Por que a uva RIESLING é a melhor para a elaboração de vinhos brancos?

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por Werner Schumacher*


Quando falamos em Riesling, falamos o que primeiro nos vem a mente, da Alemanha, principal produtor dessa variedade no mundo.

Não sei, no entanto, ou não lembro, quem disse que a uva Riesling não se adaptou no Brasil. Não encontrei igual algum estudo a respeito, mas a verdade é que aqui só temos o Riesling Itálico, que dá um bom vinho, mas nada tem a ver com a casta alemã.

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Em artigo recente, publicado em Financial Times, a excelente escritora sobre vinhos, Jancis Robinson afirmou:

“Os vinhos que produz duram e continuam a evoluir de forma interessante para sempre”.

A enóloga faz um apelo: abandone seus preconceitos (Crédito: Jancis Robinson.com)

Ela faz um apelo aos fóbicos da Riesling e pede para abandonar seus preconceitos, enumerando as seguintes razões:

– “Os vinhos que produz expressam precisamente onde foram cultivados (como o Pinot Noir)”, é fiel ao ‘terroir’ e expressará tais características;

– “Eles duram e continuam a evoluir de forma interessante para sempre (tanto quanto o Cabernet Sauvignon)”, pode evoluir por muitos anos e aqui falamos em 40 ou mais anos;

– “Eles são extremamente refrescantes e relativamente baixos de álcool”, muito importante ao se considerar o consumo moderado de vinho;

– “E combinam perfeitamente com a comida, geralmente melhor que o Borgonha branco e outros Chardonnays”, harmoniza com aspargos, pratos orientaise picantes e até com rabanete, e

– “Hoje em dia, a maior parte do Riesling é seco, não doce, e o Riesling seco alemão é um dos tesouros subestimados do mundo do vinho”. Acabou a era do vinho suave alemão em garrafa azul.

Ela faz ainda uma bela comparação entre a safra de 2018 e 2019, a primeira, que teve 90 dias de verão, produziu vinhos mais opulentos e a segunda vinhos mais elegantes, teve praticamente a metade de dias de verão, ou seja, 50 dias. Alguns produtores que Robinson entrevistou estão querendo apertar o botão STOP para a mudança climática.

Nas encostas íngremes do vale do rio Mosel se pratica a verdadeira viticultura de montanha – heroica e extrema – como se pode ver na encosta chamada Calmon, na cidade de Bremm, com um declive de 63º, que não pode ser expressada em %, pois isso representaria mais do que 100% uma vez que este é o percentual que expressa 45º. O mínimo exigido pela organização internacional de vinhos de montanha, a CERVIM, são 30%.

Na grande parte dos vinhedos nas encostas, o trabalho é todo manual e muito árduo, como se pode ver na foto abaixo:

Foto: gentileza Vinícola Ulrich Langguth

 

Para os trabalhadores subirem e baixarem das encostas, assim como as caixas vazias e aquelas com a vindima, vale-se de um monotrilho.

Vinhedos que utilizam a pulverização de defensivos agrícola podem se valer do uso de helicópteros.

A Alemanha adota um sistema de denominação de origem similar à região francesa da Borgonha, o vinhedo Goldtröpfchen, que é um Gran Cru, onde a vinícola tem uma pequena parcela e daqui saem as uvas para o excelente vinho Vinho Riesling Spätlease* GG**

*Spätlese é também classificação dos vinhos alemães, só que neste caso é oficial, pois faz parte da Lei do Vinho e se refere as uvas colhidas tardiamente, não necessariamente para produzir um vinho doce, como aqueles que conhecemos, nomeadamente, por Latest Harvest, mas também é muito utilizada hoje para a elaboração de vinhos secos, como este que estamos apresentando para vocês.

Em função disto, a lei alemã prevê apenas um teor mínimo de açúcar, que na Alemanha é chamado de peso do mosto e o teor de açúcar é medido pelo grau Oeschle, não tendo mais a data da vindima algum significado, requer apenas que as uvas estejam bem maduras.

**Grosses Gewächs, ou simplesmente GG, é a designação usada para os vinhos secos do mais alto nível, no modelo de classificação VDP.
Vinhos VDP.Die Prädikatsweingüter www.vdp.de

A designação não faz parte oficial da lei alemã do vinho, mas foi concebida por um grupo de produtores top no início dos anos 2000 e veio sendo refinada com o passar dos anos, como parte de um plano para identificar os melhores locais de vinificação, por isso a comparam aos “Gran Cru” da Borgonha, estes vinhos levam o nome da vinha e não do lugar.

Para obter o grau GG, os rendimentos não devem exceder 50 hectolitros por hectare, e as uvas devem ser fisiologicamente, totalmente maduras e também colhidas à mão.

Embora a mudança climática tenha ajudado bastante o cultivo da videira na Alemanha, a geada continua sendo uma grande ameaça e o mês de maio é aquele dos Santos da Geada no país.

Vinhedo alemão – https://www.franz-keller.de/en/winery/vineyards/

Santos da Geada

Os Santos da Geada são: Pankratius (12 de maio), Servatius (13 de maio), Bonifatius (14 de maio) e Sophie a “Dama Fria” (15 de maio), as datas variam por terem sido criados no tempo do calendário Juliano, ainda usado pelos cristãos Ortodoxos. Santa Sophia de Roma, ou a ‘Dama Fria’ foi uma mártir cristã do início do século IV que morreu por volta de 304 durante a perseguição Diocleciana aos cristãos. Ela foi enterrada no cemitério de Santos Górdio e Epimetaco. Após o dia dessa Santa, não há mais praticamente risco de geadas.


Por Werner Schumacher na Santa Lúcia do Vale dos Vinhedos aos 6 dias de outubro de 2020.


*Werner Schumacher estudou Economia na PUC/RS e é um dos responsáveis pela profissionalização da vitivinicultura no Brasil.


 

 

 

 

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