Opinião do DIÁRIO: o mundo ainda dorme, mas é hora de sonhar

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Com mais de dois anos da pandemia do coronavírus arraigada pelos quatro cantos do mundo, quem gosta de viajar ou depende desta atividade para viver enfrenta hoje uma espécie de luto.

CONSELHO EDITORIAL DO DIÁRIO


Neste sentido, é curioso observar o comportamento desigual de pessoas e empresas diante das mesmas circunstâncias. Em comum, todos parecem seguir um ritual que atende os mesmos seis estágios de enfrentamento diante de uma grave tragédia ou situação incontornável.

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Primeiro vem a fase de negação. É quando pessoas e instituições insistem na tese de que “esta doença é passageira, vai acabar logo”.

Como isto não aconteceu, aparece a raiva e inconformismo: “Esta epidemia que não termina nunca está me prejudicando demais”.

O tempo passa, e agora é a vez da barganha: “Já que a epidemia não acaba, dá pelo menos para contornar o problema adotando restrições e devidos cuidados”.

Mas a situação se estende por períodos mais longos, e aí surge a quarta fase: a depressão somada à sensação de impotência, como se tivesse atingido o fundo do poço.

Até que chega ao último estágio, que é a aceitação. E com ela, enfim, é hora de buscar alternativas e novos caminhos.

Nem todos estão no mesmo estágio. Alguns setores ainda agem como se a epidemia sequer existisse. Outros falam em retomada como se a situação fosse como um interruptor, que liga e desliga a bel prazer.

Os empresários que dão murro em ponta de faca contam com a cumplicidade de boa parcela de consumidores. Apesar dos evidentes riscos de contaminação, impera uma dose de impaciência difícil de contornar. Afinal, o tempo passa, e as pessoas se desesperam ao perceber que não vão conseguir congelar suas vidas enquanto a doença não desaparece.

Muitos negócios penduraram as chuteiras e fecharam suas portas. Há os que lutam para se manter vivos. Mas os mais evoluídos já entenderam que o mundo mudou, e que nada será como antes no setor, e arregaçaram as mangas em busca de uma solução.

O viajante consciente, felizmente a grande maioria, não quer saber de comprometer sua saúde. Por isto, mesmo a contragosto, adia planos de lazer. Foge das multidões, aglomerações e ambientes fechados, pois sabe que são altamente suscetíveis à contaminação.

Claro que o problema é maior do lado de quem depende financeiramente de viagens, hospedagens, alimentação e turismo. Não dá para manter o negócio dormente enquanto a epidemia não vai embora. Fica difícil aceitar a situação, pois a paralisação pesa no bolso.

O que pode ser feito então?

O primeiro passo, como alguns setores pioneiros já perceberam, é entender que a palavra “retomada” soa como paliativo, pois já nasce com vida curta. O que está em jogo é a completa reinvenção das viagens. É simples assim: novos tempos, novos hábitos. Daqui para a frente, nenhum consumidor vai se comportar como antes.

Ninguém vai se submeter a situações que promovam o risco sanitário. É preciso aceitar que o coronavírus deixa sequelas de comportamento individual e coletivo que provavelmente nunca mais serão apagadas.

Não se trata de jogar a toalha. Ao contrário. O desafio é encontrar um meio termo entre o açodamento irresponsável e a prudência radical.

O mundo não pode nem vai se tornar refém da doença para sempre. Por outro lado, não é possível viver a fantasia do negacionismo. Não dá mais para ignorar a necessidade de implantar mudanças corajosas em viagens. Se não se consegue eliminar, pelo menos é possível minimizar ou neutralizar o perigo. Muitos setores já entenderam bem isto e adotaram medidas corretivas, como a hotelaria e as companhias aéreas.

O mundo não pode nem vai se tornar refém da doença para sempre. Por outro lado, não é possível viver a fantasia do negacionismo. Não dá mais para ignorar a necessidade de implantar mudanças corajosas em viagens

Sabemos que das crises nascem as oportunidades. Por isto, este é o momento para repensar a cadeia de valor de viagens. Para esta missão não falta gente preparada, inteligente e competente. Nada de cruzar os braços e esperar para ver como as coisas ficam.

Com coragem e desprendimento, no momento que o universo internacional de viagens está temporariamente anestesiado, é hora de avaliar o que deu errado e certo no Brasil. É tempo de planejar, estudar as melhores referências e caminhos, e se preparar para uma nova etapa que cedo ou tarde chegará com todo o vigor.

Enquanto o mundo dorme, é hora de sonhar.

 

 

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  1. Parabéns pela opinião, muito lúcida, coerente e realista. E também inspiradora.

    Que mais colegas e empresas de nosso setor consigam compreender que a vida e a sobrevivência mudaram com a pandemia, e que nada poderá ser como antes, mesmo com os avanços na vacinação. E que também, por isso mesmo, precisaremos realmente nos reinventar, como sugerido pelos missivistas.

    O problema, para muitos, será exatamente esse, o de abrir mão de rotinas mentais e de estruturas de trabalho arraigadas em modelos anteriores e por isso agora anacrônicos. E cuja busca desenfreada pelo lucro não raras vezes desprezava valores básicos, tanto do ponto de vista profissional quanto social e ético. E até humanitário, por que não dizer.

    Uma vez rompidas essas amarras comportamentais e aberta a possibilidade e o desejo de transformação, vem o segundo obstáculo, na forma das seguintes questões: como mudar, o que mudar e como implementar as mudanças?

    Na minha humilde opinião, e que vai novamente ao encontro daquela dos editores, o primeiro passo seria maximizar medidas de priorização e aprimoramento da segurança e do bem-estar não apenas do cliente, mas de todos os envolvidos na cadeia produtiva do turismo. E com a orientação ativa, didática e estruturante dos diversos órgãos governamentais e de fomento ao turismo nessa tarefa – sem negacionismo ou tergiversação.

    Ou seja, aproveitar sim a oportunidade propiciada pela crise em fortalecer a atuação e a imagem do turismo como promotor da saúde coletiva, da segurança sanitária e da ética, dentre outros tantos benefícios dessa “indústria” tão cara a nós, seus promotores, quanto à própria sociedade.

    Sonho como e com os autores…

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