Oito perguntas para Geraldo Linzmayer, fundador da Cadeia de Hotéis Associados

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O colaborador do DIÁRIO DO TURISMO, José Justo, engenheiro e jornalista do Rio Grande do Sul, acaba de publicar em seu boletim técnico semanal Front Desk a entrevista com o hoteleiro Geraldo Linzmayer. A entrevista está um primor de qualidade, com perguntas dentro do nosso atual contexto pandêmico e explora com classe e sutileza a experiência hoteleira do entrevistado. Acompanhe:

A hotelaria está vivendo momentos bicudos e os hoteleiros estão com os nervos à flor da pele. Na busca incessante por noticias boas, pois os assuntos da pauta constante, de “CoViD” e “Gráficos” está causando depressão, fomos ouvir Geraldo Linzmayer, que se prepara para se tele-transportar para o outro lado do mundo, a fim de fazer intercâmbio em plena pandemia. Queríamos ter um panorama de sua empresa e saber o que está acontecendo nos meios que ele mais milita, que são o associativismo e a aglutinação de bons interesses.

Geraldo Linzmayer é um pioneiro: foi aluno da primeira turma da primeira Escola de Hotelaria do Brasil, depois de ter nascido – literalmente – dentro de um hotel, em Joinville, Santa Catarina. Na escola, seu professor, tocaio e xará, Geraldo Castelli ensinou o que era a sigla CHA: Conhecimento, Habilidade e Atitude. Ele aprendeu com rara eficiência. Nos últimos anos criou a CHA – Cadeia de Hoteis Associados – para aglutinar hotéis independentes em busca de eficiência e resultados. O Frontdesk fez oito perguntas para Geraldo Linzmeyer, enquanto ele faz as malas para Irlanda, sobre a hotelaria do novo normal. Confira:

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A CHA continuará a ser a mesma no novo normal ou será uma nova CHA?

Estamos surpresos enfrentando tantas dificuldades inimagináveis que se agravaram muito para um pequena rede hoteleira que nasceu sem recurso algum, sem investimento algum, somente com o caixa ao final do primeiro mês de nossa 1ª unidade. Se já estava difícil, imagine agora! Já não somos a mesma. Foram até agora 2 distratos realizados, porém de outro lado, estaremos assumindo nos próximos dias dois novos empreendimentos que se juntam ao portfólio. Foram substituições significativas aceleradas por ocasião da pandemia. Não há outra saída senão “fazer do limão uma limonada” e com certeza, com o advento do PRONAMPE e mais a chegada de um parceiro estratégico, teremos o apoio essencial para resolvermos nossos gargalos e darmos um salto para uma revigorada CHA;

 

Associativismo estará em alta no novo normal ou teremos um novo jeito de nos organizar para atender nossas causas comuns?

Esta é uma pergunta difícil de ser respondida. Participo de associações de classe desde o inicio de minha carreira, tanto na Associação Comercial e Industrial de Joinville ou prestando serviço público como Secretário de Turismo de Joinville, Núcleo de Hotelaria (convenio com a câmara de artes e ofícios de Munique e alta Baviera – que resultou na criação do Bureau de Captação de Eventos da cidade), Presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Joinville e Região (16 municípios), Presidente da ABIH Santa Catarina, Vice Presidente Regional Sul da Roteiros de Charme – Associação de Hotéis, Membro do Núcleo de Turismo da AJORPEME (Associação de Joinville e Região da Pequena e Média Empresa – maior associação da América Latina), Conselheiro Estadual de Turismo e Membro do Conselho Superior da CDL I Câmara de Dirigentes Lojistas.

Observo que o temperamento encontrado nas redes sociais de intolerância e desencontros, também se encontra nas redes sociais criadas pelas associações de classes, onde ainda persiste parte do antigo “coronelismo” que individualmente tomam rumos e indicam caminhos que não são do interesse coletivo. A onda de corte de patrocínios de grandes consumidores mundiais como Unilever, Coca, Starbucks, etc. somente para citar alguns reproduzem muito a indignação de nós consumidores e associados. Muitos de nós não queremos nos atritar com companheiros e é comum nos silenciarmos quando uma injustiça acontece. Este comportamento também acontece no cenário político nacional e tem respingado fortemente nas entidades de classe onde se encontra diretores do “alto clero” que se perpetuam e impedem o desenvolvimento das novas lideranças. Desta forma, as mudanças que o mundo vive hoje, demorará ainda um pouco mais a se instaurar nas entidades de classe;

Quem vai sobreviver na hotelaria depois da pandemia?

Aqueles que mais pacientes e perseverantes forem. Estudar e definir resoluções diariamente e repensarem o ontem para tentar acertar no amanhã. Este vencerá, pois irá acreditar no seu negócio sempre. Se havia luz no fim do túnel antes da pandemia, então haverá no novo normal. As pessoas aos poucos vão se ajudando, no entanto, não sobreviverá aquele que perder a paciência, fugir os princípios básicos do bom relacionamento, do respeito ao próximo e na crença das pessoas que o cercam. Geralmente não sobrevive aquele que desiste a um passo da retomada de seus negócios. 80% dos vencedores que pensaram em desistir, venceram por evitar crer que não daria certo. “Se for para desistir, desista de ser fraco”;

Com tanta automação, legislação, comissão e radicalização, o “NOVO NORMAL” vai acabar com a cortesia e com a hospitalidade ou vamos descobrir um jeito de conviver com tantos botões a apertar, tantos protocolos a seguir e tantos sapos a engolir sem perder a essência?

