Bayard Do Coutto Boiteux*
Numa das raras escapadas para fotografar resolvi ir um pouco mais longe, bem afastado da minha casa e que essa saída representasse uma viagem inconsciente mas prazerosa: escolhi Niterói. Sou apaixonado pela cidade sorriso e já quis até morar nela; nela há uma beleza natural e cultural onde a marca do grande Niemeyer, um dos arquitetos mais criativos do mundo se ergue com maestria e amor.
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Saí bem cedo de casa num domingo chuvoso acompanhado de um amigo especial, um irmão que a vida me deu; para a primeira viagem da pandemia. Atravessar a ponte Rio-Niterói com os vidros abertos me proporcionou um gatilho de positividade, diferente daquele fruto da ansiedade que me fez sentir tão desprotegido no início da pandemia. Com pouco movimento na ponte, atravessamos o pedágio e nos dirigimos para o centro. Parte da minha vida acadêmica se deu na Faculdade de Turismo Plínio Leite, à convite da querida professora Diana Zaidman, que chefiava o departamento de Turismo e me convidou para ministrar aulas de legislação aplicada ao turismo. Foram quase 10 anos e que ocupam um lugar especial na minha memória afetiva e na minha carreira. Na última segunda-feira ela se foi e não vai poder ver aqui a homenagem que lhe presto mas onde estiver meus agradecimentos vão ecoar. Após ter passado em frente da (Faculdade) Plínio Leite, vislumbramos o teatro municipal que até hoje só conheço a parte externa. Ainda quero assistir a um espetáculo da famosa companhia de balé do município. O caminho Niemeyer, muito bem estruturado com visitas organizadas estava fechado por força da pandemia mas pude avistar as majestosas obras do arquiteto, aluno de Le Corbusier, que levou o Brasil mundo a fora e marca a arquitetura internacional, com presença em vários países, como a Universidade de Constantine, na Argélia.
Talvez o ícone de Niterói seja o Mac – o Museu de Arte Contemporânea. Paramos o carro nas redondezas e começamos a caminhar em direção ao museu, que mesmo fechado pude contemplar seu entorno durante algum tempo. Fiquei no silêncio do deleite da contemplação niemaiense, acho que a última palavra deve ser um neologismo mas refletiu meu estado de espírito. Lembrei das diversas exposições e do cuidado e respeito que Niterói tem por Niemeyer. Fiquei feliz em ver a consciência coletiva das pessoas que encontrei caminhando ou correndo, todas portando máscaras ! Niterói tem sido um exemplo no combate ao coronavírus
Prosseguimos à pé até a praia de Icaraí que estava vazia mas encantadora com seu mar calmo e alguns transeuntes e moradores usufruindo da beleza local que nos permite avistar de longe o Rio. Voltamos para o carro e rumamos para o Saco de São Francisco, outro cartão postal da cidade, que parei para contemplar e fotografar os barcos de pescadores que ali estavam e, quiçá, se preparavam para uma jornada de pesca ou já tinham voltado! É um polo gastronômico repleto de surpresas de excelência! Tentei parar para almoçar mas não me senti confortável e assim fomos até Jurujuba, onde tantas vezes peguei o transporte que me levou até a Fortaleza de Santa Cruz, para visitar meu pai, preso político. Já voltei na Fortaleza algumas vezes e vi o local onde tinha encontros semanais com meu herói, que me ensinou a arte da solidariedade, da ética e do amor ao próximo. Mar de opções de restaurantes marca também uma Niterói que dá água na boca. Era hora de retornar e não deu para subir no Parque da Cidade, outro atrativo turístico nota 1000 onde se descortina Nikiti, como gentilmente é apelidada a cidade.
Em tempos de pandemia, foi minha grande viagem que claro ficará presente em mim como todos os passeios que Niterói me ofereceu e ainda há de me proporcionar outros incríveis.
*Bayard Do Couttto Boiteux é professor universitário e escritor. Considera-se cidadão do mundo, embora carioca. Funcionário público, desenvolve atividades voluntárias no Instituto Preservale e na Associação Dos Embaixadores de Turismo do RJ.