Sangue paraibano circula em minhas veias e eu não poderia negar esse precioso líquido, que me faz viver intensamente, particularmente diante do que está acontecendo na Paraíba numa possível decisão governamental precipitada, por desconhecer o projeto do engenheiro Argemiro Brito da Franca.
O governador João Azevedo, do Estado da Paraíba, com muita propriedade, decidiu executar uma demanda histórica para permitir o acesso moderno e fluido entre a capital do Estado e as praias paradisíacas do Litoral Norte – com trajeto rodoviário interrompido em Cabedelo – através do que ele denominou “Ponte do Futuro”. O turismo da área metropolitana e do Litoral Norte serão amplamente beneficiados com construção da “Ponte do Futuro”.
Com uma ponte moderna e concepção integrada às mais modernas construções de pontes no mundo todo, a Paraíba poderá, com a construção dessa moderníssima obra, inaugurar uma das entradas mais belas entre as capitais do Nordeste, para os turistas vindos de Natal.
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O engenheiro calculista Argemiro Brito da Franca está em sintonia com as mais avançadas tendências da engenharia mundial. A sua obra está associada à vocação de atribuir às estruturas o conceito do célebre engenheiro e arquiteto italiano Pier Luigi Nervi, autor de grandes projetos de fascinante arquitetura, entre eles a famosa embaixada da Itália em Brasília. Nervi sintetiza os conceitos da moderna engenharia assim: “As estruturas são a materialização das forças que atuam em um projeto.”
Esta é a engenharia do essencial, onde cada esforço gerado pelas demandas estruturais tende a uma aproximação física das forças, que atuam num projeto, reduzindo ao limite inferior o uso de insumos.
Esse conceito também está integrado à obra do engenheiro e arquiteto espanhol Santiago Calatrava, que pode ser verificado no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro ou na Ponte JK, uma obra icônica do arquiteto Alexandre Chan, que já se tornou um dos mais belos cartões-postais de Brasília.
O projeto da ponte sobre o estuário do Rio Paraíba do engenheiro paraibano Argemiro Brito da Franca – um dos mais desafiadores engenheiros brasileiros – está em harmonia com o que existe de mais vanguardista na engenharia mundial.
Se podemos ter uma obra dessas na Paraíba, por que não fazer, pelo mesmo preço de um projeto obsoleto?
A maior dificuldade de romper com a pobreza nacional está relacionada ao medo enraizado na psique brasileira de assumir o que está escrito no hino nacional: gigante pela própria natureza. Quando alguém abre a porta do crescimento, logo aparece outro para impedir o seu ingresso.
A sociedade brasileira, devido ao anacronismo das elites políticas, empresariais e acadêmicas, vive um conflito gigantesco entre mergulhar no passado ou se projetar para o futuro. É o mesmo conflito entre esses dois projetos apresentados para a ponte sobre o estuário do Rio Paraíba: passado X futuro.
Está nas mãos do governador João Azevedo a decisão de romper, pelo menos no âmbito da Paraíba, com esse anacronismo relutante e inscrever, com um gesto, o seu nome na nova História da Paraíba, que se abre com a Ponte do Futuro, e não seja apenas retórica, evitando a opção pela mediocridade.
*Reginaldo Marinho é jornalista e inventor de Construcell, tecnologia premiada com medalhas de ouro em Genebra e Londres. www.construcell.com