Impressionante como, crise após crise, seja econômica, social, ou de saúde, incrível como as pessoas acabam por entender que somente o ser humano é capaz de fazer a diferença para uma vida melhor. Todas estas ferramentas ganham uma forma de propor uma interação diferente. Apesar de nos engessarem fazendo acreditar que devemos ser mais sisudos, ágeis, práticos e formais, na verdade nos traz a grande oportunidade de colocar uma cordialidade que ela não traz consigo intrinsicamente. Está chegando o momento dos grandes questionamentos a tantas regulamentações, fiscalizações desumanas, abordagens brutas como das ações policiais que se vê por todo mundo, etc. O advento da informatização está chegando no auge do momento da humanização, onde todos sem distinção lutam para o abrandamento das relações interpessoais. O estresse que se apresenta advém deste engessamento, portanto, este é o momento de mantermos a essência do relacionamento coletivo, da convivência sem distinção;

Como vamos pagar as contas, se as OTAs continuarem a cobrar comissões absurdas, o aluguel de temporada seguir dando as cartas e os governos continuarem a com a carga tributária nas alturas?

 Efetivamente não vamos conseguir pagar estas contas. Os players que chegaram ao teto de impor taxas de atravessamento/intermediação estão entendendo que se seguirem um pouco mais do jeito que está, terão que assumir não só nossos inventários como também nossas contas. Falta pouco para que a judicialização destes acordos acabe responsabilizando as OTAs sobre os compromissos (despesas operacionais) de seus clientes. É humanamente impossível querer ganhar tanto em tão poco espaço de tempo. O capitalismo selvagem está com os dias contados. Nota-se movimentos fortes na Europa, Ásia e América do Norte. As minorias começaram a ter muita voz e este impacto está assustando os “outrora manda chuvas do passado”, seja ela de máquinas ou de serviços. Haverá um encontro de interesses em que ambos os lados formarão um Conselho e este definirá o que será bom para ambos. O segredo de diminuir as diferenças sociais passa pela melhor distribuição de renda. Portanto, chegamos num nível insuportável e até neste setor a pandemia deixa seus efeitos;

Como a hotelaria vai se atualizar com o mundo, se o mundo a ignora, os turistas a ignoram e o governo não investe na busca de mais turistas e mais lugares fora do eixo tradicional que, parece, estar se esgotando?

Lentamente começou uma nova geração de pessoas que nasceram do momento de uma nova consciência ambiental, relações trabalhistas, humana e de recursos dos mais diversos. Ainda levará um pouco mais de tempo até que estes novos líderes tenham influencia e força para com nosso apoio colocarem novas ideias em vigor. Já se nota uma mudança forte no núcleo do poder político, no entanto ainda enfrentamos uma fase estarrecedora. Só que o mundo já não é mais o mesmo. Esta nova geração vem com uma visão totalmente distinta e de difícil absorção pelas gerações anteriores. Será um novo momento que depois de iniciado, começa a ganhar força e jeito. Esta será a forma de nos atualizar com o mundo que ontem nos ignorava.

Os turistas hoje recebem diagnósticos médicos de viajarem mais e mais e este hábito milenar ganhará uma força irreversível. A falta de consciência e sensibilidade dos detentores dos grandes orçamentos gera uma pobreza na atividade turística, pois não enxergam que quanto mais investirem em promoção, fomento e divulgação da atividade, mais impostos serão gerados para investirem no atendimento a comunidade;

“Novo Normal” com “Velhas Cabeças”?

Sim, por que não? Algumas delas é claro! Os “ditos jovens” (de idade ou cabeça) conseguem enxergar facilmente a vanguarda de ideias. A diferença de geração é de chocar, no entanto, estes novos jovens admiram as velhas cabeças abertas e humildes de coração. Nós os sessentões não podemos perder este momento e deixar de oferecer nossa vivencia de tudo o que já conseguimos realizar. Apoiemos então para que exerçam o momento deles;

Estudar é preciso?

Tenho como lema para minha vida: “Aprendendo a Aprender”. No inicio mandavam no mundo os “senhores da terra”, depois passaram a mandar os “senhores do capital” e agora lideram o mundo os “senhores do conhecimento”. Nunca se faz tarde para aprender um pouco mais. Tenho sede de saber, de ver, de experimentar e de participar. Inspirado pelo meu irmão Paulo idealizador dos Hotéis 10 venho alimentando a ideia de um período sabático. Soube de algumas experiencias e acreditei que serviria para mim também. Partirei muito em breve para um período de 8 meses na Europa onde aproveitarei para aprimorar o idioma inglês e vivenciar a hotelaria tradicional do velho mundo, onde considero de onde vem minha inspiração hoteleira. Sou da 1ª turma de Hotelaria do Brasil UCS quando Geraldo Castelli trouxe de Lausanne, Suíça o modelo da hotelaria tradicional, aquela de “luvas brancas”. Chega a hora de eu poder pessoalmente enriquecer meu CV, depois de 8 anos de Hilton (São Paulo, Belo Horizonte no Brasil e Caracas e Barquisimeto na Venezuela), depois de um ano no Meridien, Salvador, uma década de experiencia em hotéis de meus pais e depois de ter criado e dirigido a CHA – Cadeia de Hotéis Associados, chega o momento de aprender e conhecer esta nova experiencia. Estudar é preciso!


*José Justo é editor do boletim Front Desk de Porto Alegre, engenheiro e jornalista

 

 

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