Em 1986, logo que retornamos do “descobrimento dos Martírios”, concebemos o Projeto Martírios do Araguaia, cujo principal objetivo era promover estudos temáticos na região, Sudeste do Pará, visando ampliar o conhecimento científico e cultural, para que, em posse disso, pudéssemos influenciar as autoridades, para a criação de uma unidade de conservação na Serra das Andorinhas.
por Noé von Atzingen*
O projeto foi direcionado principalmente para as áreas de arqueologia, botânica, história, espeleologia e zoologia.
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Realizamos 14 etapas de campo na região. Cada etapa tinha a duração de 20 a 30 dias.
As atividades perduraram por 1 1 anos: de 1987 1998.
Curiosamente, esse foi um projeto com enorme resultado e com custos muito baixos, pois fazíamos campanhas de doação, através dos meios de comunicação em Marabá e assim, conseguíamos quase tudo o que precisávamos: alimentos, combustível, transporte, filmes fotográficos, medicamentos, etc.
Entrava também no rol das “doações”, vários profissionais, que graciosamente deram sua inestimável e significativa contribuição: André Cardoso, Cloves Maurity, Crysomar Lobato, Dirse Kern, Edith Pereira, Eije Pabst, Fernanda Costa, Fernando Marques, João de Jesus Paes Loureiro, Peter Hoff, Renato Costa, Violeta Loureiro, Virgínia Mattos e muitos outros. Além das instituições como UFPA, USP, UNB, MUSEU GOELDI, IDESP, SBE, SECTAM…
Transcrevo a seguir parte do depoimento que demos em 1999 sobre os resultados obtidos:
” Essa pequena área, com cerca de 60 mil hectares, localizada no município de São Geraldo do Araguaia, revelou-se um grande tesouro! Nestes anos de trabalho, foram identificados 8 ecossistenas distintos, 91 sítios arqueológicos, 5.500 gravuras e pinturas rupestres, 29 cavernas, 36 grutas, 570 espécies de animais vertebrados, dezenas de estruturas ruiniformes, 200 espécies de árvores, 30 cachoeiras, 80 espécies de orquídeas, 51 espécies de plantas medicinais, além da gravação de entrevistas sobre a guerrilha do Araguaia.
Nosso primeiro passo, foi levar os levantamentos iniciais à secretaria de Estado de Cultura e pedir o tombamento da Serra das Andorinhas, o que aconteceu em 22 de setembro 1989.
Em seguida, apresentamos os resultados ao IDESP ( Instituto de Desenvolvimento
Econômico e Social do Pará) para alavancar as discussões sobre a criação da unidade de conservação. Em 1995, apresentamos nossos levantamentos, que na ocasião já eram bastante robustos, à SECTAM ( Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Pará).
Nesse meio tempo, fazíamos divulgação do enorme potencial da Serra das Andorinhas em todos os meios de comunicação. Fizemos várias exposições em eventos e participamos de debates, sempre levantando a bandeira da criação do Parque.
Também foram publicados nesse período, alguns trabalhos técnicos sobre a Serra.
Finalmente em 1996 O Parque Estadual Serra dos Martírios/Andorinhas e APA de São Geraldo do Araguaia foram criados pelo Governo do Estado do Pará.
Devemos lembrar que a inclusão da palavra Martírios, no nome do parque, foi por nós sugerida, para preservar seu nome original. Assim, graças ao envolvimento de muitas pessoas, empresas e entidades públicas, vimos nossos esforços serem amplamente coroados de êxito!
O Projeto Martírios do Araguaia teve resultados muito significativos:
- Propiciou o descobrimento de uma nova espécie de transmissor de leishmaniose; Mycropygonyia (Sauromyia) vonatzingeni.
- Motivou a criação da Fundação Serra das Andorinhas.
- Fomentou a criação do Núcleo Arqueológico de Maraba em 1999. Criação do GEM ( Grupo Espeleológico de Marabá) em 1989, que posteriormente deu origem ao Núcleo Espeleológico de Marabá, em funcionamento até hoje.
- Criação da SOM ( Sociedade de Orquidófilos de Marabá) em 1992, que posteriormente deu origem ao Orquidário Margaret Mee.
- Motivou a instituição do Boletim Técnico da Fundação Casa Da Cultura de Marabá. O Projeto também, alavancou a carreira de vários estudantes que participaram do projeto: Cristiane Vieira, Erivaldo Costa, Gentil Cardoso, Luiz Coimbra, Mário Saviato Jr, Marize Morbach, entre outros.
A partir do Projeto Martírios do Araguaia, a Casa da Cultura de Marabá, passou a ter grande relevância científica.
Neste momento, nada mais merecedor que agradecer aos técnicos, auxiliares de campo e pesquisadores, que dedicaram parte de suas vidas em longas e fatigantes caminhadas pelas serras, acampando sob as árvores ou em cavernas. Muitas vezes arriscando suas vidas, já que algum tipo de socorro, naquele tempo, ficava bem distante. A estes heróis, nosso eterno agradecimento, pois, seus esforços contribuíram significativamente para concretizar o sonho de transformar aquela região tão especial nessa espetacular área de conservação que é o Parque Serra dos Martírios/Andorinhas.
*Fundador da Casa da Cultura de Marabá (PA). Coordenou, entre os anos de 1986 a 2000, os estudos que levaram à criação do Parque Estadual Serra dos Martírios / Andorinhas, às margens do Rio Araguaia.
Bibliografia
Maurity, C.W. Atzingen, N.v. CRESCENCIO, G.
Estudos Espeleologicos na Serra das
Andorinhas, São Geraldo do Araguaia – PA. Bol. Tec. Fund. Casa Da Cultura de Maraba .
1999: 42 – 62
O Penta.Edição comemorativa. Fund. Casa Da Cultura de Maraba. 2014
Pereira, E. Arte Rupestre na Amazônia – Pará.
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