*Por Rui Santoro
Seria uma enorme falha um europeu como eu, agora residente no Brasil, começar a falar de turismo sem citar o tradicional carnaval. Festa que em 2020, infelizmente, começou a dividir atenções com a pandemia da Covid-19, que estava ganhando tração no Brasil.
Evento nacional que movimenta a economia e faz uma imensidão de estrangeiros desembarcarem por todos os cantos do solo tupiniquim e representa números astronômicos para a economia local, merece ser o ponto de partida da reflexão.
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Segundo estudos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as atividades turísticas relacionadas ao carnaval movimentaram R$8 bilhões de reais em 2020. O levantamento ainda estimou que aproximadamente 26 mil novos empregos temporários seriam gerados. Não é preciso ser um matemático para projetarmos o quanto o mercado de turismo deixou de movimentar, somente com a festa mais tradicional do Brasil, em 2021. Mas, sem dúvidas, o cancelamento (ou o adiamento) foi o melhor a se fazer.
Ainda parafraseando o carnaval mas já ampliando a discussão, quando João Sérgio criou o icônico samba enredo da União da Ilha do Governador, “O Amanhã”, em 1978, posteriormente eternizado na voz de Simone, não imaginava que seria tão atual – principalmente pela categoria de viagens e turismo. Afinal, como será o tal amanhã para a categoria?
É inegável que a retomada será de muita euforia. Casas de câmbio voltando ao êxtase, aeroportos lotados, hotéis com a agenda cheia e companhias aéreas recuperando o alto prejuízo. Mas será que, com todas as mudanças que estamos atravessando, tudo será como sempre foi?
Precisamos, também, atrelar essa mudança aos aprendizados sociais causados pela pandemia. É tempo de reaprender. Renascer. Olhar novos costumes e formas de experimentação. Por isso, sem dúvidas, a tecnologia aliada a experiências cada vez mais exclusivas serão os principais pilares do novo turismo.
Mesmo com a possível normalização, nos próximos anos, teremos resquícios do que aconteceu e, consequentemente, devemos nos blindar de alguns pontos. As pessoas vão querer frequentar lugares menos agitados, nunca antes descobertos.
Vai ser essencial tratarmos roteiros personalizados e não mais pensar nas extensas excursões com muitas pessoas conhecendo lugares que muitos influenciadores digitais já mostraram pelas telas do celular. Querem conhecer esses pontos, claro, mas não dedicar muito tempo alí. Vai ser o momento de descobrir o novo. Obviamente, com isso, novos protagonistas surgirão.
Segundo uma pesquisa publicada na “The Economist”, dos 20 pontos sobre o renascimento pós-pandemia, um deles caminha na mesma avenida do futuro do turismo. A publicação diz que, em 2021, o maior crescimento na área do turismo foi o entretenimento. Além disso, tudo com muita tecnologia envolvida.
As pessoas apreciam, mais do que nunca, visitar o natural mas com soluções altamente tecnológicas. Locais mais remotos, experiências mais autênticas suportadas com assistência digital 24 horas por dia, 7 dias por semana. A interação é a base do entretenimento do futuro. E, com isso, uma assistência mais personalizada e com conhecimento do ambiente fará o jogo mudar.
O amanhã do turismo, com certeza, será feito pelos locais. Por aquelas pessoas que conhecem muito determinados lugares e poderão, por meio de seus smartphones ou computadores, se transformarem em grandes agentes da retomada. Esse será o ponto de partida. Mas ainda tem muita história por aí.
Como será o amanhã? Responda quem puder.
*Rui Santoro é CEO da Local
Visão muito realista do momento actual que vivemos.
Parabéns pelo artigo.