A crise provocada pela pandemia de coronavírus impactou profundamente o turismo mundial e inaugurou uma realidade inédita nos mercados de modo geral. Foram poucos os destinos que conseguiram se preparar para minimizar os prejuízos. A ilha holandesa Curaçao, localizada no Caribe e famosa pelas praias paradisíacas, foi uma e já recebe turistas internacionais com todos os protocolos de segurança sanitária necessários.
REDAÇÃO E EDIÇÃO DO DT
Para entender como foi realizado esse trabalho, quais estratégias de ação e protocolos de segurança foram implementados na rotina de Curaçao e como está sendo retomada do turismo, o DIÁRIO entrevistou Paul Pennicook, CEO do Curaçao Tourist Board.
Veja também as mais lidas do DT
Paul ressalta que “Curaçao foi capaz de continuar com os negócios de forma segura, categorizando os mercados como de baixo, médio e alto risco e definindo requisitos para cada categoria”. Curaçao reabriu as portas para receber turistas estrangeiros no dia 1º de julho e registrou mais de 17 mil visitantes entre julho e agosto, número celebrado pelo trade local.
“Curaçao oferece um produto incrível com a combinação de uma arquitetura e sensação europeias, sabores latino-americanos e caribenhos na gastronomia e na cultura, além de mais de 35 praias espetaculares, tudo o que torna este produto difícil de ser esquecido”, destaca Pennicook.
Graduado em Administração de Hotéis pela Cornell University, o jamaicano Pennicook tem experiência no setor de hospitalidade, ocupando cargos executivos seniores nos setores público e privado na América do Norte, Europa e Caribe. Foi por duas vezes diretor de Turismo da Jamaica e executivo de empreendimentos icônicos como SuperClubs e Sandals Resorts. Desde outubro de 2018, assumiu a direção da Fundação de Desenvolvimento Turístico de Curaçao. A seguir, a entrevista completa:
DIÁRIO – Como foi o impacto da COVID-19 na ilha nos três primeiros meses e como está o cenário atualmente? Controlado? Tiveram lockdown?
Paul Pennicook: Como muitos outros países ao redor do globo, Curaçao foi afetada pelo COVID-19. Os desenvolvimentos em conexão com esta pandemia levaram nossa indústria de turismo a uma parada total. Tivemos nosso primeiro caso positivo em março. Durante as semanas que se seguiram, tivemos alguns casos adicionais, consequentemente o Governo de Curaçao aplicou algumas medidas nos esforços para manter a situação sob controle.
Um lockdown também foi uma dessas medidas. O lockdown (bloqueio total) foi suspenso no início de maio. Em preparação para a reabertura gradual de nossas fronteiras em 1º de julho, o Escritório de Turismo de Curaçao (CTB), em estreita colaboração com o Ministério da Saúde Pública, Meio Ambiente e Natureza, o Ministério do Desenvolvimento Econômico, a Autoridade de Aviação Civil de Curaçao e o setor privado implementou um novo conjunto de protocolos para a indústria de hospitalidade. Estes protocolos incluem práticas de higiene, procedimentos de saneamento aprimorados e regras de distanciamento físico. A situação continua sob controle. O Governo de Curaçao e as autoridades de saúde monitoram a situação diariamente para garantir a segurança da comunidade local e de nossos visitantes.
DIÁRIO – O governo está atuando com a iniciativa privada em políticas de combate ao coronavirus? Conte-nos algunas medidas implementadas.
Paul Pennicook: Curaçao começou a reabrir suas fronteiras para selecionar mercados internacionais a partir de meados de junho e início de julho. Estamos ansiosos para voltar a uma época em que os viajantes internacionais se esbarravam com os locais, mas adotamos uma abordagem cautelosa e cuidadosa para reabrir. Desde o início, Curaçao optou por adiar a ação imediata até que pudéssemos sustentar com mais confiança a saúde da comunidade e proteger visitantes e viajantes. Nos últimos meses, nosso governo seguiu as diretrizes da OMS e consultou um painel de médicos conceituados, tanto no mercado interno quanto na Holanda, para definir meticulosamente novos protocolos de viagem e determinar a estratégia de reabertura em fases da ilha.
Tomamos a decisão de reabrir lentamente a indústria do turismo de Curaçao depois de levar em conta uma série de fatores, incluindo casos atuais, transporte aéreo, impacto na economia local, etc. Nossa série de protocolos chamada “A Dushi Stay, the Healthy Way” tem como objetivo informar tanto a indústria do turismo em Curaçao, quanto os visitantes sobre o que fazer e não fazer. Ele enfatiza o papel dos viajantes em seguir os protocolos aprimorados de Curaçao. Em última análise, garantir a saúde e a segurança de nossos residentes e viajantes continua a ser nossa principal prioridade. Nossa abordagem metódica e cautelosa provou ser bem-sucedida até o momento, pois conseguimos manter um baixo número de casos da Covid após a reabertura, enquanto recebemos mais de 9.000 visitantes europeus no mês de agosto.
Além disso, o Governo de Curaçao em conjunto com o Ministério da Saúde Pública desenvolveu e desenhou um modelo, com diferentes fases e onde cada fase tem seus requisitos e iniciativas para poder combater o coronavírus.
DIÁRIO – Como Curaçao está posicionada entre as outras ilhas do Caribe em termos de número de casos positivos? Existe alguma troca de informações ou iniciativas?
