Pessoas LGBTI+ muito além do arco-íris

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Ser branco, homem e hétero em um país machista, homofóbico e preconceituoso tem vantagens imperceptíveis que vamos ganhando ao correr do tempo e da vida sem nos darmos conta.

por Paulo Atzingen*


O mesmo não acontece com pessoas LGBTI+ que precisam hora a hora, minuto a minuto, dia após dia se defenderem de agressões,  se esquivarem de ofensas e xingamentos e mesmo assim terem a força e a hombridade (eita palavra macha!) de manter a cabeça erguida e assumirem sua opção sexual, ou de forma mais lata; seu projeto de vida fora da caixinha.

Participei do evento de sensibilização no Dia Internacional contra a LGBTfobia (no último dia 17) na sede da Accor Américas, em São Paulo e me sensibilizei pelas histórias e vivências de Marcela Tiboni, mãe lésbica e escritora e Gui Teixeira, uma pessoa andrógena, nem homem, nem mulher que carregou até os 19 anos a dúvida cruel: To be or not to be, that’s the question…

São pessoas que embora demonstrem bom humor e estarem bem resolvidas internamente, continuam literalmente sofrendo na pele discriminações impostas pelas estruturas sociais e históricas de nosso país (leia-se igreja, estado, polícia, família). O filho de Marcela pede para que o avô a represente na escola na reunião de família porque ele entende a relação de família como algo muito maior. Gui precisa fingir que não escutou uma palavra grosseira na rua só porque tem cabelos longos e ruivos e barba por fazer…

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Quantos estereótipos,  quanto preconceito velado nos olhares, nas palavras, nas piadinhas, nas fakenews.

Ao ouvir o relato constrangedor que Bruno Chateaubriand, um dos convidados, passou com seu companheiro em um restaurante no Rio de Janeiro constatei que assumir a homossexualidade publicamente no Brasil é ainda um ato de coragem e “machesa”.  Ouvir as análises apresentadas por Raphael Pagotto, o mediador, tornou a tarde na sede da Accor ainda mais interessante.

No  Brasil, apesar de ser reconhecida a união civil entre pessoas do mesmo sexo, ainda há um alto número de casos de crimes motivados pela homofobia, sendo considerado um dos países mais homofóbicos do mundo. Não precisamos ir longe. Vá a um estádio de futebol, ou até o boteco na esquina.

Antonietta Varlese, SVP de Comunicação e Sustentabilidade da Accor Américas está há anos defendendo a bandeira LGBTI+. Sua rede hoteleira já possui um manual com os conceitos básicos da Diversidade e Inclusão.

Rapha Pagotto, Gui Teixeira, Marcela Tiboni e Bruno Chateaubriand (Crédito: Assessoria de Imprensa – divulgação)

“Acolher as pessoas, respeitar as suas diferenças e reconhecer que o contato com elas nos enriquece. Tudo isso faz parte do negócio da Accor. Logo, devemos promover a Equidade em todos os aspectos”, diz a apresentação do manual.

Antonietta Varlese, SVP de Comunicação e Sustentabilidade da Accor Américas para as marcas Premium, Midscale & Economy (Crédito: Assessoria de Imprensa – divulgação)

Afeto e amor

Por acreditar na arte e na poesia e viver no limiar da marginalidade – já que a arte e a poesia chocavam da mesma forma e até bem pouco tempo os pais que descobriam ter um filho gay ou filha lésbica -, por crer na arte e na poesia repito, pude me aproximar mais de pessoas LGBTI+ e ser aceito por elas, mesmo sendo branco e hétero.

O tempo e palavras que gastei defendendo em meus textos e reportagens o oprimido social (o pobre, o mendigo, a prostituta, o lavrador, o desempregado, a criança abandonada) até então não havia incluído neles o público LGBTI+. Até bem pouco tempo associava esse público, essas pessoas, em sua maioria, a gente que havia optado pelo caminho alternativo apenas por questões de pele, ou para ir direto ao ponto, por sexo.  Porém a ficha caiu. As mesmas necessidades de aceitação, carinho e atenção que todos nós precisamos uma pessoa LGBTI+ precisa. A mesma carência de afeto, companhia e amor que todos nós precisamos e buscamos uma pessoa LGBTI+ precisa e busca.

Ver e conhecer os dramas familiares que algum deles (as) (são milhares, são milhões) experimentam e a força brutal como são tratados (as), nos faz mudar o foco. A luta por direitos e respeito é legítima!

Independente dos estereótipos, dogmas e estruturas impostas, tempos disruptivos requerem novas formas de ver o mundo, além do clichê do arco íris e dos discursos vazios. Vejo no segmento LGBTI+ mais que uma força econômica para o turismo ou hotelaria. Com exemplos como esse da Accor e com a mudança da chave na cabeça das pessoas, vejo uma nova era mais inclusiva, participativa e solidária.


*Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO

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