Não confunda sustentabilidade com ideologia –  por Marco Moraes*

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A sustentabilidade ambiental era inicialmente definida como a compatibilização do desenvolvimento humano com a preservação da biosfera, ou seja, dos seres vivos que habitam a Terra. Atualmente, com o melhor entendimento das relações de interdependência entre os mundos físico e biológico, o conceito foi ampliado para incluir a atmosfera, a hidrosfera, a criosfera (gelo) e outros componentes importantes para a estabilidade do planeta.

Nesse contexto, o conceito de sustentabilidade assume um caráter muito mais pragmático. Precisamos compatibilizar o desenvolvimento humano e econômico com a manutenção dos ecossistemas do planeta porque isso será essencial para garantir a continuidade de nossas vidas e nossos negócios.

Por mais evidente que seja a necessidade de todos buscarmos a preservação do planeta, o fato é que o Brasil e o mundo estão claramente polarizados entre uma direita predominantemente antiambientalista, e uma esquerda predominantemente ambientalista.

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A questão é: por que é assim? Por que conservadores, liberais econômicos e outros membros da direita não enxergam que a destruição do meio ambiente prejudica a todos?

Há muitas razões para a retórica antissustentabilidade atrair mais as pessoas de direita. No Brasil, talvez a principal seja à ligada ao grande agronegócio. Embora a necessidade preservação das matas seja algo essencial por seu papel na redução da erosão e na manutenção dos córregos e rios que são vitais para a atividade agrícola, muitos fazendeiros não preservam as matas das quais dependem seus solos e fontes hídricas.

A postura de muitos médios e grandes fazendeiros, que tendem a ser de direita, é um dos exemplos mais emblemáticos do equívoco de se confundir ideologia com a sustentabilidade. Cerca de 95% da agricultura brasileira depende do regime de chuvas, cuja estabilidade já está sendo afetada pelas mudanças climáticas, agravadas pelo desmatamento.

A destruição das florestas, que muita gente da direita defende em favor de uma exploração econômica de valor questionável, implicaria numa significativa redução dessas chuvas, inviabilizando o próprio agronegócio.

Os fazendeiros não estão sozinhos. As indústrias que utilizam produtos obtidos pela destruição de ecossistemas, as frotas pesqueiras que estão dizimando os cardumes, base para sua atividade, enfim, todos os defensores do desenvolvimento desenfreado que está acabando com os recursos naturais do planeta serão vítimas de suas próprias ações.

Nem sempre os perfis típicos de direita e esquerda correspondem à realidade. Aqui na Serra Fluminense, onde moro, há uma grande concentração de pessoas de direita. Por outro lado, vivemos numa região de natureza exuberante, cuja preservação é fundamental por razões culturais e econômicas. O turismo, com visitantes atraídos pelas belezas naturais, é cada vez mais essencial para a economia. Por isso, os moradores da Serra Fluminense, em sua maioria, têm uma grande preocupação com a preservação ambiental.

E a esquerda? A princípio, a esquerda abraça de forma geral as pautas do desenvolvimento sustentável. Assim, é natural que defenda o combate à degradação ambiental e a sustentabilidade. Mas há exceções.

Vejamos o caso do atual governo brasileiro. Nós temos no Ministério do Meio Ambiente uma ambientalista respeitada no mundo inteiro, a ministra Marina Silva. Mas ela está claramente isolada. No controle das decisões do governo está o grupo chamado de “desenvolvimentistas”.

Pois os desenvolvimentistas consideram, ainda que não abertamente, que a sustentabilidade é uma preocupação secundária, sendo mais importante garantir o desenvolvimento econômico e o pleno emprego. Essa visão muitas vezes leva à adoção de políticas antiquadas e à manutenção de um sistema econômico baseado em atividades pouco rentáveis no mundo moderno

As transformações do planeta ameaçam a todos. Seus negócios, suas famílias, sua própria vida. Chegou a hora de pessoas com um mínimo de bom senso, seja qual for sua ideologia, se unirem nessa compreensão, e trabalharem juntas para salvar o planeta, e a nós mesmos.


*Marco Moraes é geólogo PsD, pesquisador de mudanças climáticas e autor do livro Planeta Hostil (Matrix Editora).

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