entre elas a falta de legitimidade.
O que aconteceu: as liminares pedidas caíram em primeira e segunda estância. A última consulta pública terminou no dia 30 de janeiro e a CNAP vai pegar todas as manifestações que eles receberam do público, farão um relatório e publicarão isso. A partir dessa publicação, e após a tramitação pelos poderes executivos e legislativo, deverá ser criada uma tabela nacional para a prática de preços mais razoáveis.
DIÁRIO – Os valores são muito discrepantes?
MARCO FERRAZ – Ela tem preços até 60% menores do que os que são praticados. Um exemplo: um navio parando em Salvador, que é porto que cobra mais caro em praticagem, chega a pagar R$ 100 mil para um prático. Já em Ilha Bela, o navio vai, joga a âncora e os passageiros descem de barco: paga-se R$ 48 mil. Quero deixar claro, é um serviço importante, a questão é o preço.
DIÁRIO – Pode nos dar uma perspectiva para o negócio de cruzeiro marítimo no Brasil e no mundo? Vemos que o número de turistas no final de cada temporada tem diminuído. Isso pode mudar?
MARCO FERRAZ – Vamos falar primeiro em nível mundial: Estamos associados à CLIA, que é a Associação Mundial de Cruzeiros. Eles têm 63 associados com mais de 420 navios. A expectativa para este ano é de transportar 23 milhões de cruzeiristas. Nos últimos 20 anos, não houve nenhum em que o número de cruzeiristas ficou estável ou reduziu. Todos os anos o número aumentou, mesmo com o atentado terrorista em Nova York, com o problema econômico de 2008, vemos que os cruzeiros passaram por tudo isso sem perder o crescimento. No Brasil, tivemos, na temporada 2010/2011, 20 navios onde foram transportados 870 mil brasileiros. Na temporada atual de 2014/2015, temos 10 navios. A expectativa é transportar 600 mil cruzeiristas. Ou seja, se com 20 navios tínhamos 870 [mil] e com 10 temos 600 [mil], não é uma diminuição tão impactante, porque os navios são maiores e porque esses navios, com essas armadoras, colocaram mais mini cruzeiros, de três e quatro noites, fazendo com que se consiga aproveitar mais a temporada, e ter mais saídas.
Com o tempo nós vamos crescer. Para o fim do ano já temos 10 navios confirmados, sai um navio da Pullmantur e entra um da MSC, continuamos com 10, com um pequeno aumento de oferta para a temporada futura (2015/2016).