Fabio Steinberg*
Esta frase, tirada do filme “O Leopardo”, define bem o turismo no Brasil.
Na contramão do mundo, tratado como lazer e não como indústria, o setor continua como patinho feio dos Ministérios, a ponto de não interessar a político algum dividir o botim do poder federal. Neste governo que se inicia já com gosto de comida ruim requentada, sobrou o turismo para Vinicius Lages. Trata-se sem dúvida de um funcionário de carreira competente e bem intencionado, mas que sozinho não fará milagres. Ele sabe que tem nas mãos um abacaxi quase impossível de descascar. Some-se a isto uma Embratur esquálida – outro personagem perdido em busca de script.
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Além da falta de prioridade e foco, o modelo oficial de tratar o turismo está irremediavelmente obsoleto. Ignora a experiência até de países economicamente mais modestos que o Brasil e principalmente do empreendedorismo, que mal ou bem conhece os caminhos do sucesso. Deveria estar abaixo do Ministério da Indústria e Comércio, pois é um negócio de alta importância para o país. Do jeito que está, não se vê sequer algum resquício de planejamento. O turismo é tratado como uma quitanda de subúrbio, que atende não pela ordem de quem chega primeiro, mas sim pelo cliente mais importante, ou o que grita mais alto.
Eis uma pergunta legítima: quem investiria no turismo de um país que, mesmo cercado de beleza natural e povo amável, não oferece um mínimo de segurança física, infraestrutura, serviços capacitados e que adota preços absurdamente caros? Por isto, o número de visitantes estrangeiros no país patina na faixa dos seis milhões há dezenas de anos. Quanto ao turismo interno, não vai longe. É só observar para onde vão os brasileiros de férias com um mínimo de recursos. Basta colocar o dedo sobre qualquer ponto do globo terrestre que há sempre por lá viajantes brasileiros.
Cria-se assim um círculo vicioso, e no seu bojo convive uma espécie de Corte do Faz-De-Conta. A gestão federal finge que administra, o setor privado tenta obter migalhas de atenção e recursos para continuar a faturar, e neste pacto sinistro a economia do país perde oportunidades, e o brasileiro trata de gastar seu tempo e recursos em outro país.
A frase do filme de Visconti, realizado em 1963 a partir de romance escrito por Giuseppe Tomasi di Lampedusa, e que dá título a este texto, no caso do turismo soa como terrivelmente verdadeira e anacrônica. Não é para menos. O mundo mudou, e o turismo do resto dos países também. Hoje somos assediados por programas profissionais e agressivos para atrair visitantes para fora do Brasil.
Além disso, não dá mais para remar contra a conveniência e competência da digitalização. Há agora a economia real e a economia da fantasia, essa representada pelo modelo obsoleto que insiste em ganhar sobrevida no país. As agências de viagens de tijolo e concreto, queiram ou não, estão sendo substituídas pelas virtuais. A propaganda tradicional perde sua importância para as opiniões nas redes sociais. A visão unilateral da imprensa tradicional abre lugar para o jornalismo digital interativo. A moeda está se tornando invisível diante do crescente uso do dinheiro online.
Neste contexto, os dias estão contados para financiar este baile da ilha fiscal do turismo, que teima em fingir que a revolução não está batendo às portas. Enquanto autoridades do turismo são bajuladas e ganham prêmios imerecidos por empresários interesseiros diante de uma imprensa setorial leniente, o mundo real vai transformando o turismo à revelia dos atuais mandatários. O golpe de Estado está próximo. Nele, será empossado um único e legítimo monarca. E ele se chama consumidor.
* Fábio Steinberg é jornalista