Menina do litoral, a santista Maria Izabel Reigada mudou-se com a família para o ABC paulista aos sete anos de idade. Escolheu o jornalismo ainda antes do Ensino Médio, aos 13 anos, com uma ideia um pouco romântica do que seria a profissão. “Ficava encantada com a possibilidade de trabalhar escrevendo, especialmente sobre os assuntos que eu adorava seguir nos jornais: política e economia”, comenta Reigada.
Aos 13 anos decidiu estudar inglês entendendo que seria fundamental para ser jornalista do Estadão ou da Folha, jornais que a encantavam ainda na adolescência. Começou o curso de Jornalismo na Unesp, em Bauru, no interior de São Paulo, e terminou na Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo, onde começou a estagiar, já no segundo ano do curso, na Prefeitura de Santo André.
REDAÇÃO DO DT com colaboração de Tárcia Oreste
Izabel Reigada integra a série “Mulheres que escrevem o turismo do Brasil”, e conversa com o DIÁRIO sobre as particularidades do jornalismo de turismo como profissão:
DIÁRIO – Você tem se dedicado a divulgar destinos há alguns anos, certo? Como você começou essa trajetória no turismo?
O turismo foi, de certa forma, acidental, e entrou muito cedo na minha carreira jornalística. Ainda no último ano da faculdade, fui aprovada para o curso de focas do Estadão. Terminei o curso junto com a faculdade e tive o privilégio de ser chamada para o Estadão, no caderno de turismo, o “Viagem”. Não fiquei muito tempo, mas conheci ali os jornalistas do Panrotas. Fui entrevistada para uma vaga e tive de escolher entre continuar no Estadão ou seguir para o Panrotas. Foi uma escolha difícil, mas não poderia ter sido mais acertada. Fiquei no Panrotas por quase 20 anos, entre idas e vindas, porque saí para morar na Espanha, onde fiz mestrado, e em algumas outras ocasiões, para encarar alguns outros desafios.
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DIÁRIO – Teve a influência de algum jornal ou jornalista na sua vida profissional?
Claro, somos influenciados o tempo todo. No meu caso, tive sempre muita sorte. Meu primeiro chefe, Mário Viana, então editor do “Viagem”, do Estadão, foi um mestre, assim como Luiz Sales, que me contratou no Panrotas. As viagens a trabalho me permitiram aprender com outros jornalistas e com muitos profissionais de turismo. Seria impossível listar todos eles, mas a Fabíola Bemfeito, o Adrian Alexandri, o Guillermo Alcorta e o Antonio Azevedo, ex-presidente da Abav, são alguns deles. E tem o atual editor-chefe do Panrotas, o Artur Andrade, que é um dos profissionais mais generosos que conheço, capaz de compartilhar conhecimento e responsabilidades. Para minha sorte, posso chamá-lo de amigo.
DIÁRIO – Você fez parte da equipe do Panrotas por alguns anos… como foi a sua experiência neste e em outros veículos de comunicação?
Todas as minhas experiências profissionais foram muito recompensadoras. Desde o estágio inicial, lá na Prefeitura de Santo André, do qual saí para fazer o curso do Estadão, até os trabalhos que fiz em assessoria de imprensa, com o Ministério do Turismo, no antigo Salão do Turismo, e agora, na Comunicação do Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas (SINDEPAT), me ensinaram muito. Em turismo, não há escola como o Panrotas. Viajei o mundo com eles. Fui conhecer destinos icônicos e outros pouco visitados – de Orlando (EUA) a Macapá. Estive nas maiores feiras e eventos de turismo do mundo, entrevistei os principais líderes do setor, aqui no Brasil e em outros países. Mas sempre há muito para aprender nesse setor tão dinâmico como é o turismo.
DIÁRIO – Teve algum fato marcante na sua carreira de jornalista de turismo e/ou alguma(s) matéria(s) que você gostaria de destacar?
Muitas viagens foram marcantes, assim como as entrevistas. Acompanhar a criação do Ministério do Turismo e entrevistar o então presidente Lula; a falência da Vasp; fiz uma das últimas entrevistas com o comandante Rolim, da Tam, antes de seu acidente; entrevistei alguns dos CEOs das principais empresas de turismo do mundo. Cobrir eventos como a assembleia que a Organização Mundial do Turismo realizou em Cartagena foi incrível, bem como o Global Summit do WTTC, em Florianópolis. Entre os destinos, há muitos. Fiz o trekking ao Monte Roraima de férias, quis escrever uma matéria e a Revista PANROTAS a publicou. A Rússia foi uma viagem dos sonhos, assim como conhecer a Síria ou a Índia. Mais recentemente, gostei muito de escrever sobre a maternidade entre as profissionais de turismo. Tenho uma filha de três anos e o tema se tornou mais “sensível” para mim.
DIÁRIO – Como você vê o jornalismo de turismo hoje?
Acredito que haja espaço para a profissionalização do setor e que todas as novas tecnologias devem ser utilizadas para aproximar o leitor dos destinos que queremos mostrar. Mas os destinos não são a única pauta do jornalismo de turismo. Esse é um dos setores da economia com maior capacidade de geração de empregos diretos e indiretos e gostaria de ver uma presença maior do turismo como indústria nas páginas de economia e política. Acredito que o jornalismo de turismo feito de forma séria e comprometida pode contribuir para isso.
E para quem tem o desejo de se escolher o jornalismo de turismo como profissão, Izabel deixa o recado: “abandone todos os preconceitos. Todo e qualquer lugar pode ser um destino turístico, ainda que não seja o seu destino preferido. Não há destinos certos e errados. Todo local pode, potencialmente, agradar alguém, seja por questões culturais, históricas, geográficas, religiosas ou a simples e fundamental curiosidade que nos move. Fora isso, o básico: estude idiomas, leia sobre a cultura e os costumes dos destinos antes de visitá-los, experimente a gastronomia local, conheça e entreviste moradores da região e divirta-se enquanto faz tudo isso, porque assim fica bem mais fácil gostar do destino e, consequentemente, escrever sobre ele”.