O Turismo como Arte de Vender Felicidade – 1ª parte

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O Brasil ocupa o 1º lugar em atrativos naturais e diversidade cultural, segundo o Fórum Econômico Mundial. Também segundo o Fórum, o nosso país é quase 3 vezes mais competitivo no turismo que na economia como um todo.

Osvaldo Matos de Melo Júnior*


Esses ativos, tão cruciais para o nosso desenvolvimento, precisam representar um comprometimento contínuo construído em torno de políticas públicas assertivas, profissionalismo, inovação e investimento. Afinal, não basta apenas termos os recursos, precisamos utilizá-los de forma inteligente; só assim seremos competitivos. Atualmente, o Brasil está nas posições 96 e 106 nos quesitos abertura internacional e priorização do setor viagem e turismo, além de ocupar o 106º lugar na segurança e o 129º no ambiente de negócios.

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Esta realidade não dialoga com o nosso imenso potencial. O setor é relevante, corresponde à 7,9% do PIB, ou seja, em números mais tangíveis, chega a movimentar R$ 520 bilhões e gerar 6,6 milhões de empregos. E, apesar das dificuldades, o nosso turismo luta arduamente para mostrar essa relevância, uma vez que sempre apresentou números expressivos, ano após ano, mesmo num contexto de baixos investimentos e visibilidade no comparativo com outros destinos similares como México, Colômbia ou mesmo a Argentina.

O orçamento do Ministério do Turismo, em 2018/2019, foi de R$ 1,07 bilhão, menos da metade do orçamento de 2009, R$ 2,4 bilhões. O impacto na promoção nacional foi ainda maior: de R$ 404 milhões em 2009 para 41 milhões em 2018. No cenário internacional, enquanto o Brasil investiu 17 milhões de dólares em marketing em mercados estratégicos, no ano de 2017, o México investiu 409 milhões de dólares, a Colômbia 100 milhões de dólares e o Equador 90 milhões de dólares.

Como um setor transversal, que impacta mais de 50 atividades econômicas, podemos usar o exemplo apenas dos hotéis que utilizam mais de 6 milhões de roupas de cama e banho, 120 mil televisores e 140 mil telefones por ano; além de incontáveis produtos e serviços. No segmento de locadoras de carros, a cada 4 minutos empresas ligadas à esta atividade realizam a compra de 1 carro.

Os investimentos ainda tímidos e poucas linhas de financiamento, porém, fazem com que seja difícil posicionar o Brasil devidamente nas mãos dos consumidores e nas mídias nacionais e internacionais.

Não podemos fugir dessa realidade: para ganharmos mercado, precisamos de recursos, políticas, integração do setor e inteligência competitiva, como os grandes big datas como Amadeus e IATA e uma inteligência artificial cognitiva analisando e dando dados importantes para tomada de decisões.

Também temos que nos envolver mais com grandes produções internacionais de cinema, streaming, séries de TV e produções de teatro tendo o Brasil como um mosaico de temas e um celeiro de locações, e criarmos uma comissão de cinema e turismo com esse objetivo. O país tem história, acontecimentos, lendas e personagens que poderiam ser descobertas pelos produtores nos Estados Unidos, Europa, China.

Temos que abraçar essa indústria como uma catalizadora – nacional e internacional – da divulgação dos nossos atrativos e para a mitigação de visões equivocadas (e estereotipadas) que muitos consumidores ainda tem do nosso país. Por isso é fundamental que o setor tenha a devida visibilidade junto ao poder público e investidores. Além dos gargalos tradicionais, como segurança, saúde e infraestrutura, temos também a insatisfação do trade com a alta carga tributária; também temos que equalizar o mercado tradicional do turismo com todas as opções que surgiram, nos últimos anos, com a velocidade das novas tecnologias (a exemplo do UBER e do AIRBNB). O nosso turismo precisa ser pauta, diária, da nossa equipe econômica.

Mais do que nunca precisamos priorizar o planejamento estratégico. Planejar de forma multidisciplinar e transversal, empreendendo conhecimentos diversos das ciências naturais, humanas, sociais além do estímulo à inovação. Esse planejamento também precisa passar pela revisão de leis e entraves antigos que encarecem as atividades e afastam investimentos. Um exemplo é o ECAD. Embora os hotéis não usem músicas em todos os ambientes, muito menos 24 horas por dia, são taxados como se assim atuassem. O mesmo com os navios de passageiros, que são obrigados ao pagamento da Taxa de Rebocador, mesmo que não utilizem o serviço. Temos que rever questões como essas que acabam travando o nosso desenvolvimento.


*Osvaldo Matos de Melo Júnior é Sociólogo, Publicitário, Cientista Político e Jornalista. Tem diversas especializações em Gestão Pública, Gestão do Turismo, Marketing Digital, Inteligência competitiva e Comunicação Pública.

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