Por Werner Schumacher*
Em primeiro lugar, nunca me dei ao luxo de pagar Eu 200 por qualquer garrafa de vinho, espumante ou outra bebida, que me devem dar prazer e não dor de cabeça financeira.
Depois do preço, levo em consideração a uva e o seu “terroir”, neste caso a uva Ribolla Gialla cultivada no sistema de espaldeira, com poda Guyot e numa densidade de 4 a 9 mil plantas por ha.
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O rendimento é de 2.400 l/há, não fala em quilos, creio 4.000 kg considerando um rendimento em mosto de 60%, pois o produtor é contra o uso de prensas pneumáticas, justo o equipamento que mais carinhosamente trata a uva.
Se o meu cálculo está correto e se a filosofia de trabalho é a mesma, colhe-se 1 kg por planta na densidade de 4 mil pés 0,44 kg na densidade de 9 mil pés. Alta densidade vem sendo contestada hoje em dia.
O clima continental parece ser perfeito, com uma temperatura média anual de 13ºC, pra que serve isso não sei, pois a uva brota na primavera e é vindimada no verão, máximo início do outono.
As videiras estão situadas em colinas que as protegem de ventos frios, como o Bora, com notável “excursão” térmica, não perguntem o que é essa tal excursão, tradução do sommelier da importadora. O solo é de marga calcária da era terciária (Eoceno).
Diante dessas excelentes condições clima, solo, etc. o cultivo permite a não utilização de insumos químicos, portanto, pelo método natural, não sei se orgânico, biodinâmico ou o que, mas indica que o custo de produção é mais baixo que pelo método dito convencional.
A cepa Ribolla Gialla não é uma das mais cultivadas na Itália, em torno de 500 ha são cultivados com essa variedade. Uma das poucas referências a essa uva vem do século 14, quando o poeta italiano Giovanni Boccaccio listou a indulgência com os vinhos Ribolla como um dos pecados da gula em sua diatribe sobre o assunto. Depois da filoxera, os produtores plantaram outras variedades. Provei um vinho dessa casta em Veneza e lá cultivado e produzido, um vinho bastante aromático e agradável.
Não sendo uma Riesling ou Chardonnay, não deve custar muito o kg dessa uva.
Quanto a elaboração, é feito o desengace da uva (retirada do cabinho), provavelmente, em função dos 5 meses de maceração com as cascas em ânforas de terracota (barro, argila). Inegável redução de investimento pelo uso de barro e não inox. Não usa controle de temperatura durante a fermentação, menos custo igualmente.
Qual será a temperatura média da região no período de fermentação?
O amadurecimento se dá em tonéis VELHOS de carvalho da Eslovênia por 6 anos, menor custo com a madeira e sim um custo financeiro apreciável.
A estimativa de guarda desse vinho é de 20 anos, mas vem fechado com tampa rosca, não creio haja estudos que atestem a qualidade dessa tampa para vinhos de guarda.
Por fim, trata-se de um vinho IGT, ou seja, indicação geográfica típica, a base das indicações protegidas, não é sequer um DOC e muito menos um DOCG.
Na região Friuli-Venezia-Giulia, onde se produz esse vinho, o hectare de terra pode valer entre 40 e 120 mil Euros, na região DOCG Barolo vale de 200 mil a 1.500 milhão de Euros e o DOCG Montalcino de 250 a 700 mil Euros, portanto, o retorno do investimento no Friuli é muito menor.
Portanto, com tantos custos reduzidos em relação à um vinho elaborado com uvas mais nobres e em condições climáticas menos favoráveis, mais atenção e cuidado com a videira, produção mais criteriosa, meu modesto entender, sequer o uso de uma rolha própria para vinhos de guarda, não vejo qualquer justificativa para alguém investir Eu 200,00 por uma garrafa desse vinho.
Não faço ideia do volume produzido desse vinho e a importadora, muito boa por sinal, que me perdoe, mas esse vinho foi usado apenas como exemplo para expor os critérios que considero importantes para a avaliação e compra de um vinho.