por Andrea Nakane
Elas já estão prontas para avançarem e coroarem o mês de junho com todo o seu vigor e dinamismo incomparável.
Sim… estamos falando das tão esperadas Festas Juninas, que representam o segundo maior evento popular do país, só atrás do Carnaval. Pelos quatro cantos do Brasil, elas acontecem como homenagens aos santos : Santo Antonio, São João e São Pedro, reunindo muita música, comidinhas, bebidas quentes, cenografias coloridas e muita diversão.
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Em cada região, uma particularidade, um traço folclórico se evidencia, o que demonstra a riqueza multicultural que temos em nosso solo.
Porém, é preciso atentar-se para que os festejos juninos não percam – realmente – sua verdadeira identidade.
Sobretudo, na região sudeste, no eixo RIO-SP- temos presenciado nos últimos três anos, uma intensa alteração não só no simbolismos, mas sobretudo nas tradições oriundas desse período.
É uma tal “gourmetização” dos alimentos, que em muitos casos mediante a tantas desconstruções dos alimentos, não sabemos nem mais o gosto singelo e tão representativo, por exemplo, de um simples, mas saboroso curau de milho.
O “Buraco quente” – típico sanduiche de pão com carne desfiada ao molho – ganha ares sofisticado ao ser servido com pão de 7 grãos, com recheio de costela marinada com ervas finas de Provence da raça Angus, o que possibilita que os valores cobrados subam muito mais alto que os balões cenográficos espalhados no ambiente festivo.
Essa tal de gourmetização, um movimento de transformar, em sua maioria das vezes, algo simples em algo, digamos mais sofisticado, não pode avançar pela pureza e autenticidade das nossas festas juninas, que acabam por perder suas referências.
Nas caixas de som, onde estão as músicas embaladas pelos trios de forró? Onde estão as composições encantadoras que todos – em nossa memória afetiva -guardam com carinho?
Parece que deu lugar ao universo dos DJs, alguns ainda teimam até a tocar MPB e sertanejo, mas a maioria parte para a música eletrônica e funk carioca.
Os ingressos para as quermesses, agora são vendidos em lotes, e as mesmas mais parecem baladas que avançam a madrugada, com uísque e energéticos, no lugar do quentão e outras bebidas típicas.
As quadrilhas agora são composições coreográficas, que aceitam de tudo, até a música febre do momento, um resgate da cultura política italiana, Bella Ciao… e enquanto isso… a velha e boa “pula fogueira” fica excluída.. Pode isso, gente?
Em um evento, é importante, atender a diversos públicos, sem dúvida, mas descaracterizar algo tão bonito e representativo do povo brasileiro, é mexer em uma seara nobre e que deve ser respeitada.
Transformações e adaptações são saudáveis, mas não a um ponto de total desconfiguração histórica e cultural das nossas tradições.
Não vamos deixar que as festas juninas se transformem em baladas temáticas, sem eira, nem beira.
Vamos valorizar nossa cultura, nosso legado, afinal, como disse Nildo Lage: “ A cultura de um povo é o seu maior patrimônio. Preservá-la é resgatar a história, perpetuar valores, é permitir que as novas gerações não vivam sob as trevas do anonimato.”
Que venham as festas juninas, mas as autênticas… pois as outras temos todos os outros meses do ano para prestigiar!
Anarrié!
*Andrea Nakane é diretora da empresa de Eventos Mestres da Hospitalidade