Paul Pennicook: Os ministros da Saúde Pública dos quatro países do Reino dos Países Baixos (Holanda, Curaçao, Aruba e Saint Maarten) participam de um chamada “Consulta das Quatro Partes para avaliar a situação da Covid-19” e tomar decisões conjuntas relacionadas a questões relativas a todos os países do Reino Holandês.
Não existe um sistema formal na região para comparar os números como tal; no entanto, cerca de trinta e três países da região fazem parte da Organização de Turismo do Caribe (CTO), à qual reportam seus procedimentos, protocolos e atualizações de notícias. A CTO, por sua vez, compartilha as informações com todos os membros.
DIÁRIO – Que estratégias o Turismo de Curaçao implementou para preparar a cadeia de turismo local para a reabertura? Existem novos produtos ou atrações?
Paul Pennicook: O Escritório de Turismo de Curaçao (CTB) tem trabalhado em estreita colaboração com o Ministério da Saúde Pública, Meio Ambiente e Natureza, o Ministério do Desenvolvimento Econômico, a Autoridade de Aviação Civil de Curaçao e agências governamentais para garantir uma reabertura segura. Diretrizes também foram criadas e implementadas na indústria do turismo para evitar a disseminação do COVID-19.
Para garantir uma reabertura segura, as seguintes táticas foram executadas:
Antes de reabrirmos aos nacionais dos oito primeiros países, enviamos um comunicado à imprensa de nosso principal mercado emissor, Holanda e Alemanha, para informá-los que estávamos abertos novamente para negócios e quais os requisitos existentes para poderem viajar até a ilha. E para os demais mercados emissores (que ainda não estavam abertos), o comunicado à imprensa foi compartilhado com as agências de relações públicas para quando elas recebessem perguntas.
Além disso, desenvolvemos um infomercial em todos os idiomas dos nossos principais mercados emissores, onde indicava todas as etapas necessárias para que o viajante pudesse realizar, desde a sua casa até a sua estadia no hotel. Isso foi compartilhado com os operadores turísticos, o setor privado na ilha e, também, com os consumidores através de comunicados eletrônicos, newsletters e impulsionamento nas redes sociais. Juntamente com o departamento de saúde do governo e o desenvolvimento econômico, foram desenvolvidas diretrizes / protocolos de hospitalidade, transporte e alimentos e bebidas para serem usadas como uma diretriz pelos parceiros de hospitalidade e turismo. Outra forma de prepararmos a indústria local para a abertura foi realizando sessões para parceiros que informaram a todos sobre as orientações, protocolos e procedimentos (acima mencionados) para o turismo e hotelaria.
DIÁRIO – Sabemos que Curaçao reabriu-se ao turismo internacional em 1º de julho, quais são as análises dos dois primeiros meses? Quantos turistas entraram na ilha neste período?
Paul Pennicook: Tivemos mais de 17 mil chegadas em julho e agosto juntos. (17.422 visitantes permanentes). Em agosto, houve um aumento na proporção de visitantes hospedados em resorts. Outro indicador interessante é a média de pernoites do visitante europeu. Em agosto de 2020, a média de pernoites foi de 11,7, enquanto no ano passado, no mesmo mês, registramos em média 9,9 pernoites por visitante europeu. Este é um aumento de 18% na média de pernoites na ilha. Considerando que estamos abertos para apenas um número limitado de países da Europa e da região do Caribe, foi bom ver mais de 17 mil visitantes chegando nos primeiros dois meses que começamos a aceitar visitantes novamente.
DIÁRIO – Quais companhias aéreas estão voando para Curaçao? E quais nacionalidades de turistas podem entrar na ilha?
Paul Pennicook: Turistas de um número seleto de países na Europa Ocidental e na região do Caribe estão autorizados a viajar para Curaçao. Atualmente, somente a KLM e a TUI estão voando para fora da Europa e da região do Caribe a Divi Divi Air e a EZ Air.
DIÁRIO – Que atividades vocês estão fazendo (ou que estão na agenda) para apresentar Curaçao como um destino seguro, mesmo sem uma vacina confirmada?
Paul Pennicook: Nosso destino tem a sorte de estar numa localização geográfica onde nosso clima tropical permite que façamos a maioria das atividades ao ar livre, dando-nos, assim, o amplo espaço de que precisamos para o distanciamento social.
Temos algumas medidas na ilha: para conseguir manter baixos os números da COVID-19, o governo introduziu desde março o distanciamento social de dois metros e uso de uma máscara facial, caso não seja possível praticar o distanciamento social. Além disso, grandes grupos com mais de cinquenta pessoas juntas em espaços públicos também não são permitidos.
Curaçao foi capaz de continuar com os negócios de forma segura, categorizando os mercados como de baixo, médio e alto risco e definindo requisitos para cada categoria. Os países na categoria de baixo risco devem preencher um formulário de localização de passageiros 48 horas antes de viajar para Curaçao e preencher o cartão de imigração digital. Os países da categoria de risco médio devem realizar um teste de PCR do nariz e da boca (amostra de gargarejo não é permitida), além dos dois requisitos da categoria de baixo risco. Nos países de alto risco, para qualquer passageiro que viaja para Curaçao, existe uma quarentena obrigatória de 14 dias para eles.